terça-feira, 31 de julho de 2007

PLANTEL E MERCADO (BENFICA)


Como se viu nas anteriores análises acerca de FC Porto e Sporting, fazer este tipo de raciocínios sobre os plantéis e movimentações de mercado, numa altura tão 'irrequieta' da temporada como é o defeso, é sempre bastante ingrato. Corremos o risco de ver o nosso artigo desactualizado no dia seguinte, ou porque foi contratado um novo reforço, ou porque houve mais uma venda, ou porque mais alguém foi dispensado, enfim... O que se segue é o ponto da situação actual relativamente ao Benfica e, como é normal, padece do mesmo risco de desactualização, embora me pareça que a maioria das situações estão mais ou menos definidas. Atentem:



Reforços:


- Cardozo: foi das primeiras contratações asseguradas pelos encarnados, sendo simultaneamente a mais sonante e mais custosa. Vindo dos argentinos do Newell's Old Boys, o internacional paraguaio é um ponta-de-lança com cartel na América do Sul. Senhor de uma impressionante estrutura atlética, faz do seu potente pé esquerdo a sua principal arma e possui ainda um jogo de cabeça de impôr respeito ao mais alto dos centrais. Por 80% do seu passe, Luís Filipe Vieira resolveu pagar 9,15 milhões de euros (!), tranformando-se o jogador desde logo na segunda mais cara contratação da história do clube. Pela minha parte, digo já que acho um exagero, mas se fôr o tal avançado dos 20 golos por época, pode ser que justifique o dinheiro investido. O que se sabe para já é que tem muita responsabilidade em cima dos ombros.


- Bergessio: avançado argentino de 23 anos, chega do Racing Avellaneda e custou 1,5 milhões de euros. Completamente desconhecido para mim, pelas primeiras indicações dadas nos treinos e jogos de preparação, diz-se ter boa capacidade técnica e ser rápido e combativo, além de possuir um louvável sentido de baliza. É possível que venha a surpreender, mas entra directamente para o grupo das incógnitas.


- Fábio Coentrão: jovem internacional sub-20 português, foi adquirido ao Rio Ave por um milhão de euros, num negócio que considero muito bom na óptica benfiquista, tendo em conta a relação qualidade/custo e a sua margem de progressão. Tem um talento de drible quase inesgotável e, se evidenciar maturidade mental, pode vir a ser um dos melhores jogadores portugueses. No entanto, Fernando Santos já afirmou que o 4-4-2 será o sistema que utilizará em primeira instância, facto que poderá dificultar a afirmação de Coentrão, mais indicado para actuar nas alas. Precisa de oportunidades e de saber agarrá-las.


- Zoro: defesa marfinense que pode actuar no centro ou na direita, chega do Messina a custo zero. Muito forte fisicamente e sem grande capacidade técnica, talvez seja mais indicado utilizá-lo como central, já que a lateral nunca exibirá grande propensão ofensiva na linha. Atendendo a que nada custou ao Benfica, considero uma boa aposta, embora tenha de trabalhar muito para agarrar um lugar no onze.


- Manuel Fernandes: este sim, um reforço de peso, talvez o melhor de todas as equipas portuguesas neste defeso. Sou um apreciador assumido do futebol tecnicista, pensado e maduro deste jovem internacional português. É rapazinho para pautar todo o jogo da sua equipa com impressionante mestria e classe. É um médio na linha de Tiago, Maniche ou Pedro Mendes e será titular indiscutível da equipa. Regressa da sua passagem pelo futebol inglês onde esteve por empréstimo. O Everton não se mostrou disponível para cobrir as exigências financeiras do Benfica e este agradece.


- Sretenovic: central sérvio ex-RAD Belgrado, tem apenas 22 anos e é completamente desconhecido do público português. Daí que a sua qualidade para integrar o plantel encarnado não seja ainda um dado adquirido. Com certeza que os responsáveis pela sua contratação viram nele potencialidades satisfatórias e, como chega a custo zero, é uma aposta de risco quase nulo. Destina-se a preencher o plantel. No entanto, no lugar dele poderia ter-se colocado um qualquer jovem português, como por exemplo José Fonte, entretanto emprestado ao Crystal Palace. Opções...


- Butt: mais um que chega à Luz a custo zero. É um guarda-redes internacional alemão, tem 33 anos e provem do Bayer Leverkusen. Sendo um dos bons 'keepers' do futebol germânico, é mais conhecido pelos golos que tem marcado do que pelas suas defesas, fruto da sua especialidade em marcar livres e penalties. Com o afastamento prolongado de Moreira, lutará com Quim pela titularidade. No caso de levar a melhor sobre o internacional luso, será que se afirmará como um dos marcadores dos lances de bola parada, agora que Simão saiu do clube? Não me parece... Seria demasiado extravagante para o futebol português! Assim de repente lembro-me apenas de Miroslav Zidniak (U.Leiria).


- Di Maria: um negócio diferente do habitual, já que incluiu ainda Andrés Diaz. O Benfica pagou 6 milhões de euros por 80% do passe de Di Maria + 50% do passe de Diaz. Di Maria (ex-Rosário Central) tem 19 anos e sagrou-se recentemente campeão do mundo de sub-20 pela Argentina, sendo um dos jogadores mais destacados do torneio. É um puro número 10 e é possuidor de uma magnífica qualidade técnica mas, o que disse para o portista Leandro Lima, aplica-se agora na perfeição a Di Maria: precisa de tempo e tranquilidade para trabalhar. À partida, são dois jogadores similares e estou ansioso por saber quem irá brilhar com maior intensidade na liga portuguesa. Ter Rui Costa como concorrente directo não será fácil...


- Andrés Diaz: como disse, veio inserido no 'pacote' Di Maria, enviado pelo Rosário Central. Tem 24 anos e chega referenciado como um médio de transição de boa técnica e raça tipicamente sul-americana. Encontrará em Lisboa uma concorrência pesadíssima, composta por jogadores como Katsouranis, Manuel Fernandes e Nuno Assis. Segunda opção?


- Adu: depois de muita especulação, eis que foi encontrado o sucessor de Simão, na contratação que mais expectativa está a gerar nos adeptos benfiquistas. Chama-se Freddy Adu, é natural do Gana e internacional pelos EUA. É o mais jovem profissional da história do futebol mundial, tendo-se estreado na principal liga americana com apenas 14 anos! Por aqui se vê que estamos perante um médio-ofensivo de inigualáveis potencialidades. Uma vez que foi uma das estrelas mais cintilantes do recente Mundial sub-20 e que estava referenciado por diversos clubes de topo, fiquei surpreso com os baixos números do negócio: cerca de 1,5 milhões de euros. Considero um belo negócio para o Benfica, mas aconselho alguma acalmia na euforia à volta deste prodígio. Tem apenas 18 anos e, em meu entender, não terá capacidade para substituir Simão, no imediato e de forma plena. O puto é craque mas muita calma...




Saídas:


- Simão: uma perda que se afigura problemática. O Benfica esteve largos anos dependente da sua inteligência, criatividade e efectividade concretizadora. Era o jogador mais importante das 'águias' desde há várias épocas, o capitão de equipa e, indiscutivelmente, o mais amado pelos adeptos. O sucesso da equipa em 2007-08 passará muito pela capacidade com que se procederá à sua substituição no onze encarnado. O internacional português transferiu-se para o Atlético Madrid por 20 milhões de euros, acrescidos dos passes (ou preferência sobre eles, não sei bem porque a situação não foi devidamente esclarecida) de dois jogadores 'colchoneros' ainda não conhecidos. Quaresma e Simão: descubra as (muitas) diferenças.

- Miccoli: o internacional italiano foi, a seguir a Simão, o elemento mais destacado da equipa na temporada passada. Ficou no coração dos adeptos encarnados, não só pelos golos providenciais que marcou - alguns deles geniais - como também pela devoção que sempre demonstrou ao clube. Findo o período de empréstimo pela Juventus, a saída do 'pequeno bombardeiro' para o Palermo constitui uma perda muito importante para o Benfica e para o futebol português. O modo sublime como tratava a bola deixará muitas saudades. Um dos melhores jogadores que passou pela Luz nos últimos anos.

- Beto: o mal-amado dos adeptos, o 'Cristo' da Luz! Não tem categoria para jogar num clube grande e a sua notória falta de jeito virou-se contra si cada vez que Fernando Santos decidiu lançá-lo no relvado, e não foram tão poucas quanto isso. Prosseguirá a sua carreira nos suíços do Sion, longe dos assobios, espera-se.

- Karagounis: regressa ao seu país para jogar no Panathinaikos. Um médio de valor inquestionável, reconhecido no futebol internacional, mas que deixa a amarga ideia de nunca ter tido um rendimento compatível com esse estatuto. Não será a sua ausência a fazer piorar o comportamento colectivo benfiquista.

- Moretto: o mal-amado dos adeptos, o 'Cristo' da Luz! Onde é que eu já escrevi isto?! Foi um autêntico 'flop', não confirmou o bom desempenho realizado no Setúbal e agradeço ao Benfica tê-lo roubado ao FC Porto, permitido assim a vinda de Helton para o Dragão. Jogará uma temporada no AEK Atenas de José Peseiro por empréstimo.

- João Coimbra: é um jovem das escolas encarnadas que nunca revelou predicados extraordinários. É apenas um médio aceitável e evoluirá no Nacional por empréstimo, na esperança de regressar ao Benfica em 2008-09.

- Paulo Jorge: nunca se afirmou no clube e, nas poucas vezes que foi chamado a jogar, o seu desempenho foi irrelevante. O facto de o sistema estabilizado por Fernando Santos não contemplar a utilização de extremos também não o favoreceu. Málaga por empréstimo será o seu destino.

- Derlei: sai da Luz pela porta pequena em direcção a Alvalade. Nada fez de relevante vestido de encarnado, exceptuando o golo (o único ao serviço do Benfica) que marcou na última jornada e a cotovelada que deu em Grzelak, que lhe valeu a instauração de um processo sumaríssimo. O 'Ninja' que se revelou no FC Porto foi apenas uma miragem e sai sem deixar qualquer nostalgia nos adeptos.

- Pedro Correia: outro produto da formação benfiquista, este lateral-direito ainda tem boa margem para evoluir, mas não passa de um jogador banal (tipo Miguel Garcia) e dificilmente singrará de águia ao peito. Vai emprestado para o Olhanense durante uma temporada.

- Anderson: entrou em litígio com a direcção do clube e não faz parte dos planos para a nova temporada. Após uma boa primeira época ao lado de Luisão, o central diminuiu abruptamente o seu rendimento, tendo perdido predominância no seio do grupo. A lesão que sofreu e a afirmação de David Luíz fizeram-no perder a titularidade definitivamente. Fala-se do interesse de alguns emblemas brasileiros, mas o seu caso ainda espera por resolução.


Plantel actual (27 jogadores):

Quim, Moreira, Butt, Nélson, Zoro, Luisão, David Luíz, Sretenovic, Miguel Vítor, Léo, Miguelito, Petit, Romeu Ribeiro, Katsouranis, Manuel Fernandes, Nuno Assis, Andrés Diaz, Rui Costa, Di Maria, Adu, Nuno Gomes, Cardozo, Mantorras, Fábio Coentrão, Bergessio, Manú e Yu Dabao.


Notas e opiniões:

- É publico que a SAD benfiquista procura ainda no mercado um lateral-direito para talvez fechar o plantel, falando-se insistentemente no brasileiro Belletti, quanto a mim uma óptima escolha. Admitindo a entrada desse ou outro jogador para o lugar, Fernando Santos ficaria com 28 jogadores à disposição, um número claramente exagerado. Perspectivando-se o uso do mesmo sitema de jogo, refira-se que o Sporting conta apenas com 25 elementos, quantidade mais ajustada à realização de um melhor trabalho.

- Talvez esta maior quantidade se deva à vontade de apostar na prata da casa, inserindo no elenco os jovens Miguel Vítor, Romeu Ribeiro e Yu Dabao. A inserção destas promessas na equipa principal nunca poderá significar a ocupação de uma vaga, já que o risco inerente é enorme. Se o empréstimo de algum deles em Janeiro fôr o caminho, o plantel não se ressentirá da saída nem ficará desequilibrado em quantidade. Uma situação idêntica ao que se passa no FC Porto, onde o ideal será contar com 25 jogadores + 2 jovens (Castro e Rui Pedro), os quais não entram nas contas dos tais 25 que defendo. Julgo que me fiz entender!

- Vejo uma imensa legião de avançados no plantel da Luz para apenas dois lugares em simultâneo. Partindo do pressuposto que é obrigatório que Cardozo jogue sempre (9 milhões...), parece-me que a gestão de Santos terá de ser criteriosa, sob pena de o descontentamento se começar a instalar. Nuno Gomes continua a ser dado como transferível, mas sinceramente não acredito nessa possibilidade. Manú não sei bem o que está ali a fazer, pois é certo que raramente irá ter oportunidades.

- Dos titulares da época passada, apenas Simão e Miccoli foram os elementos a mudar de ares e, mesmo assim, a euforia desmedida dos adeptos encarnados deu lugar a uma apreensão quase defunta após a recente saída de Simão, o que não abona nada a favor do clube, pois indicia uma dependência de um só jogador nada aconselhável. Em matéria de perdas entre os titulares de 2006-07, o Benfica está em igualdade com o FC Porto e em vantagem sobre o Sporting, por isso, não há razão para queixas ou lamentações.

- Na baliza, existe então a dúvida sobre quem será o dono das redes. Na defesa, Luisão, David Luíz e Léo terão normalmente posto assegurado, havendo a dúvida do lado direito. O meio-campo é para mim o sector mais forte, com muitas e categorizadas opções, sendo possível proceder a uma rotatividade inteligente das diferentes peças. Do ataque, já falei das numerosas opções existentes. A única certeza é que Cardozo terá de responder com muitos golos às expectativas criadas em seu redor.

- Tenho ainda curiosidade em saber que época fará Mantorras, que participação nos jogos lhe estará destinada. Acabado de lançar um livro onde dispara em várias direcções, parece-me óbvio que o internacional angolano não aguentará muito mais tempo nesta siuação de entrar somente nos dez minutos finais dos desafios. Até quando se manterá no plantel apenas como 'afilhado' de Luís Filipe Vieira?

- Considero este um bom plantel para o Benfica atacar a época que se aproxima. No entanto, penso que não vai chegar para ficar à frente tanto do FC Porto como do Sporting. Aliás, tenho um pequeno pressentimento que o técnico Fernando Santos não vai terminar a época na Luz. É apenas um palpite. E Cardozo também não vai ser o melhor marcador do campeonato... De uma coisa ninguém duvida: 2007-08 promete!

sábado, 28 de julho de 2007

PLANTEL E MERCADO (SPORTING)


O Sporting prossegue a sua preparação tendo em vista as competições oficiais que se aproximam, das quais a Supertaça Cândido de Oliveira frente ao FC Porto significará o pontapé de saída. Paulo Bento vai para a sua terceira época - entrou a meio de 2005-06 - no comando técnico leonino, o que lhe permite consolidar as suas ideias e trabalhar na base da continuidade. Escolhido o 4-4-2 como sistema de jogo incontestado, a planificação do plantel é feita partindo desse pressuposto, ou seja, as escolhas dos jogadores são levadas a cabo mediante as posições que o sistema insere. Daí que não espanta um elevado número de centrocampistas e uma total ausência de extremos. Ora vejamos:


Reforços:

- Gladstone: central brasileiro que chega emprestado pelo Cruzeiro por 250 mil euros. Já foi internacional sub-20 pelo 'escrete' e possui alguma notoriedade no seu país. Esta será a sua terceira aventura no futebol europeu, depois de passagens sem grande sucesso por Juventus e Verona. Sem ter um conhecimento aprofundado sobre os seus atributos, estou confiante de que poderá ser uma mais-valia para os 'leões', lutando com Tonel por uma vaga ao lado de Polga.

- Derlei: chega a Alvalade a custo zero, após se ter desvinculado em definitivo do Dínamo Moscovo e depois da péssima passagem pelo Benfica. É uma das incógnitas para esta temporada. Produzir o que produziu no FC Porto é uma tarefa espinhosa e praticamente impossível, mas também ser a nulidade que foi na Luz não será fácil. Por mim, palpita-me que vai surpreender muita gente pela positiva e apagar algumas críticas feitas à sua contratação. De qualquer forma, uma aposta arriscada.

- Izmailov: médio-ofensivo de 24 anos, ficará um ano no Sporting por empréstimo do Lokomotiv Moscovo, a troco de 125 mil euros. É internacional russo, possui uma capacidade técnica acima da média, além de ser muito rápido e combativo. Na minha opinião, foi uma das mais bem conseguidas contratações leoninas e poderá tornar-se numa estrela do futebol português. Para confirmar ao longo da temporada.

- Vukcevic: um dos mais badalados deste defeso. Alegadamente também pretendido pelo FC Porto, acabou por aterrar em Alvalade proveniente dos russos do Saturn. Os 'leões' desembolsaram cerca de 2 milhões de euros para contar com os préstimos deste talentoso médio-ofensivo montenegrino. É um verdadeiro 'playmaker' e, à partida, discutirá o lugar no onze com Romagnoli. Por aquilo que custou e pelas expectativas em seu redor, será um dos que mais cobrança sofrerá por parte da massa adepta verde e branca.

- Stojkovic: uma das melhores aquisições do Sporting. Guarda-redes sérvio de elevada estatura que levou os 'leões' a pagarem 1 milhão de euros ao Nantes. Vi-o pela primeira vez no Europeu sub-21, realizado em Portugal no ano passado, tendo-me parecido um guardião de grande categoria. Chega com a missão de fazer esquecer Ricardo e estou seguro que vai passar no teste com distinção. É titular da selecção principal do seu país.

- Purovic: uma aposta forte dos responsáveis sportinguistas para dotarem o seu ataque de maior poder de fogo. Ponta-de-lança jovem e fisicamente robusto, este montenegrino possibilitou ao Estrela Vermelha um encaixe de 2 milhões de euros. Parece-me ser um jogador de bom nível, embora não o conheça a fundo e, por isso, o seu rendimento é uma incógnita para mim. Brigará com Derlei e Yannick Djaló por um lugar ao lado do indiscutível Liedson.

- Pedro Silva: lateral-direito brasileiro que vem do Corinthians e sem custos para o Sporting. É um jogador que já passou pela Académica e que vem preencher uma lacuna evidente no plantel. O seu concorrente directo será Abel e não creio que terá muitas hipóteses de brilhar, já que se trata de um executante perfeitamente banal para jogar ao mais alto nível.


Saídas:

- Nani: a sua transferência para o Manchester United por 25,5 milhões de euros foi uma das grandes 'bombas' do defeso nacional. Sem dúvida, uma perda importante para o Sporting, que se vê privado de um dos seus elementos mais fantasistas e desequilibradores. Recebi a notícia com surpresa e alguma perplexidade, pois considero um passo demasiado arriscado na carreira de um jovem ainda em fase de crescimento, desportivo mas sobretudo mental. Apesar de ser um desfalque de vulto no plantel de Paulo Bento, foi um negócio fantástico para o emblema de Alvalade, uma vez que 25,5 milhões é uma verba impressionante, quiçá até exagerada para o real valor do médio-ala português.

- Custódio: face à meteórica ascenção de Miguel Veloso, o capitão de equipa na época passada foi relegado para a condição de suplente, sendo quase certo que essa situação se manteria ao longo desta temporada. A solução encontrada foi a venda ao Dínamo Moscovo, num negócio avaliado em 1,8 milhões de euros. Embora nunca tenha sido um jogador consensual entre os adeptos, admiro as qualidades do jovem trinco português, o qual julgo ter categoria mais que suficiente para se impôr na capital russa, num clube, recorde-se, de tão má memória para outros portugueses que por lá passaram.

- Ricardo: mais uma saída surpreendente, pelo menos para mim. Poucos dias depois de ter sido nomeado primeiro capitão de equipa, o guardião titular do Sporting e da Selecção Nacional fez as malas e transferiu-se para o Bétis de Sevilha. Os números envolvidos foram, ao que tudo indica, 2 milhões de euros. Na óptica sportinguista este é claramente um negócio discutível, não só pelo peso do jogador no clube, mas também pelos fracos valores recebidos do clube andaluz. Aqui deve ter falado mais alto a vontade de Ricardo de aproveitar uma das últimas oportunidades de fazer o contrato da sua vida. No entanto, tendo contratado Stojkovic, talvez o Sporting até nem tenha ficado a perder.

- Tello: o chileno inclui-se igualmente no domínio do inesperado. Quando tinha tudo acordado com a direcção verde e branca para a renovação do seu contrato, o lateral-esquerdo não cumpriu a palavra e rumou ao Besiktas, recebendo um salário incomparavelmente superior e sem que o Sporting tivesse recebido um único cêntimo (estava em fim de contrato). Está aí a prova de que, muitas vezes, o dinheiro se sobrepõe à dignidade e carácter humanos. Em termos desportivos, é uma perda considerável, uma vez que vinha de realizar a sua melhor época de sempre no clube, sendo que até agora o seu substituto ainda não foi contratado e nem se sabe se isso acontecerá.

- Miguel Garcia: mais um lateral que saiu sem qualquer compensação financeira para os 'leões', por estar em final de ligação contratual. O seu destino foi o Reggina, da Série A italiana. Falando na vertente meramente futebolística, a sua saída não causa grande mossa na valia colectiva, pois trata-se de um jogador perfeitamente mediano, mas não deixa de ser ingrato ver sair a custo zero um jogador formado nas escolas leoninas e com vários anos de casa.

- Carlos Martins: este é um caso diferente. Senhor de um talento invejável, nunca se conseguiu afirmar na equipa e cedo se percebeu que seria uma carta fora do baralho para 2007-08. Desvinculou-se do Sporting e rumou ao Recreativo Huelva, mantendo os 'leões' 40% do seu passe e salvaguardando os seus interesses numa possível transacção futura. Gosto do futebol de Carlos Martins e penso que tem tudo para vingar neste pequeno clube do futebol espanhol.

- João Alves: sem espaço em Alvalade, em virtude de as suas exibições de leão ao peito terem sido sempre muito fraquinhas, é um caso cuja resolução foi idêntica à anterior: desvinculou-se, seguiu para o Guimarães e o Sporting fica proprietário de 40% do seu passe. Uma perda desportiva insignificante.

- Alecsandro: foi um jogador emprestado pelo Cruzeiro e, face ao seu rendimento intermitente, o Sporting não demonstrou interesse em mantê-lo no plantel, até porque não era um jogador propriamente barato. Ficou mais conhecido por ser cunhado do mágico Deco do que pelas vezes que facturou. Não deixa saudades.

- Bueno: definitivamente o nome tem pouco a ver com este avançado uruguaio. Emprestado pelo Paris SG, pouco ou nada jogou e a saída de Alvalade era o cenário lógico para este caso. Os quatro golos que apontou num só jogo, foram a única coisa positiva que conseguiu produzir. De resto, uma nulidade autêntica, logo não vai fazer falta.

- Caneira: mais um dos titulares que abandona o clube. Finalizada a cedência temporária do Valência, os responsáveis do clube fizeram de tudo para que pudesse permanecer, tal como o próprio desejava. No entanto, o Valência não aceitou prolongar o empréstimo e o Sporting não teve capacidade financeira para adquirir os seus serviços em definitivo. A seguir a Nani, é a saída mais relevante dos 'leões', pois o internacional luso junta qualidade e profissionalismo a uma polivalência fantástica, que lhe permite actuar, com igual eficácia, em todos os lugares da defesa!


Plantel actual (25 jogadores):

Stojkovic, Rui Patrício, Tiago, Abel, Pedro Silva, João Gonçalves, Polga, Tonel, Gladstone, Paulo Renato, Ronny, Miguel Veloso, Paredes, Adrien Silva, Pereirinha, João Moutinho, Farnerud, Romagnoli, Vukcevic, Yannick Pupo, Izmailov, Liedson, Derlei, Purovic e Yannick Djaló.


Notas e opiniões:

- Sendo ponto confirmado que o 4-4-2 será o sistema a usar por Paulo Bento, este plantel parece-me equilibrado quantitativamente e bem distribuído pelos vários lugares, com mais do que uma opção para cada um deles. Veremos como será a política de rotatividade levada a cabo pelo corpo técnico, que tanto deu que falar na época passada.

- Com a recente contratação do lateral-direito Pedro Silva, o jovem sub-19 João Gonçalves perde alguma margem para sonhar jogar com frequência, não sendo ainda certo se ficará no plantel leonino. Na minha perspectiva, três laterais-direitos são excessivos.

- Com o empréstimo de André Marques ao U.Leiria, Ronny é o único lateral-esquerdo do conjunto, daí que contratar mais um jogador para o lugar é, nesta altura, a prioridade do Sporting. Não só por existir apenas um para a função, mas também porque Ronny não inspira grande confiança a ninguém.

- Continuando a falar de juventude, Adrien Silva e Yannick Pupo são as novas apostas do Sporting para dar continuidade ao seu projecto de lançar jogadores da sua formação no plantel principal. Estão depositadas grandes esperanças nestes dois talentos e, especialmente Adrien Silva, parece ter sobeja qualidade para se poder integrar rapidamente nesta realidade mais exigente.

- O Sporting perdeu quatro habituais titulares da época passada (Nani, Ricardo, Tello e Caneira), enquanto o FC Porto apenas dois (Anderson e Pepe), embora de muito maior peso. Neste aspecto, a turma lisboeta parte em desvantagem na quantidade das saídas mais significativas a colmatar.

- Na baliza, Stojkovic tem tudo para ser o titular. Polga continuará a comandar o sector mais recuado com a sua habitual mestria. Veloso e Moutinho serão os indiscutíveis do meio-campo e Liedson vai continuar certamente a ser o abono da família sportinguista em termos atacantes. Depois, há que saber encontrar os melhores parceiros para esta espinha dorsal. Tonel ou Gladstone. Izmailov ou Farnerud. Romagnoli ou Vukcevic. Derlei ou Purovic. Etc...

- A avaliação da qualidade global do plantel não pode ainda ser feita, já que ela dependerá directamente do desempenho dos reforços, o que é sempre um risco. Ou seja, se os novos confirmarem credenciais, o Sporting pode aspirar a voos altos, se vierem a cotar-se como verdadeiros 'flops', então aí pode vir a passar um mau bocado durante 2007-08. Quando arrancar a época oficial, as dúvidas vão começar a dissipar-se progressivamente. Estou curioso...

domingo, 22 de julho de 2007

PRIMEIRAS IMPRESSÕES


E a bola voltou a rolar no Estádio do Dragão. Após o estágio em terras holandesas, o FC Porto regressou ao convívio com os seus adeptos e ganhou aos franceses do Mónaco por 2 - 1, em jogo de apresentação da sua equipa para a temporada que agora se inicia. Fui um dos 36.911 espectadores presentes, naquela que significou a minha primeira oportunidade de ver em acção os jogadores contratados, dado que não tinha acompanhado nenhum dos anteriores encontros desta pré-época. O jogo não foi brilhante mas deu para entreter - como diria Quinito - e uma vitória depois de uma derrota é sempre importante.

Jesualdo Ferreira apresentou o seu 4-3-3 habitual e manteve-o durante toda a partida. Com a permanência de Quaresma no clube, fica claro que este será o sistema primordial, embora o vasto leque de soluções permita derivações para o 4-4-2. Os 'dragões' foram melhores que o Mónaco, dominaram durante mais tempo, jogaram quase sempre mais perto da baliza monegasca do que o inverso e o resultado acaba por ser normal e justo, face ao decorrido dentro das quatro linhas.

No primeiro tempo, em que o guardião Nuno foi o único dos reforços em campo, o futebol portista foi naturalmente mais ligado, mais entrosado, com maior número de combinações atacantes e um envolvimento colectivo mais apurado. Os extremos Lisandro e Quaresma foram os homens mais em foco, tendo sido solicitados imensas vezes, resultado de um carrilamento do jogo azul e branco invariavelmente sobre as faixas laterais. Bosingwa também esteve muitíssimo bem em todo o corredor direito, o que já não é grande novidade. Mas as oportunidades não foram muitas e o golo acabou por resultar de um lance de bola parada: cruzamento de Quaresma, cabeça de Lisandro e o guarda-redes Roma batido pela primeira vez. Primeira explosão de alegria no Dragão, já que mesmo sendo a feijões, todos gostam de ganhar.

Com a segunda parte, surgiram as novidades, aqueles jogadores que toda a gente queria vislumbrar e começar a ter uma ideia a seu respeito, para além obviamente dos golos de Postiga (de grande penalidade) e do monegasco Pino. Edgar foi o único disponível que não chegou a ser utilizado. De resto, foi possível ver Bolatti, Kazmierczak, Lino, Luís Aguiar e Fernando, em estreia absoluta no Dragão. Como primeiras impressões poderei dizer, acerca de cada um, o seguinte:

- Bolatti: gostei do que vi, foi o melhor de todos os novos recrutas. Imponente fisicamente, o argentino é daqueles que assume o princípio das jogadas de ataque, com um futebol simples, preciso e de poucos toques. Não inventa um milímetro e é rápido a desfazer-se da bola. Efectuou um remate de fora da área (à figura de Roma) e ganhou uma bola de cabeça num lance de bola parada (por cima da trave). Sendo certo que só um caberá no onze, lutará com Paulo Assunção por uma vaga, podendo a escolha depender do adversário e do tipo de jogo que se pretende. O brasileiro, mais técnico, utiliza mais a condução de bola, ao passo que Bolatti toca mais de primeira. Ambos são tacticamente adultos. Prevejo uma concorrência apertada e uma alternância na titularidade, assim Jesualdo Ferreira proceda a uma gestão inteligente destas duas peças. Talvez Bolatti nos jogos fora de casa teoricamente mais complicados, talvez Assunção nos desafios em casa à partida mais acessíveis.

- Kazmierczak: não há volta a dar, sou um apreciador assumido do gigante polaco. É um executante de futebol rectilíneo, que raramente progride com a bola nos pés, prefere jogar ao primeiro/segundo toque e fá-lo quase sempre de forma correcta. Pode até alegar-se que é lento, mas a sua impressionante compleição física poderá ser importante em vários jogos, na disputa de bola a meio-campo, nos lances aéreos na sua e na área adversária, nos remates de longa distância, na simplificação dos processos de jogo, etc. O que disse em relação a Bolatti e Assunção, aplica-se também para Kazmierczak e Raúl Meireles.

- Lino: este brasileiro foi uma autêntica desilusão. Muito nervoso, acusou claramente a pressão de actuar perante cenário tão iluminado. Acumulou erros sucessivos, entre perdas de bola e deficiente cobertura defensiva. Não me agradou a sua contratação e neste jogo reforcei essa ideia. Para o posto de lateral-esquerdo, adivinha-se uma luta a dois entre... Cech e Fucile!

- Luís Aguiar: teve períodos de bastante intervenção na manobra ofensiva e mostrou bons pormenores. Viu-se que é possuidor de boa capacidade técnica, algo essencial para quem joga como armador de jogo. É um jovem com talento e deve continuar a ser seguido com atenção. Pela amostra, gostei.

- Fernando: entrou para o centro da defesa substituindo Pedro Emanuel. Parece ter bom toque de bola e ser um jogador rápido, mas no pouco tempo que teve para se mostrar, não deu para ver grande coisa. E eu confesso que ainda não sei qual a sua posição de raíz. Deverá ser emprestado a um clube com menores ambições.

Para a história fica a constituição do FC Porto e respectivas substituições: Nuno (Paulo Ribeiro 46'); Bosingwa (Tarik 83'), João Paulo, Pedro Emanuel (Fernando 69'), Cech (Lino 46'); Paulo Assunção (Bolatti 46'), Raúl Meireles (Kazmierczak 46'), Jorginho (Luís Aguiar 46'); Lisandro (Rentería 83'), Adriano (Postiga 46'), Quaresma.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

PLANTEL E MERCADO (FC PORTO)


Desde a minha última análise acerca do plantel do FC Porto, alguns desenvolvimentos já aconteceram. Alguns jogadores rumaram a outras paragens, outros chegaram para fortalecer o grupo, decisões importantes foram tomadas e, aos poucos, o elenco que estará às ordens de Jesualdo Ferreira em 2007-08 começa a ficar definido. Actualizando:



Reforços:

- Leandro Lima: médio-ofensivo internacional brasileiro sub-20, é um jogador que chega do São Caetano e que custou aos 'dragões' 1,5 milhões de euros. Possuidor de boa técnica, participou no recente Mundial da categoria e chega para preencher a vaga deixada por Anderson. Não se espere, contudo, que este jovem ainda inexperiente faça esquecer o menino-prodígio. Dar-lhe tempo e tranquilidade para trabalhar, sem pressões exacerbadas, é meio caminho andado para que possa dar-se bem em Portugal. Uma incógnita para mim.

- Kazmierczak: proveniente do Boavista, custou 1,3 milhões de euros. É um médio possante e de boa capacidade de remate, bastante forte igualmente no passe longo. Pode perfeitamente actuar como trinco ou médio de transição. Considero uma boa aposta dos responsáveis portistas e talvez se venha a cotar como uma bela surpresa da nossa liga.

- Lino: lateral-esquerdo vindo da Académica a custo zero, é um dos reforços que menor impacto causou neste defeso. A sua contratação não me agradou, não só porque tenho dúvidas se terá categoria suficiente para jogar num clube desta dimensão, mas também porque não terá qualquer valorização futura (tem 29 anos) e esse aspecto também me parece importante.

- Edgar: ponta-de-lança vindo do Beira Mar, é internacional sub-20 brasileiro e é o chamado homem de área. Porventura limitado a jogar com os pés, faz do jogo de cabeça o seu ponto forte, tendo muita gente já referido que pode estar ali um novo Jardel. Talvez seja exagero tal comparação, mas gostei bastante desta contratação. Para o ter por empréstimo durante um ano, o FC Porto paga uns insignificantes 150 mil euros. Uma boa forma de negócio. Se render, adquire-se o seu passe, caso contrário vai recambiado.

- Luís Aguiar: chega por empréstimo do Liverpool de Montevideu, a troco de 200 mil euros. Médio-ofensivo uruguaio de 22 anos que alegadamente possui boa capacidade de remate de longa distância, pode jogar ao centro ou então mais descaído numa ala. É um perfeito desconhecido e, como tal, é difícil dizer desde já se foi ou não uma aposta positiva, mas estou com um bom pressentimento.

- Fernando: jogador desconhecido que chega do Vila Nova, das divisões secundárias brasileiras, destinando-se ao que tudo indica a ser emprestado. Não compreendo este tipo de aquisições.

- Nuno: guarda-redes vindo do Aves a custo zero, regressa assim a uma casa que já conhece, estando destinado a ser suplente de Helton. Na altura torci um pouco o nariz, mas tendo em conta o abandono de Vítor Baía e a vontade de Paulo Ribeiro de ser emprestado, reconheço que talvez tenha sido uma escolha inteligente. É benéfico ter um segundo guardião experiente, pronto para responder a qualquer eventualidade, mas que sabe que a titularidade não é para si.

- Bolatti: depois da longa novela que envolveu a sua contratação, este médio-defensivo argentino de 22 anos veio mesmo para o Dragão. Proveniente do Belgrano, vem rotulado de promessa do futebol alvi-celeste, exibindo um porte físico de respeito. Custou 2 milhões de euros e deve portanto constituir-se como mais-valia para o grupo. Não conheço o seu futebol mas as referências são animadoras. Para confirmar no decorrer da época.

- Mariano González: a par de Kazmierczak e Edgar, foi das entradas que mais me agradaram, não só porque me parece um jogador capaz de fazer a diferença, como também por chegar para uma posição carenciada do plantel, a de extremo. Mais um negócio sob a forma de empréstimo, desta feita por parte do Palermo, em que os portistas pagam 200 mil euros. Oxalá apresente credenciais satisfatórias e não defraude as minhas expectativas.


Saídas:

- Anderson: a SAD entendeu que a proposta de 31,5 milhões era irrecusável e o portento canarinho rumou ao Manchester United. Mesmo sabendo que os números são tentadores, continuo a achar que o 'timing' da operação não foi o mais correcto e que o clube ficou a perder, não só a nível desportivo de modo irreparável, mas também a possibilidade de um negócio futuro ainda mais rentável. O meu raciocínio é simples: vender hoje por 30 quando amanhã se pode vender por 40 é sempre mau, independentemente da fantástica quantia encaixada e da necessidade imediata de aumentar o 'cash-flow' (havia outras hipóteses de venda, como é sabido). Era o último a quem devia colocar-se a hipótese de ser transferido.

- Pepe: saiu para o Real Madrid por 30 milhões de euros, num negócio absolutamente sensacional para os azuis e brancos. A perda desportiva é enorme, mas face aos números envolvidos e à sua vontade pública de partir para "um clube maior", só tenho de bater palmas a esta operação. E confesso que nunca esperei que a saída do central brasileiro rendesse uma soma tão elevada. Uma comprovação da capacidade negocial dos responsáveis portistas mas igualmente do respeito que o FC Porto soube granjear na Europa do futebol (alguém acredita que se o Pepe estivesse no Benfica ou no Sporting surgisse um emblema a pagar 30 milhões?).

- Ricardo Costa: 3,5 milhões foi quanto pagaram os alemães do Wolfsburgo pelo central português. Mais um magnífico negócio para a SAD portista, já que Ricardo Costa raramente vinha sendo utilizado e parecia-me um elemento a mais no plantel. O FC Porto consegue transferir um suplente por 3,5, quando o Sporting negoceia o seu guarda-redes titular (e da Selecção Nacional) por 2... Dá que pensar! E já nem falo dos 4 milhões que o Werder Bremen pagou por Hugo Almeida...

- Ibson: renovado o contrato até 2011, o FC Porto emprestou este talentoso médio ao Flamengo. Apesar de defender a sua permanência no plantel, achei muito boa a saída encontrada para este caso, uma vez que Jesualdo Ferreira não contava com ele para 2007-08. Face ao talento que lhe reconheço, oxalá possa voltar ao Dragão um dia mais tarde.

- Alan: não tem categoria para jogar no FC Porto e foi muito bem cedido ao Guimarães. Se tivesse sido em definitivo é que era...

- Vieirinha: podia perfeitamente caber no plantel, pois trata-se de um extremo talentoso e que não teve as oportunidades que talvez merecesse para mostrar as suas qualidades e ajudar mais a equipa. Jesualdo não foi da mesma opinião e portanto será emprestado ao Leixões, um bom clube para poder evoluir e jogar mais regularmente, sempre com os olhos postos num regresso à casa-mãe.

- Mareque: ainda não percebi porque se andou a gastar dinheiro na sua aquisição. Será emprestado ao Independiente e por lá poderia ficar para sempre...

- Bruno Moraes: um avançado com valor, mas que nunca se conseguiu impôr na formação portista. Poderia aspirar a ficar nos eleitos para a nova temporada, mas as suas polémicas declarações pondo em causa o treinador, traçaram o seu destino. A sua saída é um dado consumado, resta saber para onde e em que condições.

- Paulo Ribeiro: demonstrou vontade de rodar num clube que lhe permita jogar com regularidade, faltando apenas saber que clube será. Bem pensado.


Plantel actual (29 jogadores):

Helton, Nuno, Ventura, Bosingwa, Fucile, João Paulo, Bruno Alves, Pedro Emanuel, Cech, Lino, Paulo Assunção, Bolatti, Kazmierczak, Fernando, Raúl Meireles, Lucho González, Castro, Leandro Lima, Jorginho, Luís Aguiar, Quaresma, Lisandro, Mariano González, Tarik, Adriano, Postiga, Rentería, Edgar e Rui Pedro.


Notas e opiniões:

- Ventura, Castro e Rui Pedro são produtos das escolas de formação e, por agora, apenas Ventura tem lugar garantido no plantel. Tarik voltou ao clube para cumprir o estágio de pré-temporada, depois de ter estado cedido temporariamente, estando ainda em dúvida a sua permanência.

- O plantel deverá ter quanto a mim 25 elementos e ser equilibrado, ou seja, ser bem distribuído por todas as posições. Considerando que um central ainda vai ser obrigatoriamente contratado, deveriam ser dispensados mais cinco jogadores. Na minha perspectiva seriam Castro, Rui Pedro, Fernando, Jorginho e Rentería.

- Os jovens Castro e Rui Pedro podem até ficar no plantel, porque devem estar demasiado verdes até para serem emprestados, mas nunca seriam contabilizados nos tais 25 jogadores, era mais para ganharem experiência e maturidade, contactando com uma realidade diferente daquela a que estão habituados.

- O mais certo é Rentería não sair, talvez Postiga esteja mais próximo de o fazer. O Levante está interessado no seu concurso. Se pagarem cerca de 4 milhões apoio o negócio, caso contrário defendo a sua continuidade. Prefiro Postiga a Rentería, de longe!

- A saída de Lucho para o Valência está iminente, até tendo em conta a posição negocial desfavorável da SAD (apenas dispõe de metade do passe do argentino). Se isso suceder, sou a favor da compra de outro médio de valor internacional. Se o clube não estiver para aí virado, então terei de me contentar com Jorginho. Mas, repito, só se Lucho fôr mesmo para Espanha.

- Acho necessários quatro extremos para o equilíbrio do plantel. Gostava de ver outra aquisição para rivalizar com Quaresma, Lisandro e Mariano González. Se isso acontecesse (algo pouco provável), então abria a porta da saída a Tarik, caso contrário manteria o marroquino. E pensar que temos um jogador como Hélder Barbosa a rodar...

- Para substituto de Pepe no centro da defesa, de todos os que já apareceram destacados na imprensa, agradam-me dois nomes: Manuel da Costa e Stepanov. Mesmo sendo caro, o português valorizará muitíssimo no futuro e, como tal, parecia-me um investimento no ponto. O sérvio Stepanov também é um grande jogador e veria igualmente com bons olhos a sua contratação.

- Por último, seria um sonho que houvesse uma surpresa na apresentação da equipa chamada 'avançado de categoria internacional' e, nesse caso, nem me importava que o plantel fosse constituído por 26 magníficos. Mas infelizmente acho pouco provável, embora haja milhões suficientes para isso, sem prejuízo da redução do passivo. A ver vamos.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

BRASIL À EUROPEIA


BRASIL - ARGENTINA 3 - 0
Final da Copa América 2007
15 de Julho de 2007
Estádio Pachencho Romero (Maracaibo)
Árbitro: Carlos Amarilla (Paraguai)
Brasil: Doni; Maicon, Alex, Juan, Gilberto; Mineiro, Elano (Daniel Alves 33'), Josué, Júlio Baptista; Robinho (Diego 89'), Vágner Love (Fernando 88'). Tr: Dunga
Argentina: Abbondanzieri; Javier Zanetti, Ayala, Gabriel Milito, Heinze; Mascherano, Verón (Lucho González 65'), Cambiasso (Aimar 58'), Riquelme; Tévez, Messi. Tr: Alfio Basile
Ao intervalo: 2 - 0
Marcadores: 1 - 0 Júlio Baptista 4', 2 - 0 Ayala 40' pb, 3 - 0 Daniel Alves 68'
CA: Alex 36', Mascherano 41', Doni 50', Gilberto 54', Júlio Baptista 66', Tévez 75, Josué 81'


O Brasil venceu a pobre Copa América pela quinta vez nos últimos dez anos, acentuando ainda mais o seu domínio no panorama do futebol sul-americano. Na final, a selecção canarinha deu uma imagem bem diferente da que patenteou durante toda a competição e, contra todos os prognósticos, derrotou a poderosa Argentina por claros 3 - 0.

Dunga e Basile apresentaram para o jogo decisivo dois sistemas semelhantes, assentes num 4-4-2 em losango no meio-campo. Ambos os losangos constituídos por um médio-defensivo (Mineiro e Mascherano), dois interiores, dos quais um (Josué e Cambiasso) mais conservador que o outro (Elano e Verón) e um médio-ofensivo (Júlio Baptista e Riquelme). Com os dois esquemas perfeitamente encaixados no sector médio, tornava-se evidente que, para além da dinâmica colectiva e da própria inspiração individual dos jogadores, quem conseguisse catapultar os seus laterias com mais intensidade para o ataque, poderia levar vantagem sobre o rival. Ora Maicon e Gilberto fizeram exibições de grande nível, o mesmo já não se poderá dizer de Zanetti e Heinze...

Apesar de o 'escrete' ter estado melhor e ter justificado inteiramente a vitória, a verdade é que a sorte esteve do seu lado, pois começou o desafio praticamente a ganhar e pode agradecer a Deus não ter consentido o empate logo a seguir. Aos 4 minutos, Maicon lança longo para Júlio Baptista que se desembaraça de Ayala e atira cruzado para as redes de Doni. Um grande golo que poderia ter sido imediatamente anulado, mas Riquelme atirou ao poste, após bela iniciativa de Messi e assistência de cabeça de Verón. Dizem que Deus é brasileiro e pela amostra começo a acreditar seriamente nessa possibilidade (não esquecer a meia-final frente ao Uruguai através das grandes penalidades).

A Argentina tem então um período em que se instala no meio terreno contrário, embora sem nunca conseguir ser perigosa nem mostrar um futebol ligado e fluído. Vivia apenas de algumas arrancadas de Messi, que também cedo mostrou não estar nos seus melhores dias. Mas mesmo este domínio territorial foi sol de pouca dura. A partir do quarto de hora, o Brasil começa positivamente a mandar no jogo. Revelando grande maturidade táctica, controlo emocional, superior solidariedade colectiva e maior entrega ao jogo e vontade de vencer, talvez espicaçados pela crítica feroz de que foram alvo, os comandados de Dunga arrancaram para uma exibição inteligente e pragmática, bem ao estilo do que hoje exige o futebol moderno, bem à imagem do futebol europeu virado para o resultado. Mineiro secava Riquelme, Elano e Josué exibiam grande disponibilidade para percorrer quilómetros no meio-campo e os laterais Maicon e Gilberto aproveitavam as autênticas avenidas abertas pela passividade adversária. Os argentinos denotavam lentidão, não pressionavam convenientemente o portador da bola, pelo contrário, eram eles os próprios a serem envolvidos pelos brasileiros, levando ao desaparecimento progressivo de homens como Riquelme, Messi ou Tévez. E quando o conjunto não funciona, não há ligação entre os diferentes sectores, parece que existe um espaço enorme entre cada elemento, cada um votado à sua sorte, sem apoio nem alternativa, por mais que a sua vontade seja a de ajudar a equipa.

Quando o jogo estava morno, sem grandes oportunidades de golo e com poucos motivos de interesse, Riquelme resolve dar um pontapé na monotonia e lá conseguiu criar um momento de aperto junto da baliza canarinha, com um belo remate à entrada da área, tendo valido a apurada elasticidade de Doni. Todavia, pouco depois, com a eficácia de que já falei, o Brasil aumenta para 2 - 0 e dá mais uma machadada na confiança alvi-celeste. E foi logo com um autogolo de Ayala para a depressão ser ainda maior. Mérito para o cruzamento de Daniel Alves, entretanto entrado para o lugar de Elano, e que se revelou uma aposta ganha do técnico brasileiro.

Chegou o intervalo e reclamei para mim a entrada de Crespo, na tentativa de abrir a frente de ataque argentina. A perder por duas bolas, era hora de Basile arriscar tudo para os derradeiros 45 minutos e alterar o sistema para uma matriz mais arrojada. Mas tal não aconteceu e o onze argentino manteve-se o mesmo para a segunda metade! Primeiros dez minutos e nada de novo aconteceu: Argentina perdida e desligada, Brasil motivado, dono e senhor do jogo. Cambiasso e Verón eram incapazes de assegurar a transição ofensiva, Riquelme jogava completamente parado e era engolido pelos incansáveis brasileiros. Aliás, abro aqui um parênteses para dizer que está justificado o facto de o melhor jogador a actuar na América do Sul não ter vingado numa equipa de topo europeu como o Barcelona e ter tido necessidade de descer para o Villarreal. O homem está desfasado daquilo que é o futebol actual, brilha no continente americano pois lá joga-se um futebol sem velocidade, onde importa a capacidade técnica e nunca a dinâmica e velocidade de jogo.

Aos 58 minutos, o seleccionador argentino, que nunca antes havia perdido um encontro da Copa América, lá se decidiu por lançar sangue novo na sua equipa: troca Cambiasso por Aimar e, mais tarde, Verón por Lucho. Apesar de ter conferido um cariz ligeiramente mais ofensivo ao seu conjunto, o certo é que Basile trocou jogadores de posições idênticas e não alterou o sistema, mantendo o 4-4-2, quando a meu ver se impunha um 4-3-3 com Tévez, Crespo e Messi na frente, ou mesmo um 3-3-4 com o acrescento de Diego Milito pela saída de um defesa (possivelmente o desastrado Gabriel Milito, já que Heinze fecha bem ao meio). Não foi o que aconteceu e a Argentina nunca se encontrou, tendo realizado uma péssima exibição durante todo o segundo tempo. O Brasil apostava agora em contra-ataques rápidos e sempre venenosos. Num deles, o mal-amado Vágner Love isola Daniel Alves com uma assistência soberba, tendo o (ainda) sevilhano desferido um certeiro remate ao poste mais distante. 3 - 0!

Pouco depois, o apito final do paraguaio Carlos Amarilla. A inteligência quase científica da selecção de Dunga, o pragmatismo, a eficácia e a mentalidade vencedora imposta aos jogadores canarinhos (qual equipa europeia), acabavam de arrasar a melhor selecção da Copa América, quer em futebol jogado até aí, quer em quantidade de estrelas por metro quadrado. A forma como o Brasil se exibiu fez-me lembrar o FC Porto campeão europeu de José Mourinho e não foi em vão. O Brasil fez a festa justamente.

O portista Helton, mesmo sem ter actuado, e o prodígio Anderson são campeões sul-americanos. Um título de importância relativa quando comparado com o título europeu ou mundial, mas certamente muito saboroso para a selecção brasileira, mais a mais olhando aos incessantes ataques de que foi vítima pelos seus próprios compatriotas dos mais diversos quadrantes. A Argentina foi a melhor equipa presente na Venezuela, mas o Brasil é o campeão, com Robinho a ser o melhor jogador e o melhor goleador com 6 tentos apontados. E o que é que fica para a história?