quarta-feira, 7 de novembro de 2007

À PORTA DOS 'OITAVOS'


Já não ía ao Dragão há algum tempo, precisamente desde o jogo de apresentação desta temporada, frente ao Mónaco. Ontem voltei a fazê-lo, curiosamente em mais um jogo com franceses. Com a vitória (2 - 1) alcançada frente ao Marselha, o FC Porto deu um passo de gigante rumo à qualificação para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. E mais do que isso, tem tudo para ser primeiro, o que, olhando para o que se vai passando nos outros grupos, pode ser importante. O FC Porto continua, sem surpresa, a ser o único clube português a fazer alguma coisa de jeito nas provas internacionais. É pena. O futebol nacional precisa que outros clubes remem no mesmo sentido, façam qualquer coisa de positivo, amealhem pontos para o nosso ranking da UEFA.

Do jogo propriamente dito não gostei. O FC Porto nunca teve a atitude autoritária que se impunha perante uma equipa que anda pelas ruas da amargura na liga gaulesa. Quando teve a bola, revelou imensos problemas na construção de jogo. Quando a não teve, deixou jogar, não foi agressivo na recuperação do esférico, não preencheu os espaços de forma harmoniosa.

É verdade que Lucho fez muita falta, mais a mais numa altura em que está em clara ascenção. Mas tinha que ser Cech o substituto? Alguém me explica que predicados tem este eslovaco para ser um médio do FC Porto num jogo da Champions? Alternativas? Eu sei que Leandro Lima, Mariano González ou Kazmierczak ainda pouco mostraram. Ou que Bolatti, junto de Paulo Assunção, era capaz de ser contenção demasiada. Ou que Postiga a fazer de '10' podia ser uma opção arriscada (não pelo que o Marselha pudesse fazer, mas por que com Postiga nunca se sabe muito bem...). Agora o Cech... O rapaz não sabe criar absolutamente nada, não assume o jogo, falha passes a torto e a direito, sob pressão perde clarividência. Ok, ele é defesa-esquerdo, não tem culpa de não ter qualidade para jogar a médio, culpa tem quem o colocou nessa posição.

O FC Porto foi quase sempre uma equipa desligada, não praticou um futebol envolvente, mostrou poucas soluções para contrariar um Marselha bem estendido no campo e quase sempre mais rápido sobre a bola. A capacidade de pressão foi nula durante largo tempo e o resultado foram inúmeras trocas de bola dos franceses nas imediações da área portista, embora sem nunca importunarem Helton de forma preocupante. Raúl Meireles fez um jogo mediano, foi pouco dinâmico, quer no papel defensivo, quer ofensivo. Paulo Assunção foi, na minha opinião, o melhor jogador em campo. Com um sentido posicional soberbo e sempre intenso nas movimentações, provocou infinitas vezes a inflexão do sentido da bola. Foi uma das chaves do sucesso.

Na defesa, Bruno Alves foi o único com uma actuação positiva. Intratável em todos os lances, pelo ar ou pelo chão, começa a fazer da regularidade a sua imagem de marca. De resto, o panorama foi fraquinho. Stepanov deixou-se antecipar no golo de Niang e teve ainda duas ou três hesitações pouco recomendáveis, além de um ou dois alívios para a bancada completamente desnecessários. É um belo central, mas denotou uma certa intranquilidade neste jogo. Bosingwa e Fucile pura e simplesmente não existiram ofensivamente e, a nível defensivo, não tiveram a solidez que se lhes exige, particularmente o uruguaio.

Lá na frente, Quaresma esteve horrível. Está a atravessar um mau momento, em que praticamente nada lhe sai bem. Perdeu praticamente todas as bolas que recebeu, quanto mais o assobiaram, mais individualista se tornou, mais bolas perdeu. Depois, aquela atitude aparentemente desinteressada do jogo, é algo que me desagrada profundamente. Deve esforçar-se mais, lutar mais, correr mais. Atenção que ele é o melhor jogador do FC Porto, admiro o seu talento sublime e foi graças a um cruzamento seu que Lisandro deu a vitória aos 42.217 espectadores presentes. Contudo, tenho a certeza que com uma mentalidade mais adulta e consciente, o 'Cigano' poderia ser ainda melhor, pertencer à elite restrita dos melhores do mundo. O já citado Lisandro foi o costume. Além do fantástico golo que marcou e da bola que enviou à barra, foi o jogador que mais correu na frente de ataque azul e branca e que mais trabalho deu aos defesas adversários. Procurou sempre os espaços, percorreu toda a largura do campo, pressionou a defesa francesa, denotou qualidade com bola. Absolutamente decisivo. Que grande jogador! Era esta a mentalidade que queria ver em Quaresma... Do Tarik, que posso dizer depois de um golo daqueles? Lembrei-me do Messi no momento dos festejos dessa autêntica obra prima. No resto do jogo, esteve sempre bastante activo e inspirado, as acções individuais saíram-lhe bem, teve bons pormenores e saiu do relvado debaixo de uma estrondosa e merecida ovação. Defendi a sua permanência no plantel face à escassez de extremos e, apesar de não ser grande fã do marroquino, tiro-lhe o meu chapéu. Enquanto jogar assim, e estou aqui a descontar o golo, terá o meu apoio.

Postiga foi muito importante na viragem do jogo e no assédio portista a partir do 1 - 1. Trouxe vivacidade e qualidade no contacto com a bola. Aqueles pés são perfumados, movimenta-se bem, participa no jogo colectivo. Quem me conhece sabe que nutro especial admiração por Hélder Postiga. Mas falta-lhe algo para poder chegar ao topo. Oxalá não estejamos perante mais uma daquelas típicas promessas eternamente adiadas. Bolatti foi igualmente relevante, na medida em que deu mais equilíbrio a um sector onde Meireles se mostrava claramente deficitário.

Jesualdo Ferreira parece-me que errou ao colocar Cech como titular do meio-campo e terá pecado pela demora em reagir aos acontecimentos nada animadores. Cedo se percebeu que a equipa não estava a funcionar colectivamente e havia que se proceder a modificações. Não deixa, porém, de ser verdade que quando agiu, fê-lo de forma acertada, o que mudou o rumo do jogo e permitiu ao FC Porto conquistar três pontos providenciais. Vitória sofrida mas justa.

Estou confiante no apuramento e até na manutenção do primeiro lugar do grupo. O FC Porto continua sem deslumbrar, é certo. Mas segue na frente da liga portuguesa e prova-se a cada dia que é a única equipa lusa com verdadeira dimensão europeia.

9 comentários:

Futebolas disse...

Gostaria de o convidar a dar um salto até ao Futebolas (http://www.fute-bolas.blogspot.com). Estamos agora a dar o pontapé de saída, mas queríamos começar a dar a conhecer o espaço.

Abraço.

quintarantino disse...

Caríssimo, o quão lastimo que possas escrever tão pouco.
Análise escorreita e a colocar os pontos nos "iii's".
Stepanov é um bom central, mas sempre lhe vislumbrei dificuldades ante avançados rápidos ou em certo tipo de lances. Também não sei se Helton não estava um bocadito na Lua...
Quaresma continua a irritar, mas ninguém pode dizer ou escrever nada sobre o menino.
Hélder Postiga é aquilo e já dali não sai.
Gostei de Assunção (e Jesualdo que o queria despachar), Bolatti, Lisandro e do Tarik.
Dos reforços que citaste será que teremos de esperar um ano para os ver valer alguma coisa ou os Farias, Gonzalezes, Karm's e afins são mesmo barretes?
Sempre que possas, visita-nos no outro lado. Como te disse, apareces e escreves pouco. E é pena.

Filipe Soares disse...

Bruno, tens andado desaparecido...
Sobre o Porto, eu tb estive no estádio e tb não fiquei lá muito agradado com a equipa. Concordo contigo em relação ao Cech, para mim o lugar do Lucho devia ter sido dado ao Leandro Lima. Mesmo que tenha estado mal com o Belenenses, ninguém garante que desta vez não pudesse estar melhor. E o jogo era para ganhar, era preciso atacar, acho que o puto podia ter sido bastante útil.
O Tarik lembrou-se de fazer aquela jogada espectacular e o Lisandro foi aquilo que nós sabemos. Como disseste tb, o Assunção fez um óptimo jogo, segundo a UEFA foi o jogador que mais correu em campo, cerca de 12 kms...
Valeu a vitória, estamos bem lançados para a fase seguinte, ao contrário dos clubezecos da Mouraria, que o que melhor sabem fazer é rebaixar o nome do país...

Gerson Sicca disse...

Pelo q vejo daqui, se o Quaresma não jogar o Porto fica meio quebrado. E ainda sem o Lucho González. O pior na liga está mais adiante, mas o Porto é hoje o único time com camisa pra incomodar.
Outra coisa: o futebol francês é uma pobreza. Ganhar deles não quer dizer muita coisa. O campeonato da França é uma dureza de assistir.
Abraço

Bruno Pinto disse...

Filipe, essa do Paulo Assunção ter sido o que mais correu durante o jogo não me surpreende. Ao ver o jogo, comentei que ele estava a ser o melhor em campo, porque viu-se bem todo o trabalho que fazia, as bolas que recuperava, não se limitanto a estar especado na sua posição de origem, antes abrangendo uma enorme facção do relvado, posicionando-se nos locais certos quando tinha que ser. Correu muito e bem. Até porque Meireles esteve pouco intenso e Cech, pura e simplesmente, não sabe jogar ali. Valeu-nos o Assunção em várias alturas do jogo. Ele é enorme e, como diz ali o Quintarantino, pensar que o queriam dispensar... Seria um escândalo!

Anónimo disse...

O Porto fez um jogo fraco e teve a sorte do jogo, marcou quase à beira do fim. O Marselha é uma equipa frágil e o Porto nota-se que não anda lá muito bem. Vence mas não convence. Neste jogo, salvaram-se apenas os grandes golos, porque de resto foi pobre... Benfica e Sporting jogaram melhor mas não ganharam... Talvez quando a fortuna for igual para todos se comece a notar o que realmente valem os três grandes...

Paulo Pereira disse...

Tás a ver k hoje é o dia das boas notícias: até deparo com novo artigo teu:)

Olha, apesar de ser redundante, volto a frisar a tremenda qualidade dos teus artigos. Depois de um interregno de alguns dias, é sempre óptimo ler-te...

Qt ao artigo em si,não podia estar mais de acordo. Salvou-se o mais importante: os 3 pontos! A exibição foi sofrível, má demais para quem tinha orbigação de controlar o ritmo do jogo. Concordo na análise à aberração do ano: Cech no meio-campo???? Porquê????

Como era previsível, foi uma unidade a menos, num jogo em que o Porto venceu pelo espírito de luta e crença demonstrado, conseguindo, após as substituições de Jesualdo, ter 20 minutos finais de bom nível.

Quaresma está mal, mas consegue ser acutilante e participar nos momentos mais decisivos. Tem tb, pelo k li numa análise estatística, trabalhado em prol da equipa. Foi o 3º jogador da equipa com mais quilómetros percorridos, prova cabal de que o antigo jogador egoísta está consciente actualmente k o esforço tem k ser feito em prol do colectivo.

Mais uma vez, gostei de Postiga, tal como em Braga e frente ao Sporting, em que entrou bem, com sentido de baiza. Não compreendo é o hiato que lhe é destinado, pois a sistematica ausência dele da equipa não contribui para o aumento dos indíces de confiança.

Para manter tudo na mesma, até temos novo comentário do Ruben, onde agora as queixas já não são direccionadas para o sistema ou apito dourado, mas para questões mais metafísicas, ao bom estilo de Camacho. A diferença, pelos vistos, é na sorte ou azar. A qualidade não tem peso, nesta "brilhante" equação do Ruben. Ele há cada um....

Anónimo disse...

Quem ler aqui o Mr. Paulo, fica com a ideia que o Porto joga um futebol demolidor e domina tudo e todos... O Porto ganhou a uma equipa medíocre francesa, jogando mal, muito mal ("A exibição foi sofrível", dizes tu, para um doente como ele dizer isso...) e marcando perto do fim. Ninguém pode dizer que o Porto não teve sorte. Como ninguém pode dizer que o Benfica não mereceu outro resultado em Glasgow e que o Sporting não teve azar com a Roma, sofrendo o golo do empate em cima da hora, depois de uma bela exibição. Mais cabecinha e menos palas, Mr. Paulo...

PB disse...

O Porto está praticamente apurado para os oitavos-de-final. Basta bater o Besiktas, o que não deve ser nada difícil. O Porto até pode dar-se ao luxo de perder em Liverpool que passa o grupo, e em primeiro!
Abraço, Bruno

Pessoal visitem: www.rola-bola.blogspot.com