terça-feira, 25 de setembro de 2007

DRAGÕES 'ON FIRE'


1ª Liga - 5ª Jornada

O FC Porto foi o grande vencedor desta 5ª jornada da 1ª Liga. Foi ao sempre complicado terreno do aguerrido P.Ferreira arrancar uma inequívoca vitória por 0 - 2, demonstrando uma atitude séria, profissional, batalhadora e ganhadora. Beneficiou depois dos empates dos seus maiores rivais: o Benfica empatou a zero em Braga, o Sporting não foi além de uma igualdade caseira a duas bolas frente ao Setúbal. Com isto, o FC Porto cavou um fosso maior para os emblemas da Capital, detendo agora cinco e seis pontos de vantagem sobre, respectivamente, 'leões' e 'águias'. Preocupante? Eu diria que sim. O Marítimo prossegue o seu percurso surpreendente e somou o quarto triunfo, batendo (2 - 0) o excelente Belenenses, vindo da boa jornada europeia em Munique. Os homens de Lazaroni seguem na segunda posição a três pontos dos portistas. Na abertura da ronda, o Guimarães mostrou a sua força e goleou (1 - 4), na Figueira da Foz, a frágil equipa da Naval, acabadinha de despedir Francisco Chaló. O Leixões desiludiu ao empatar em casa com o Nacional a um golo, mantendo uma posição no meio da tabela. Nos dois restantes jogos (U.Leiria - E.Amadora e Boavista - Académica), outros tantos nulos e um futebol paupérrimo, nada de anormal quando se fala das equipas que jogaram em casa.


Jogos:

NAVAL - GUIMARÃES 1 - 4
1 - 0 Paulão 13'
1 - 1 Flávio Meireles 31'
1 - 2 Fajardo 32'
1 - 3 Mrdakovic 49'
1 - 4 Ghilas 76'
Segunda vitória dos vimaranenses, que começam agora a mostrar a sua força e a dissipar, paulatinamente, algumas dúvidas que ainda existiam desde o início da época. Manuel Cajuda começa a incutir as suas ideias nos jogadores vitorianos e isso é garantia quase certa de um lugar cimeiro na classificação, talvez entre os seis primeiros. A Naval até começou bem, inaugurando o marcador por Paulão, que respondeu de cabeça a um pontapé de canto. Só que a personalidade e maior qualidade vimaranense veio à tona e, não acusando o golo sofrido, partiu para cima do adversário, de tal forma que ao intervalo já tinha dado a volta ao marcador. Flávio Meireles e Fajardo (continua em grande este ex-navalista) materializaram esse assalto à baliza de Wilson Júnior, com dois bons golos. Na segunda metade, mais do mesmo, a Naval sem soluções e o Guimarães a controlar o jogo com serenidade e confiança. O golo madrugador de Mrdakovic ajudou a matar definitivamente alguma esperança que pudesse restar aos figueirenses. O artista Ghilas ainda teve tempo de fazer também ele o gosto ao pé e fixar o 'placard' num robusto e indiscutível 1 - 4. Talvez esta derrota pesada ajude o presidente da Naval a repensar a sua forma de estar no futebol, pois despedir um técnico à 4ª jornada, logo após o ter contratado, não é mais do que fugir às suas responsabilidades e admitir a sua própria incompetência.

LEIXÕES - NACIONAL 1 - 1
0 - 1 Lipatin 15'
1 - 1 Nuno Diogo 79'
Quinto empate consecutivo dos leixonenses, no jogo de estreia da sua verdadeira casa, o Estádio do Mar. Além do resultado algo desolador para uma equipa que jogava em casa perante outra pior classificada, o que realmente foi frustrante foi o fraco desempenho evidenciado pelos pupilos de Carlos Brito. Futebol trapalhão, feio e desligado, aliado à precipitação defensiva só poderia dar em golo sofrido. Lipatin, o tal que não serviu para o Marítimo, foi o concretizador de serviço. Para o segundo tempo, o técnico leixonense arriscou, como aliás lhe competia. Lançou Nwoko e catapultou a sua equipa na procura do empate. Abriu, é verdade, maiores espaços lá atrás e só a atenção de Beto evitou, em duas ocasiões, novo tento de Lipatin. A persistência do Leixões, potenciada pelo fervor da sua massa adepta nas bancadas, acabou por dar os seus frutos e Nuno Diogo lá conseguiu enviar a bola para o fundo das redes à guarda de Diego Benaglio. Já ao cair do pano, a reviravolta poderia ter surgido, mas Jorge Gonçalves atirou ao poste. Resultado justo.

BRAGA - BENFICA 0 - 0
A excelente moldura humana presente no Municipal de Braga merecia mais que este pobre espectáculo. Jogo sempre muito disputado a meio-campo, sem arte nem inspiração, valendo apenas pelo empenho dos jogadores e, apesar de tudo, pela incerteza no resultado até ao final. As jogadas de perigo foram uma raridade, tendo a maior pertencido ao bracarense Linz, que com uma bela cabeçada, proporcionou a defesa da noite a Quim. Um remate de Cristian Rodríguez para defesa instintiva de Dani Mallo foi o melhor que se viu à turma de Camacho. Para quem gosta de futebol e tem prazer em vislumbrar razões para que se possa exaltar o futebol português, é sempre frustrante quando um jogo entre duas das melhores equipas lusas resulta num triste espectáculo sem golos. No Benfica, apenas Quim e o jovem camaronês Binya se evidenciaram. No Braga, todos estiveram a um nível médio-baixo, inclusivé o técnico Jorge Costa, que não soube como ganhar um jogo que, pelo que se viu, estava claramente ao alcance. Por falar em técnico, alguém me explica aquelas substituições do Camacho?


MARÍTIMO - BELENENSES 2 - 0

1 - 0 Kanu 26'
2 - 0 Makukula 90'
O Marítimo soma e segue nesta 1ª Liga. Desta vez a vítima foi o Belenenses de Jorge Jesus que, apesar da réplica dada ao Bayern Munique a meio da semana, não resistiu ao maior poderio actual dos maritimistas. Foi a quarta vitória em cinco jogos para os comandados de Lazaroni que, recorde-se, só foram batidos pelo bicampeão FC Porto. O Marítimo exibiu sempre maior personalidade e serenidade, embora os de Belém procurassem sempre responder, sem se remeterem demasiado à sua defensiva. Depois de algumas ameaças de parte a parte, Kanu, isolado por Bruno, resolveu acertar no alvo e adiantar a sua equipa no decorrer da primeira metade. Após o descanso, o Belenenses surgiu mais subido e dominador, mas a profundidade nunca foi suficiente para causar grandes embaraços a Marcos. O Marítimo aguentou bem a ténue pressão e viria ainda a aumentar o 'score', através da eficácia do seu goleador-mor Makukula. Triunfo justo dos madeirenses, embora a diferença tangencial talvez fosse mais ajustada ao que se passou no relvado. Palmas para este Marítimo, tem sido uma lufada de ar fresco neste futebol nacional pouco concretizador e muito jogado aos repelões.


P.FERREIRA - FC PORTO 0 - 2

0 - 1 Lisandro 11'
0 - 2 Lisandro 67'
Na minha opinião, esta foi uma excelente vitória do FC Porto, se tivermos em conta as dificuldades que o Paços impõe a qualquer adversário sempre que actua no seu terreno. O que mais me agradou foi a atitude de querer ganhar revelada por todos os jogadores azuis e brancos, a forma como correram e lutaram desde o início pelos três pontos. Lisandro, sempre ele, personificou na perfeição o espírito de sacrifício colectivo e foi o autor dos golos que selaram a quinta vitória consecutiva do FC Porto nesta liga. O jogo foi extremamente vivo e intenso, com transições rápidas de ambos os lados e a bola a circundar as duas balizas. Na verdade, o Paços foi sempre um rival muito incómodo e procurou jogar no campo todo, mas o certo é que o controlo da partida esteve sempre do lado dos 'dragões' e o resultado acaba por espelhar a diferença de qualidade entre ambos os conjuntos. Nota positiva para os passes para golo de Bruno Alves e Leandro Lima, para a frieza categórica de Lisandro na hora de bater Peçanha e para Jesualdo que, desde o banco, soube ler o jogo, mexer bem nas pedras e no tempo certo. Uma palavra de apreço para a actuação de Edgar como avançado titular. Movimentou-se sempre muito e bem, revelou capacidade para ganhar infinitos lances pelo ar e só uma grande intervenção de Peçanha o impediu de fazer o gosto... à cabeça. O FC Porto segue como líder incontestado e, pelo que se tem visto da globalidade do campeonato, promete manter o estatuto por bastante tempo.


U.LEIRIA - E.AMADORA 0 - 0

A turma de Paulo Duarte já mostrou que o seu forte não é jogar um futebol virado para a frente e procurar fazer golos e este jogo foi apenas mais um exemplo disso mesmo. As ridículas assistências que se dão ao trabalho de ir ver os leirienses mereciam bem mais que dois golos marcados em cinco jogos. É verdade que a U.Leiria mandou no jogo do princípio ao fim, acercou-se inúmeras vezes da baliza amadorense, mas as oportunidades resumem-se a dois lances, um de João Paulo e outro de N'Gal (nem isolado foi capaz de dar uma alegria àqueles adeptos...). O Estrela, muito organizado e pouco audacioso, pouco mais fez que esperar pelo apito final e levar um pontinho para casa. Não está em causa a valia de Daúto Faquirá, mas a mentalidade patenteada neste encontro não faz falta ao nosso futebol. Não prevejo grandes feitos para qualquer destas duas equipas nesta temporada.


SPORTING - SETÚBAL 2 - 2

0 - 1 Elias 41'
1 - 1 João Moutinho 64' gp
1 - 2 Matheus 78'
2 - 2 Purovic 86'
É sempre de saudar um jogo com muitos golos, caso raro nesta jornada e nesta liga em geral, portanto jogos destes são sempre bem-vindos, apesar do relvado lastimável que deve fazer corar de vergonha qualquer responsável sportinguista. Como Paulo Bento admitiu no final, o Sporting entrou a dormir e quase nada fez de relevante durante os primeiros 45 minutos. Ao invés, os setubalenses Matheus, Pitbull e Elias causaram bastantes problemas à defesa leonina, com saídas rápidas para o ataque. Numa delas, Elias abriu a contagem e levou a sua equipa para o intervalo com uma justíssima vantagem. Para a segunda parte, Bento emendou a mão e retirou Farnerud e Gladstone, claramente a mais no onze. As entradas de Izmailov e Romagnoli melhoraram naturalmente o jogo do Sporting que passou a criar uma série de ocasiões para empatar a partida. Golo que chegou de grande penalidade, existente, a castigar uma falta sobre Abel em cima do risco delimitador da área. O Sporting continuou a carregar mas foi o Setúbal que marcou, num remate de Matheus, com muitas culpas para Stojkovic, que continua a acumular erros atrás de erros e a desiludir quem confiou em si. Purovic, finalmente, lá conseguiu acertar com a baliza e dar o empate ao Sporting, mas no final o público não se poupou nos assobios. Até porque, não fosse o árbitro ter-se esquecido de assinalar um penalty claro a favor dos sadinos ainda no primeiro tempo, e este empate seria uma derrota. O que não vale tantas queixinhas...


BOAVISTA - ACADÉMICA 0 - 0

Péssimo jogo de futebol e assim não admira que a maior parte dos estádios portugueses estejam às moscas. Mas alguém no seu perfeito juízo dará o pouco dinheiro que seja (e sabemos que não é) para ver 22 malucos atrás de uma bola?! O Boavista tem um golo marcado em cinco jogos e percebe-se bem porquê: jogadores medíocres e um treinador pouco ambicioso, bem longe daquele que se sagrou campeão nacional em 2000-01. Não iria ver este jogo ao vivo nem de borla e, mesmo pela TV, é grande a vontade de mudar de canal. Ainda assim, os axadrezados podem queixar-se da falta de sorte e da incompetência de Lucílio Baptista. Duas bolas enviadas à trave, por Diakité e Jorge Ribeiro (o melhor em campo), são motivo, de facto, para lamentar a pouca fortuna. Por outro lado, em cima do minuto 90, o árbitro não assinalou uma grande penalidade absolutamente escandalosa, por mão descarada de Cris no interior da área. Erros destes são muito difíceis de digerir e o Boavista pode alegar com razão ter sido prejudicado, mas isso não pode fazer esquecer a confrangedora ausência de futebol na turma do Bessa. Ó Jaime Pacheco, assim não vais lá...




Equipa da Jornada:



Quim (Benfica):
o guardião português atravessa um bom momento e em Braga isso notou-se. Revelou segurança ora nas saídas, ora entre os postes, onde realizou três intervenções salvadoras. A melhor delas, respondendo a um cabeceamento com selo de golo de Linz, foi mesmo a defesa da noite. Não considero Quim um grande guarda-redes, mas, nesta altura, merece mais a titularidade na Selecção Nacional que Ricardo, que se tem fartado de sofrer golos no Bétis.


Abel (Sporting):
não obstante os problemas defensivos sentidos pela inspiração de Matheus, foi absolutamente decisivo nos dois golos leoninos, tendo sofrido a falta que originou o penalty e efectuado o cruzamento para o tento do empate. Uma exibição à sua imagem.


Bruno Alves (FC Porto):
exibiu a segurança habitual a comandar a defesa portista e foi um obstáculo intransponível para os irrequietos atacantes pacenses. Teve ainda tempo para subir ao ataque e lançar Lisandro para o golo inaugural. Assume-se cada vez mais como um jogador de óptimo nível.


Nuno Diogo (Leixões):
marcou o golo que salvou o Leixões de uma derrota caseira diante do Nacional. Subiu à area adversária e fez uso do seu bom jogo aéreo para facturar. Na defesa, exibiu-se em plano regular. O golo que marcou foi mesmo o factor de desequilíbrio face aos restantes centrais, numa jornada em que nenhum brilhou de forma particularmente intensa.


Jorge Ribeiro (Boavista):
o irmão de Maniche agrada-me como jogador e, dada a escassez de laterais-esquerdos portugueses de raíz, poderia ter atingido um patamar mais elevado na sua carreira. Foi o melhor em campo no pobre Boavista-Académica. Subiu sempre a propósito pela sua faixa e ainda enviou uma bola ao ferro.


Flávio Meireles (Guimarães):
magnífica exibição deste vitoriano dos sete costados. Esteve literalmente em todo o lado, varrendo por completo a zona central do terreno, recuperando infindáveis bolas e lançando a sua equipa para a frente. A coroar o seu desempenho, marcou um belo golo de cabeça, respondendo fulgurantemente a um livre lateral. Um líder.


João Moutinho (Sporting):
a mesma qualidade e entrega, mesmo jogando em duas posições distintas: médio-defensivo e médio-ofensivo. É daqueles que só surpreende quando joga mal e o Sporting deve-lhe boa parte da melhoria colectiva no segundo tempo. Facturou de penalty o seu segundo golo nesta liga.


Romagnoli (Sporting):
no banco pela primeira vez esta temporada, o 'playmaker' argentino entrou ao intervalo e mudou completamente o rumo do jogo contra o Setúbal. Correu muito, jogou e fez jogar, deu fluidez à manobra atacante do Sporting, teve boas iniciativas individuais e só não marcou porque Eduardo mostrou atenção.


Desmarets (Guimarães):
embora seja esquerdino, concedo-lhe o lado direito do ataque nesta 5ª jornada. Esteve endiabrado diante da Naval, participando activamente em três dos quatro golos vimaranenses. Enfrenta uma concorrência forte e não é titular indiscutível, mas neste desafio esteve excelente e constitui-se como opção muitíssimo válida para Manuel Cajuda.


Lisandro (FC Porto):
foi a grande figura da jornada, ao apontar os dois golos da vitória do FC Porto na Mata Real, plenos de oportunidade e capacidade goleadora. A juntar ao bis, a habitual disponibilidade para se movimentar por todo o lado, com ou sem bola, atacando ou defendendo. Merece a admiração dos adeptos.


Matheus (Setúbal):
mais uma excelente exibição do extremo-esquerdo brasileiro, que juntando a outras realizadas anteriormente, fazem dele a maior estrela sadina até ao presente momento. Em Alvalade, foi uma seta apontada à baliza de Stojkovic e o golo que assinou foi apenas uma pequena parte do trabalho global. Uma bela surpresa para mim.




O facto:



O aumento da vantagem do FC Porto sobre os seus mais directos adversários na luta pelo título, Sporting e Benfica, são a nota de maior destaque desta 5ª jornada. A procissão ainda vai no adro, mas cinco e seis pontos de diferença, alcançados em apenas cinco rondas, devem ser motivo de preocupação lá para os lados da Segunda Circular. Neste defeso, muitas dúvidas se colocaram quanto à prestação portista, alicerçando-se a argumentação nas pretensas limitações técnicas e motivacionais de Jesualdo Ferreira, nas perdas de Anderson e Pepe, bem como na fraca fiabilidade dos reforços contratados. Por outro lado, a confiança nos clubes lisboetas parecia crescente. Camacho foi visto como o D.Sebastião encarnado, solução para todos os males e garantia de vitórias a curto prazo. Paulo Bento segue no seu prolongadíssimo estado de graça e quase ninguém ousa duvidar da sua valia enquanto treinador. A verdade é que os resultados dão, tal como no começo da época passada, vantagem segura a Jesualdo Ferreira, de nada valendo a ideia quase unânime de que será o pior timoneiro dos três. O momento da quebra azul e branca chegará, empates e derrotas irão por certo acontecer, mas será difícil que o eventual declínio seja tão acentuado como em 2006-07. E Sporting e Benfica também não irão ganhar sempre. Estamos no início, nada está decidido, mas é bom ir lá na frente e ver os adversários ao longe. Para já, o Marítimo é mesmo a principal ameaça.




Assistências:



Naval - Guimarães: 992
Leixões - Nacional: 4.100
Braga - Benfica: 21.804
Marítimo - Belenenses: 5.777
P.Ferreira - FC Porto: 2.689
U.Leiria - E.Amadora: 835
Sporting - Setúbal: 30.106
Boavista - Académica: 4.152
Total: 70.455
Média: 8.806

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A SAÍDA DE MOURINHO


A notícia caiu que nem uma bomba no mundo futebolístico: José Mourinho deixou de ser o treinador do Chelsea! Muita gente dirá que o cenário já era previsível, no entanto, a mim não deixou de causar alguma surpresa e até estupefacção. Tinha consciência das divergências notórias entre ele e o patrão Roman Abramovich, é certo que a combinação do futebol pouco atractivo com os recentes maus resultados poderiam fazer aumentar a especulação, mas não esperava de todo um desenlace tão radical, sobretudo numa fase tão prematura da temporada. A decisão, fala-se, surgiu por mútuo acordo, embora se saiba que a iniciativa partiu logicamente de Abramovich.

O que terá estado na base deste 'golpe de teatro'? Ninguém no seu perfeito juízo associará esta ruptura apenas ao empate caseiro com o Rosenborg, embora ele tenha sido pouco menos que escandaloso. Este péssimo resultado na estreia da Liga dos Campeões serviu apenas como óptimo pretexto para o multimilionário russo levar a cabo aquilo que já lhe estaria na cabeça há já algum tempo. O fraco início de época dos 'blues' foi a justificação perfeita para Abramovich pôr termo a uma relação que objectivamente já não funcionava. Os sinais de desencontro de ideias vinham sendo visíveis já desde a temporada transacta, cujas contratações de Shevchenko e Ballack foram o ponto de partida e a recusa de Abramovich, em Janeiro, da compra do central pedido por Mourinho, o seu auge.

Assim de fora, não é complicado traçar possíveis motivações para este choque de personalidades. Abramovich é o dono do clube, injecta milhões e mais milhões na equipa de futebol, e obviamente julga ter o direito de 'baralhar, partir e dar' em todo e qualquer assunto com ela (a equipa) relacionado. Mourinho é, como sabemos, um treinador de fortíssimo carácter, que gosta de impôr a sua forma de pensar e ter autonomia para tomar as decisões que achar necessárias. Não admite interferências no seu trabalho e só se sente à vontade se tiver total domínio sobre o plantel que orienta.

Isso não aconteceu no Chelsea. Depois de duas épocas fantásticas a nível interno, Abramovich achou-se no direito de começar a interferir no domínio técnico. No arranque para a terceira época da era-Mourinho, obcecado com a conquista da Liga dos Campeões e desejoso de um futebol mais espectacular, resolveu contratar as estrelas Shevchenko e Ballack, ao que tudo indica, sem que essa fosse a indicação do técnico português. Mourinho é apologista de recrutar jogadores ainda à procura da fama, sedentos de vitórias e que se encaixem perfeitamente numa lógica grupal, onde o colectivo se sobreponha aos interesses individuais. Especialmente o internacional ucraniano constituiu sempre uma pedra no sapato de Mourinho, que nunca fez dele titular indiscutível, bem pelo contrário (também se o rendimento de 'Sheva' não foi um zero andou lá perto). Esta situação terá gerado um certo descontentamento do 'big boss', que investiu uma astronómica quantia, sem que houvesse a devida rentabilização desse investimento (o facto de Abramovich e Shevchenko serem grandes amigos pessoais é apenas um promenor...). Numa temporada 2006-07 farta em lesões no plantel londrino, Mourinho reclamou, em Janeiro, o reforço do eixo defensivo, obtendo resposta negativa do russo. O ambiente tornou-se ainda mais tenso, eram perceptíveis algumas indirectas lançadas pelo treinador e percebia-se que a ruptura poderia acontecer a qualquer altura. O futebol, por vezes, de facto, pouco atractivo praticado pelos 'blues', aliado à perda da Premier League para o Manchester United e à eliminação da Champions aos pés do Liverpool, começaram a retirar a paciência a Abramovich, sendo que paciência era aquilo que Mourinho já não tinha para aturar os desvarios do patrão.

Por que razão Abramovich não prescindiu de Mourinho logo no defeso, se manifestamente era essa a sua vontade? Medo, muito medo! Mourinho ganhou seis títulos em três temporadas (2 Premier Leagues, 1 Taça de Inglaterra, 2 Taças da Liga e 1 Supertaça Inglesa), devolveu o título máximo inglês ao clube passado meio século, era idolatrado pelos adeptos, amado pelos seus jogadores e respeitado por todos os seus adversários. Foi, de longe, o treinador mais bem sucedido da história do Chelsea e uma decisão tão problemática não poderia nunca ser tomada num momento qualquer. Havia que esperar pela melhor oportunidade estratégica, leia-se maus resultados em série, no sentido de tentar amenizar a reacção crítica.

Todavia, as manifestações de descontentamento dos adeptos londrinos não se fizeram esperar, numa prova inequívoca de que não aprovaram esta decisão de Abramovich e, mais do que isso, que estão contra o rumo tomado pelo seu clube do coração. As suas perplexidades são as da opinião pública em geral. Sem o técnico luso ao leme, mesmo com a reabertura da 'torneira' financeira, continuará o Chelsea a coleccionar sucessos à velocidade destes três anos? Terá capacidade para finalmente derrotar os colossos europeus e conquistar a Champions? Conseguirá aliar o almejado futebol atractivo com os títulos que todos ambicionam? Parece-me que não! Antes de Mourinho chegar a Stamford Bridge, o emblema azul apenas havia conquistado um campeonato nacional ao longo de todo o seu historial. Talvez volte agora a ser o clube sem expressão que sempre foi. O dinheiro vale muito, mas sem alguém que discipline o gasto e perceba o que está a fazer, pode tornar-se um grande problema, até porque comandar um clube de futebol não é bem a mesma coisa que gerir uma empresa. Roman Abramovich?? Frank Arnesen?? Avram Grant??

José Mourinho, esse, continuará a sua carreira de sucesso noutras paragens, talvez agora num clube à medida da sua categoria. Tirando os clubes ingleses que, ao abrigo de uma cláusula acordada com o Chelsea, não poderão ser um destino imediato, vejo apenas cinco clubes nessa elite: Barcelona, Real Madrid, Milan, Juventus e Inter. Mourinho desempregado é um verdadeiro fantasma para qualquer treinador a trabalhar nestes clubes de topo. À primeira porta que se abrir, será o primeiro escolhido, seja qual fôr o clube. Adorava vê-lo treinar um dos gigantes espanhóis, mas parece-me que Itália nunca esteve tão perto para o 'Special One'... É ele, o melhor treinador de futebol do planeta!

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

SCOLARI: A FIGURA DA NOITE


Já muito se falou do soco que Luíz Felipe Scolari aplicou no jogador sérvio Dragutinovic, no final do Portugal-Sérvia de quarta-feira. Como sempre acontece em casos semelhantes, mais a mais tratando-se de uma figura que objectivamente divide a sociedade portuguesa, as opiniões divergem. Uns pedem a demissão do seleccionador nacional. Outros não acham caso para tanto, mas já não disfarçam a sua antipatia pelo carácter polémico e conflituoso de Felipão. E há também os que o defendem com unhas e dentes, declarando até compreensão para com aquele acto intempestivo. No meio de todo este imbróglio, é visível que, na maioria dos considerandos, não há uma separação entre o murro e a visão de cada um acerca da realidade actual da Selecção Nacional. Os detractores de Scolari, servem-se do triste acontecimento para pedirem a cabeça do técnico. Os seus fiéis seguidores não perdem a oportunidade para dizer que o erro faz parte da condição humana, lembrando depois que Scolari é o treinador mais bem sucedido da história da selecção de todos nós.

Eu separo as águas. A atitude que o 'Sargentão' tomou foi vergonhosa, inadmissível e patética. Um treinador a agredir um jogador adversário é surreal. Por outro lado, penso que, após o Europeu'2008, Scolari só tem um caminho que é a saída. Ressalvo, porém, que estas duas opiniões são completamente independentes uma da outra, ou seja, não é por Scolari ter agredido o defesa do Sevilha que defendo a sua saída no ano que vem. Nem é por achar que o tempo dele aqui está próximo do final que acho aquele soco mais ou menos vergonhoso para o futebol português, ou merecedor de uma pena maior ou menor.

De facto, aquele gesto de pugilato foi miserável. É certo que Drago não foi dar os parabéns a Scolari no final, nem dizer ao Quaresma que é um fã incondicional das suas trivelas. É óbvio que a frustração provocada pelo empate sérvio conseguido à beira dos 90 minutos, mais ainda com um golo irregular, terá facilitado à paralisação momentânea do cérebro do brasileiro. Todos devemos admitir que se formos insultados na cara, numa situação de tensão, não teremos propriamente reacções meigas ou gestos de carinho em resposta. Só que Scolari tem um cargo de responsabilidade e se aufere 150 mil euros por mês, não é só para orientar a equipa nacional, mas também para servir de exemplo aos seus jogadores, aos adeptos, a todos os que acompanham o fenómeno desportivo. Não pode ter uma atitude daquelas! Merece um castigo condizente com o erro que cometeu, o mesmo é dizer uma suspensão temporária. De quanto tempo? A UEFA deve decidir estes casos através de critérios já definidos, digo eu. A FPF, essa, limitar-se-á a assobiar para o lado, uma vez que Gilberto Madaíl não tem pulso para colocar Scolari em sentido ou porque simplesmente não quer gerar ainda mais instabilidade que a que já existe. Daí que não seja de espantar a diferença de tratamento dado pela Federação em relação ao caso de Zequinha: primeiro porque um incidente com a equipa de arbitragem é sempre considerado mais grave que com um adversário, depois porque Zequinha é um 'zé ninguém' e é irrelevante para os objectivos federativos, o mesmo não se passando evidentemente com Scolari. Quer queiramos ou não, seja eticamente mais ou menos reprovável, a verdade é que as coisas se processam desta forma e os fortes têm sempre maior margem de erro que os fracos.

A punição justa para o técnico brasileiro será portanto uma suspensão temporária e uma multa a condizer com o seu salário. Falar-se do seu despedimento imediato é despropositado. Apesar da gravidade do acto, não é razão para um castigo tão severo e, convenhamos, seria uma medida nefasta para a Selecção Nacional atravessar um período de transição técnica numa fase tão importante e decisiva como esta. E se o Presidente da FPF foi eleito para defender os interesses da futebol português, tem então o dever de lidar com esta situação com algum cuidado. Esta é a minha opinião e, como fervoroso adepto da selecção portuguesa, digamos que pertenço à facção dos moderados. E sobre o murro, apesar de tudo, fraquinho, estamos conversados.

Outra discussão completamente diferente prende-se com a realidade actual futebolística desta selecção. Na minha opinião, pior não podia estar. Nunca gostei do personagem-Scolari e acho-o limitado a nível táctico e estratégico. Mas também lhe reconheço méritos na sua capacidade de liderança, motivação e aglutinação de massas em torno de uma meta comum. Achei descabidas, por exemplo, diversas opções que tomou (preterir Vítor Baía em 2004 e Quaresma em 2006 chegou a ser escandaloso), além do ridículo de ter sido necessário perder o jogo inaugural do Euro em Portugal, para perceber que Carvalho, Maniche ou Deco tinham que estar no onze inicial. No entanto, recordo as alegrias que me deu nas boas campanhas no Euro'2004 e Mundial'2006, em jogos verdadeiramente memoráveis com a Inglaterra, Holanda ou Espanha. Isto para dizer que a minha 'relação' com Scolari sempre foi algo ambígua e instável.

Ora, a fase de qualificação para o Euro'2008 está a ser um desastre e Luíz Felipe Scolari é obviamente o primeiro responsável, da mesma forma que foi o principal exaltado nas excelentes campanhas passadas. Tendo um conjunto de jogadores absolutamente notável ao dispôr e comandando claramente a equipa mais forte do seu grupo, Felipão tinha a obrigação de ter já o apuramento assegurado, poupando-nos ao uso da máquina de calcular. Tem denotado uma gritante falta de ambição e espírito de conquista (as contas a pensar nas vitórias em casa e nos empates fora nunca me agradaram), não tem conseguido dos jogadores uma total concentração competitiva e atitude profissional, demonstra insuficiências confrangedoras a ler o jogo e a agir durante o mesmo no sentido de melhorar o desempenho colectivo, teima em deixar no banco jogadores melhores que os seus concorrentes, entre outras lacunas. O jogo com a Sérvia foi disto um bom exemplo. A passividade com que Scolari olhou para o adormecimento dos jogadores no relvado foi a razão fundamental para aquele empate e, depois da atitude pouco ambiciosa com o resultado em 1 - 0, é descabido utilizar a desculpa da arbitragem. Depois, podemos sempre lembrar a derrota e o empate com a Polónia, o empate estúpido na Arménia, e até mesmo os empates na Finlândia e na Sérvia, onde se podia ter ganho com outro tipo de mentalidade.

Na minha opinião, o tempo de Scolari ao comando da Selecção Nacional chegará ao fim com a realização do Euro'2008. Não haverá mais condições para a sua continuidade, dado o desgaste de ambas as partes. Quando partir, não rejubilarei de alegria, nem sentirei qualquer nostalgia. Contribuiu para o engrandecimento do futebol luso, mas não sentirei saudades.

Concluindo, estou com vontade de ver outro seleccionador no comando técnico nacional a partir do Euro'2008, mas a 'esquerda' aplicada a Dragutinovic nada tem a ver com isso. É uma questão meramente futebolística. Até porque ninguém me garante que o seu sucessor não possa fazer melhor.

domingo, 9 de setembro de 2007

GRANDES VITORIOSOS


1ª Liga - 3ª Jornada

Não houve grandes surpresas nesta 3ª jornada da liga. Os três crónicos candidatos ao título venceram os seus opositores, com o Sporting a ser aquele que mais dificuldades sentiu, apesar de jogar em sua casa. Um golo de Liedson já perto do final salvou os 'leões' do empate frente ao Belenenses. O FC Porto foi a Leiria derrotar a União local por margem folgada, à semelhança do Benfica que trouxe da Choupana três golos e pontos na bagagem. O Marítimo continua a surpreender e somou a sua terceira vitória consecutiva (2 - 0 diante da Académica), seguindo no topo da classificação, lado a lado com o FC Porto. O Braga também fez o que lhe competia e triunfou (2 - 1) em casa defronte do E.Amadora. De resto, Naval e Setúbal empataram a zero, P.Ferreira e Boavista empataram a um e, no jogo que tinha aberto as hostilidades, Leixões e Guimarães fizeram-no a duas bolas, num magnífico espectáculo de futebol. Embora estejamos ainda numa fase inicial, a tabela classificativa começa já a fazer uma selecção consoante a qualidade das equipas: os teoricamente mais fortes começam a chegar-se à frente e os mais fracos a ficarem para trás, a excepção será mesmo o Belenenses, de quem se esperava algo mais que o actual pontinho.


Jogos:

LEIXÕES - GUIMARÃES 2 - 2
1 - 0 Paulo Machado 5'
1 - 1 Fajardo 19'
2 - 1 Vieirinha 35'
2 - 2 Fajardo 77'
Foi o jogo de abertura da 3ª jornada e, porventura, o melhor. Fruto da recente rivalidade criada na Liga de Honra e dos problemas havidos entre adeptos no jogo de apresentação da equipa leixonense, este encontro encerrava alguma preocupação, mas tudo acabou por correr pelo melhor. No relvado o espectáculo foi fantástico, com um ritmo elevado, jogadas perigosas e ambas as formações à procura da vitória. Os vimaranenses deram muito boa conta de si, mesmo tendo jogado largos minutos em inferioridade numérica - por expulsão directa de Radanovic -, anulada mais tarde com o duplo-amarelo a Vieirinha. O Leixões foi ligeiramente superior mas o empate acaba por ser o resultado mais justo e o que melhor espelha o desempenho das duas equipas. As cerejas no topo do bolo foram os quatro grandes golos apontados por Paulo Machado, Fajardo (duas vezes) e Vieirinha, com especial destaque para este último, claramente o melhor da jornada. O médio Fajardo foi o melhor em campo e continua a realizar uma temporada de grande nível. A continuar assim dificilmente não estará num grande na próxima época.

BRAGA - E.AMADORA 2 - 1
0 - 1 N'Diaye 8'
1 - 1 Rodriguez 81'
2 - 1 Linz 87'
O Braga vai somando pontos preciosos mas, face às crescentes expectativas, continua sem convencer. Desta feita, sofreu muito para derrotar um E.Amadora muito bem organizado, sempre ameaçador no contra-ataque e muito forte nas bolas paradas. Foi num desses lances que N'Diaye abriu o activo, após livre do lado direito batido por Mateus. O Braga denotou sempre falta de soluções para furar a bem escalonada defensiva estrelista e contam-se pelos dedos as ocasiões em que chegou com perigo junto da baliza de Nélson. Só após a entrada do endiabrado Zé Manel, aos 68 minutos, é que a equipa de Jorge Costa começou a carburar e a colocar em verdadeiro sentido o seu adversário. Desta pressão nasceram os dois golos da vitória bracarense. O primeiro foi da autoria de Rodriguez, após um pontapé de canto. O golo da vitória foi apontado por Linz, na sequência de uma arrancada imparável de Zé Manel, pois claro. O árbitro anulou um golo ao E.Amadora, por fora-de-jogo de Moses, quanto a mim acertadamente, já que, apesar de não tocar no esférico, Moses atrapalha a visão de Dani Mallo, interferindo decisivamente na jogada. Uma vitória arrancada a ferros de um Braga que não deslumbra, mas obtém resultados e segue lá em cima, a par do Sporting.

P.FERREIRA - BOAVISTA 1 - 1
1 - 0 Cristiano 34'
1 - 1 Bangoura 83'
Jogo fraco em que os pacenses fizeram por merecer a vitória, mas um erro inacreditável do árbitro-assistente Serafim Nogueira, que não assinalou um fora-de-jogo de quilómetros a Bangoura, no golo do empate boavisteiro, acabou por definir a divisão de pontos. Na primeira parte, o P.Ferreira foi senhor do jogo, cabendo aos comandados de Jaime Pacheco apenas a tarefa de destruir futebol. Além do golo de Cristiano, realce para uma bola no poste enviada por Furtado. Após o descanso, o Boavista procurou equilibrar, mas sem nunca criar jogadas de verdadeiro perigo. Aliás, a turma de José Mota esteve sempre mais perto de fazer o segundo do que sofrer o empate. Quem não marca sofre, diz o senso comum e é bem verdade, ainda que desta vez o impulso tenha sido dado por um erro absolutamente escandaloso. Mesmo ao cair do pano, o miúdo Ivan teve nos pés o golo da vitória do Boavista que, a bem da justiça, acabou por não acontecer. Duas equipas com um futebol medíocre, que têm muito para melhorar.

NAVAL - SETÚBAL 0 - 0
Um nulo no marcador, num mau espectáculo, onde as equipas jogaram ora devagar, ora devagarinho, ora paradas. Na bancada, pouco mais de um milhar de espectadores. Em suma, um daqueles jogos que não deixam saudades, que contribuem para a fraca imagem da liga portuguesa além-fronteiras. No relvado, a Naval, a jogar em casa, deteve algum ascendente, mas foi ao Setúbal que coube as melhores oportunidades, através de contra golpes rápidos e objectivos. A melhor chance da partida, igualmente sadina, foi na sequência de um livre, em que Adalto fez embater a bola no poste, aparecendo Leandro a recargar por cima. Resultado justo, com ambas as equipas a merecerem terminar o jogo sem golos. Que dizer mais?

MARÍTIMO - ACADÉMICA 2 - 0
1 - 0 Makukula 3'
2 - 0 Bruno 70'
Boa casa nos Barreiros para apoiar um surpreendente Marítimo, que se mostrou forte de mais para uma Académica que parece querer seguir pelo mesmo caminho tumultuoso da época passada. Nem mesmo o facto de terem jogado desde os 7 (!) minutos em superioridade numérica valeu aos 'estudantes'. Manuel Machado terá muito que corrigir daqui em diante, a começar por ele próprio. O jogo começou praticamente com o golo de Makukula, que se isolou após um passe longo e bateu Pedro Roma, perante a passividade da defesa academista. Com o excesso dos festejos e uma entrada dura pouco depois, o goleador-mor maritimista acabou por receber ordem de expulsão, deixando a equipa de Lazaroni a jogar com dez homens. Contra aquilo que seria de esperar, a Académica não aproveitou esse facto, continuando a pertencer aos locais o melhor futebol e as melhores oportunidades de golo, toada mantida ao longo dos 90 minutos. De livre directo, Bruno ainda teve tempo para mostrar o seu talento neste tipo de lances e fixar o resultado num 2 - 0 merecido e incontestável, coroando uma exibição pessoal de alto gabarito. Fábio Felício também esteve em evidência, exibindo um pé esquerdo de largos recursos e sendo um dos principais motores de arranque do Marítimo.

SPORTING - BELENENSES 1 - 0
1 - 0 Liedson 80'

Grande jogo de futebol, com duas equipas à procura do triunfo, embora com natural proeminência do Sporting, vindo de uma derrota no Dragão e com necessidade imperativa de conquistar os três pontos. Os 'leões' tiveram mais oportunidades na primeira parte, mas o remate ao poste de Rubém Amorim - grande exibição do jovem português - foi mesmo o momento mais perigoso a que se assitiu. A segunda metade praticamente começou com o caso do jogo: Liedson surge isolado na cara de Costinha e este derruba-o, o árbitro assinala penalty e expulsa o guardião azul. Decisão inteiramente correcta, na minha opinião, tanto técnica como disciplinarmente; o árbitro fez o que se impunha numa jogada clara de golo travada em falta. Todavia, chamado a marcar o castigo máximo, João Moutinho, sem convicção, permitiu a defesa do recém-entrado Marco. Com um homem a mais, Paulo Bento arriscou e passou a jogar com apenas três defesas, mas o Sporting intranquilizou-se e os problemas para chegar à baliza belenense aumentaram. Só uma bela iniciativa de Vukcevic pela esquerda, que cruzou para Liedson facturar de cabeça, permitiu aos sportinguistas respirarem de alívio. Um jogo muito sofrido, que o '31' do costume resolveu e em que Vukcevic começou a justificar o investimento feito na sua contratação.

U.LEIRIA - FC PORTO 0 - 3
0 - 1 Tarik 37'
0 - 2 Lisandro 49'
0 - 3 João Paulo 65'
Deste jogo sobram várias bases de análise. O jogo não foi famoso, longe disso; o FC Porto limitou-se a jogar o quanto baste para conseguir golear um U.Leiria débil e sem capacidade para acompanhar as mudanças de ritmo esporádicas impostas pelos bi-campeões nacionais. Logo aos 3 minutos, Bruno Alves abriu o activo, mas o árbitro-assistente, de forma errada, assinalou um fora-de-jogo inexistente. Com efeito, coube a Tarik inaugurar o marcador, fruto de um belo trabalho na área leiriense. Já na segunda parte, Lisandro aumentou o 'score' num lance que deveria ter sido invalidado, já que o cruzamento de Bruno Alves para a cabeça do argentino partiu já fora da linha de fundo. Sem forçar mas a dominar por completo, o FC Porto chegou ao terceiro, por intermédio de João Paulo, que respondeu de cabeça a mais um cruzamento açucarado de Quaresma (já o havia feito no primeiro golo). Tudo normal em Leiria: assistência ridícula para o jogo em questão, triunfo do FC Porto sem precisar de se empregar a fundo e posteriores lamúrias dos habituais Velhos do Restelo porque os portistas foram beneficiados, como sempre, dizem eles! Nem sequer me vou dar ao trabalho de rebater estas considerações sobre a arbitragem, as pessoas inteligentes sabem que não houve qualquer influência no resultado, aliás só a supremacia azul e branca sobre os leirienses impediu que o FC Porto pudesse ter sido prejudicado nesta contenda.

NACIONAL - BENFICA 0 - 3
0 - 1 Cardozo 18'
0 - 2 Rui Costa 69'
0 - 3 Cardozo 77' gp
Excelente e volumosa vitória benfiquista num terreno tradicionalmente complicado, perante uma equipa que continua a desiludir na presente temporada. O Benfica foi dono e senhor da partida e o dedo de Camacho começa a fazer-se sentir paulatinamente, sobretudo nos aspectos anímicos e de atitude. O primeiro golo apontado por Cardozo nasceu de um erro clamoroso de Diego Benaglio. Já na etapa complementar, Rui Costa elevou a contagem, na sequência de uma espectacular iniciativa individual, culminada com um remate seco e rasteiro na direcção das redes. Mais tarde, Diego Benaglio derrubou o estreante Maxi Pereira na área e Cardozo aproveitou para bisar e fixar o resultado em 3 - 0. No Benfica, Cardozo começou finalmente a justificar o elevado investimento feito nos seus serviços e fez dois golos. Em destaque estiveram também Petit, Rui Costa e Di Maria (este vai dar que falar). Do lado nacionalista, foi a desilusão total, a começar pelo seu guardião, que com dois erros comprometedores, acabou por facilitar a vida aos encarnados. Apenas o brasileiro Fellype Gabriel se salvou do naufrágio colectivo, com alguns bons apontamentos de ordem técnica e organizativa. Sem deslumbrar, o Benfica venceu tranquilamente e promete melhorias para o futuro.


Equipa da jornada:

Marco (Belenenses): é um guarda-redes interessante e tive pena do azar que sofreu no jogo com o Real Madrid, dando um 'frango' monumental no último minuto e penalizando a sua equipa com a derrota. Chamado ao relvado para substituir o expulso Costinha, mostrou que não se deixou afectar, defendendo o penalty de João Moutinho e a recarga seguinte de Liedson. Em grande.

Abel (Sporting): atravessa um momento favorável de forma e isso notou-se na partida com o Belenenses. Susteve o jogo adversário pelo seu flanco e aventurou-se inúmeras vezes no ataque com clarividência. Tentou o golo, sem sucesso.

Polga (Sporting): mais um jogo de altíssimo nível, especialmente no período em que Paulo Bento apostou numa defesa a três. Sou um admirador confesso da classe deste central brasileiro, o mesmo parece não suceder com o seleccionador brasileiro Dunga, que recentemente convocou para o 'escrete' o sportinguista... Gladstone!

Ediglê (Marítimo): segunda nomeação para a equipa da jornada deste central brasileiro. Imperial e sereno na defesa, teve ainda engenho para isolar Makukula no primeiro golo maritimista, com um passe de longa distância. Estrangeiros desta qualidade são sempre bem-vindos ao futebol português.

Fábio Felício (Marítimo): à falta de um lateral-esquerdo de raíz em particular evidência, optei por adaptar este médio/extremo canhoto ao sector mais recuado. A quantidade de jogo que sai daquele pé esquerdo e a precisão dos seus cruzamentos são impressionantes.

Rúben Amorin (Belenenses): grande exibição do jovem português em Alvalade. Assume-se cada vez mais como o patrão do meio-campo belenense com o seu futebol adulto, personalizado e objectivo. Além de pautar o ritmo da sua equipa, teve tempo ainda para protagonizar o lance de maior perigo para Stojkovic, rematando de fora da área ao poste. Petit e Raúl Meireles também estiveram em excelente plano.

Fajardo (Guimarães): ou muito me engano, ou Fajardo não vai permanecer muito tempo na Cidade-Berço. Mais uma espectacular actuação do médio, coroada com dois golos frente ao Leixões, o segundo dos quais soberbo. É um típico '8', aquele médio que dá intensidade ao jogo, defendendo e atacando com igual eficácia. Um pequeno Maniche.

Rui Costa (Benfica): a sua genialidade continua intacta e o golo que marcou ao Nacional é a prova disso mesmo. Jogando mais recuado que o normal, procurou auxiliar Petit na luta do meio-campo e foi o estratega de todo o futebol ofensivo com a habitual excelência do seu pé direito, não sendo visíveis limitações físicas relevantes. É de saudar este ressurgimento do verdadeiro '10' lusitano, depois das lesões que insistentemente o apoquentaram em 2006-07.

Liedson (Sporting): desempenho ao seu estilo. Sempre muito incómodo para a defensiva contrária, correu quilómetros e exibiu a habitual qualidade na posse da bola. Sofreu a falta que originou a grande penalidade e marcou o golo que decidiu a contenda, num magnífico cabeceamento como vem nos livros, somando dois no campeonato em curso.

Cardozo (Benfica): o 'Tacuara' começou enfim a fazer aquilo para que foi contratado a peso de ouro. Não é jogador para progredir com a bola no pé, antes decidir em um/dois toques. Foi o que sucedeu na Choupana: marcou dois golos de pé esquerdo e falhou outro praticamente feito. Veremos se mantém a performance futuramente.

Di Maria (Benfica): o internacional sub-20 argentino parece mesmo ser jogador. Efectuou uma exibição de encher o olho na Madeira, estando muito activo no flanco esquerdo, onde patenteou velocidade, criatividade, visão de jogo e capacidade de drible. Pode vir a ser uma das grandes revelações da prova.


O facto:

A liderança do Marítimo ao fim de três jornadas, fruto de três vitórias e nove pontos conquistados merece ser amplamente aplaudida. Nem nos melhores sonhos os adeptos verde-rubros esperavam um desempenho tão auspicioso neste começo de temporada. O principal obreiro é forçosamente o treinador brasileiro Sebastião Lazaroni, que incutindo um modelo de jogo virado para o ataque, além das vitórias, tem levado o Marítimo a produzir do melhor futebol que se tem visto neste campeonato. Costuma dizer-se que quando chega um técnico novo, leva algum tempo até conhecer os jogadores e acentar ideias quanto a modelos, sistemas e opções. A verdade é que Lazaroni tem já ideias muito concretas sobre aquilo que pretende para a sua equipa. O 4-3-3 é o sistema incontestado e as opções revelam já uma definição assinalável de convicções, de tal forma que o onze inicial foi o mesmo nas três jornadas até agora disputadas, e mesmo os que saltaram do banco foram no mesmo sentido. Marcos tem sido o guarda-redes escolhido. Ricardo Esteves, Van der Linden, Ediglê e Evaldo formaram o quarteto defensivo. Na linha média, as opções recaíram em Bruno, Olberdam e Marcinho. Na frente de ataque, o trio constituído por Kanu, Makukula e Fábio Felício. As alternativas vindas do banco, resumiram-se a Márcio Mossoró, Luís Olim e Wénio. Com a liderança do velho Lazaroni, que, recorde-se, já foi seleccionador do Brasil, o comportamento dos jogadores tem sido notável. As minhas escolhas para a equipa da jornada mostram isso mesmo: o Marítimo é o líder nessa contabilização com sete presenças - Ediglê (2), Ricardo Esteves, Makukula, Olberdam, Kanu e Fábio Felício. Acresce o facto de Makukula ser, juntamente com o vimaranense Fajardo, o líder dos melhores goleadores da liga com 3 golos. Esta formação está pois de parabéns e, perante tão boa campanha, é impossível não nos lembrarmos do fantástico Marítimo de Paulo Autuori que encantou todos os portugueses em meados da década de 90. Que continue assim.


Assistências:

Leixões - Guimarães: 4.476
Braga - E.Amadora: 9.781
P.Ferreira - Boavista: 1.679
Naval - Setúbal: 1.077
Marítimo - Académica: 5.001
Sporting - Belenenses: 32.266
U.Leiria - FC Porto: 4.450
Nacional - Benfica: 4.711
Total: 63.441
Média: 7.930