terça-feira, 26 de maio de 2009

SONDAGENS (2)


Está encerrada a segunda sondagem aqui do blog. Depois de conhecidos os finalistas da competição, a pergunta impunha-se: 'Quem ganhará a Liga dos Campeões 2008-09?'. Foram registados 16 votos, cuja distribuição foi: 10 votos (62,5%) para o Manchester United, 6 (37,5%) para o Barcelona. A final de Roma será talvez o jogo mais aguardado desta década. Estamos em presença das duas melhores equipas europeias da actualidade, cada qual com a sua forma de jogar, mas ambas vocacionadas para o futebol de ataque e com os olhos postos na baliza adversária. Além disso, há também o duelo particular entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, os dois melhores jogadores do mundo nesta altura. Quem ganhar, poderá marcar pontos decisivos para a conquista do próximo FIFA World Player. Votei no Manchester United, estou a torcer pelos 'red devils' nesta final e penso que têm todas as condições para ganhar. Amanhã se saberá.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

TETRACAMPEÃO


O FC Porto continua a sua caminhada triunfante no domínio hegemónico do futebol português, demonstrando cada vez mais que é demasiado forte para a realidade em que está inserido. O Tetra é o corolário lógico da organização de excelência, da competência, da estrutura sólida e, como disse Pinto da Costa recentemente, do saber escolher os melhores para servirem o clube. Um deles foi Jesualdo Ferreira. Dos quatro títulos ganhos, os três mais recentes foram conquistados pelo treinador transmontano, que reclama assim, para si, um lugar na história do FC Porto. É, juntamente com Artur Jorge, o único técnico que logrou alcançar três campeonatos para os 'dragões', sendo que no seu caso foram alçançados de forma consecutiva, facto inédito em todo e qualquer treinador português, no FC Porto ou noutro clube.

Após três épocas de trabalho no Dragão, cujos resultados foram sempre positivos, Jesualdo Ferreira experimenta, finalmente, algum reconhecimento por parte dos portistas e da crítica em geral. Mais vale tarde do que nunca! Como é sabido, 2008-09 não começou propriamente bem para a equipa azul e branca. O epicentro dessas dificuldades deu-se em Londres, diante do Arsenal, em que os portistas sofreram uma copiosa derrota por 4-0 para a Liga dos Campeões. O timoneiro portista, que até essa altura sempre teve mais detractores que admiradores, mesmo com dois campeonatos ganhos e duas carreiras europeias meritórias, foi autenticamente linchado na praça pública e quase toda a gente pediu o seu despedimento. Se na hora dos triunfos, nunca teve grande apoio popular e o seu contributo sempre foi desvalorizado (ou era a organização do FC Porto que fazia de qualquer treinador campeão, ou era o facto de ter herdado uma equipa já concebida por Co Adriaanse, ou era porque tinha melhor plantel que os rivais, etc), não era num momento de crise desportiva que iria ter opiniões favoráveis. Mas Jesualdo resistiu, a equipa melhorou, os resultados começaram a aparecer e o seu trabalho ao longo desta temporada foi demasiado evidente para não ser unanimemente reconhecido.

Até a equipa entrar numa espiral de vitórias, o trajecto foi sinuoso e difícil. O clube perdera no defeso Bosingwa, Paulo Assunção e Quaresma, três peças nucleares nas temporadas anteriores. Alguns jogadores de qualidade duvidosa foram contratados e, na sequência de alguns maus resultados e exibições, o cepticismo quanto à qualidade do plantel começava a subir exponencialmente. Na realidade, considero o plantel portista desta temporada mais fraco que o da anterior. Acho também que se compararmos jogador a jogador isoladamente, o Benfica, por exemplo, dispôs de mais e melhores recursos. É certo que hoje é mais fácil destacar algumas unidades portistas, fruto do crescimento colectivo e da dinâmica ganhadora que se gerou. Mas não nos esqueçamos da maneira como eram vistas algumas dessas unidades numa fase inicial. Sapunaru era medíocre, fraco a atacar e pouco fiável a defender. Cissokho era muito verde e denotava claras lacunas defensivas. Rolando e Fernando não passavam de jovens promessas. Rodríguez demorava a encontrar-se e a repetir o nível evidenciado no Benfica. Hulk era excessivamente individualista.

Assim ao acaso, acabo de mencionar seis nomes chegados ao FC Porto apenas nesta temporada e que fizeram parte do seu onze-base. Qualquer um deles bastante jovem e sem experiência ao mais alto nível - nenhum se tinha ainda estreado na Champions. O grande mérito de Jesualdo Ferreira foi precisamente esse: capacidade para pegar em meia-dúzia de novatos, mesclá-los com os mais experimentados e já 'residentes' no clube, fazê-los crescer no meio de uma pressão de ganhar asfixiante e sair campeão nacional. Desta vez não há forma de desvalorizar a sua prestação, a sua quota-parte de responsabilidade no título nacional. Muita gente foi obrigada a meter a viola no saco e render-se à evidência, da qual nunca duvidei: Jesualdo Ferreira pertence à elite dos treinadores portugueses e não recebe lições de muita gente.

Hoje em dia, depois de participarem num colectivo forte, com um modelo consolidado e uma forma de jogar aprimorada, Sapunaru apresenta-se muito mais seguro, Cissokho já é falado para a selecção francesa, Rolando já chegou à selecção portuguesa, Fernando é o pêndulo do meio-campo e o elemento que garante os equilíbrios da equipa, 'Cebola' Rodríguez pôs os benfiquistas a chorar e Hulk cotou-se como a grande sensação desta temporada no futebol português. Além disso, Mariano resolveu o seu problema de ansiedade e apareceu em grande sempre que a equipa precisou dele; Raúl Meireles confirmou que se trata de um médio fantástico, de categoria internacional mesmo; Farías mostrou que é felino dentro da área, tendo apontado uma excelente cifra de golos para o escasso tempo de utilização; Tomás Costa mostrou-se útil em certas ocasiões, apesar de algumas limitações. Tudo isto, note-se, numa época em que o duo Lucho-Lisandro esteve abaixo do seu rendimento normal (no caso de 'Licha', refiro-me apenas à fraca veia goleadora face ao ano transacto, visto que em termos de inteligência de jogo, participação no processo colectivo e espírito de sacrifício, manteve-se igual a si próprio: soberbo).

Este êxito foi obra de muita gente. Dos jogadores, destaco, fundamentalmente, Bruno Alves, Raúl Meireles e Hulk, e num segundo plano, Cissokho, Fernando, Rodríguez, Lisandro e Mariano. Mas um homem sobressai naturalmente e esse só pode ser Jesualdo Ferreira. A confirmação da sua continuidade para 2009-10 é apenas uma questão de tempo, só se estranhando a demora da SAD portista em torná-la pública, resolvendo fazer dessa questão um tabú quando não havia necessidade. Era escusado que Jesualdo tivesse estado sujeito a tanto falatório e a perguntas insistentes acerca do seu futuro em todas as conferências de imprensa. Julgo que merecia uma tomada de decisão mais determinada e, sobretudo, atempada por parte dos responsáveis portistas. Seria um prémio justo para o magnífico trabalho que vem desenvolvendo no Dragão.

Enquanto portista, gostaria de dedicar este Tetra a todos os infelizes que passaram a temporada a arranjar as mais variadas formas de depreciar os méritos de dirigentes, treinadores, jogadores, funcionários e adeptos do FC Porto. É também por vocês que cada vez me dá mais gozo festejar estas sucessivas vitórias. Que tal aprenderem com quem sabe, em vez de continuarem incompetentes toda a vida?

quinta-feira, 30 de abril de 2009

O IMPROVÁVEL O'SHEA


Um golo apenas foi marcado na primeira-mão dos jogos das meias-finais da Champions. Em 180 minutos de futebol, protagonizados por quatro das melhores equipas do mundo, só por uma vez se sentiu a alegria do golo. O defesa irlandês O'Shea foi o autor da proeza! Ironicamente, com uma infinidade de estrelas cintilantes sobre os míticos relvados de Camp Nou e Old Trafford, acabou por ser o pior jogador de todos os que actuaram (sim, estive a ver um a um e não há pior que O'Shea...) a alcançar o objectivo supremo de um jogo de futebol. Cristiano Ronaldo, Messi, Lampard, Henry, Xavi, Rooney, Iniesta, Eto'o, Fabregas, Drogba ou Adebayor estiveram em campo? Deixem lá isso, o O'Shea resolve!

Estas 'meias' eram aguardadas com enorme expectativa por toda a gente que gosta de futebol. Quatro equipas fortíssimas, apologistas do futebol de ataque, faziam antever duelos emocionantes e de grande espectáculo. Jogada a primeira metade da eliminatória, tal expectativa saiu completamente defraudada, não só pelo mísero golo marcado, mas também porque os encontros não se desenrolaram com o equilíbrio e a competitividade desejáveis. Em Barcelona, só os catalães, embora sem muito engenho, procuraram atacar e ganhar o jogo. O Chelsea foi para defender e estacionou o 'autocarro' no seu meio-campo defensivo, acreditando que conseguirá resolver a questão em sua casa. Em Manchester, o Arsenal praticamente não existiu ofensivamente. O 1-0 é demasiado curto para o domínio avassalador do United e para as inúmeras oportunidades que desperdiçou.

O Barcelona tem exibido ao longo desta temporada o melhor futebol da Europa. Arrisco mesmo a dizer que desde que acompanho este fenómeno com consciência - 1992, 1993, por aí... -, este Barça de Guardiola é o conjunto que melhor futebol vi praticar. Interpreta quase na perfeição os diferentes momentos do jogo. É uma equipa que tem uma obcessão incessante pela posse de bola, procurando passar o maior tempo possível em organização ofensiva e o menor tempo possível em organização defensiva. A atacar, privilegia o jogo de passes e apoios constantes, a dinâmica de todos os jogadores e a procura da melhor decisão em cada lance. A defender, pressiona o adversário em zonas altas e de forma intensa, tentando recuperar a bola o mais rápido possível, além de raramente se desequilibrar ou desposicionar. Consegue igualmente ser muito eficaz nas transições ofensivas rápidas, bem como na transposição para a defesa quando perde o esférico. É um verdadeiro harmónio. Depois, a qualidade individual dos jogadores encarrega-se de dar corpo à ideia de jogo de Guardiola - tenho uma camisola do Barcelona com o seu nome, porque o admirava profundamente enquanto jogador, admiração essa que tem vindo a aumentar ainda mais, por ter sabido transportar a sua filosofia como jogador para a forma de pensar enquanto treinador.

Por estas razões, não sou dos que censuram a postura ultra-defensiva do Chelsea na Cidade Condal. Guus Hiddink percebeu que dificilmente não perderia o jogo se tentasse jogar taco-a-taco e limitou-se a apostar numa estratégia que, à partida, lhe garantia maiores probabilidades de obter um resultado positivo. Não critico. O nulo observado veio ainda mostrar que, apesar da excelência do futebol 'blaugrana', contra equipas muito compactas defensivamente, que sabem ocupar os espaços racionalmente e pressionam fortemente (ainda que em terrenos recuados) no sentido de contrariar o seu jogo fluído habitual, este Barça também sente dificuldades. Muitos dirão que unidades como Messi, Henry, Eto'o ou Xavi não estiveram particularmente inspirados. Nada disso. O colectivo londrino, muito defensivo, é certo, mas organizado, é que não os deixou produzir aquilo que produziram na maioria dos jogos desta época. Há uma velha máxima do futebol que também se aplica a este fantástico Barcelona: uma equipa joga aquilo que a outra deixa jogar. E a verdade é que o Chelsea conseguiu parar o futebol envolvente do Barça, merecendo crédito por isso. Aceitam-se críticas à estratégia escolhida, mas não à forma competente como foi interpretado o que Hiddink delineou. Ainda assim, a postura dos 'blues' em Stamford Bridge terá de ser diferente, mais acutilante e ambiciosa, o que poderá favorecer Messi e companhia. Acredito que o Barcelona passará à final de Roma.

No Man.United-Arsenal, a vantagem mínima é, como disse, muito escassa para a diferença de produção entre as duas equipas. Tendo em conta as oportunidades de golo que os 'red devils' criaram, uma das quais numa 'bomba' de Ronaldo à trave, o mais justo seria uma vitória por uma margem bem mais folgada. Não esperava uma estratégia tão cautelosa por parte de Wenger e nem se pode dizer que os seus pupilos foram competentes na sua execução, pois foram inúmeras as ocasiões que concederam ao United e houve períodos em que foram autenticamente massacrados junto da sua área (coisa que o Chelsea não foi em Barcelona). No entanto, acabaram por ser felizes e conseguiram manter esperanças na qualificação para a segunda-mão.

O Manchester United deu, mais uma vez, uma demonstração de grande poderio e fez jús à sua condição de campeão europeu e mundial. Julgo que passará à final, com maior ou menor dificuldade; a sua superioridade face ao Arsenal é evidente. Até por isso o recente desempenho do FC Porto diante da turma de Alex Ferguson, em que quase repetiu a 'gracinha' de 2004, merece ser realçado na medida apropriada, principalmente pelos muitos anti-portistas primários existentes neste país, bem como por aqueles que sempre acharam Jesualdo Ferreira fraquinho. De facto, o FC Porto é grande demais para este futebol português e, realmente, o técnico portista, nestes três anos que leva no Dragão, tem demonstrado que é fraquinho, muito fraquinho...

Que venha uma final Barcelona-Manchester United e, aí, que seja Ronaldo a confortar Messi...

terça-feira, 3 de março de 2009

BRAGA: À IMAGEM DE JESUS


Sporting Clube de Braga. Há muito que este clube iniciou um trajecto de crescimento sustentado. Na última década, graças a excelentes classificações internas e algumas carreiras europeias de relevo, transformou-se num dos emblemas mais importantes do futebol português. Numa realidade que ainda gira em torno de FC Porto, Benfica e Sporting, são bem-vindos clubes como o Braga, que ousam sonhar, empreender e realizar. Sente-se que, mais cedo ou mais tarde, este clube lutará pelo título nacional, o que só trará benefícios a um futebol demasiado concentrado nas amarras dos três colossos.

Para esta temporada foi contratado o treinador Jorge Jesus, vindo de uma magnífica campanha no Belenenses. Analisando o trajecto da equipa até agora, pode dizer-se que não podia ter sido mais certeira a aposta do presidente António Salvador para a liderança técnica da formação arsenalista. A classificação actual na Liga Sagres pode até ser considerada modesta face à qualidade do plantel. Nacional e Leixões detêm o mesmo número de pontos com menores recursos. O que faz deste Braga um caso merecedor de maior destaque é a ambição com que entra em qualquer estádio e a qualidade do futebol que apresenta. Há equipas que conseguem algum sucesso esporádico, baseando o seu modelo de jogo em premissas como defender atrás e explorar o contra-ataque, apostando na qualidade das suas melhores individualidades e tentando jogar no erro do adversário. Ao contrário, a formação bracarense interpreta um modelo de equipa grande. Assume normalmente o jogo diante de qualquer adversário, jogando olhos nos olhos, procurando ter a bola e dominar o mais possível. A forma como o Braga encarou os jogos com os três grandes, bem como o percurso notável que vem realizando na Taça UEFA, não se deve a uma fortuna casual. É antes fruto de uma aposta arrojada por um futebol positivo e com espírito ganhador.

Jorge Jesus, reconhecido como um excelente estratega e muito competente no plano motivacional, procurou dar corpo à ambição dos responsáveis bracarenses e montou um plantel que lhe desse garantias de poder praticar o futebol desejado. Rico em qualidade e quantidade, é talvez o conjunto de jogadores mais equilibrado da nossa liga, sendo que algumas individualidades são de fazer inveja à grande maioria das equipas portuguesas. Sem surpresa, o Braga tem sido aquela que melhor futebol tem praticado, já que, à categoria do seu elenco, se junta um líder técnico apologista do futebol de ataque, que cultiva o futebol apoiado e a beleza estética do jogo.

O sistema táctico adoptado desde o começo foi o 4-4-2 losango, o predilecto de Jesus. Na baliza, o facto de o Braga contar com Eduardo, actual titular da Selecção Nacional, dispensa mais considerações acerca da sua qualidade. Com uma estampa física assinalável, o guardião natural de Mirandela, revela segurança e bons reflexos dentro dos postes, tendo apenas que melhorar, na minha opinião, na hora de sair aos cruzamentos. Os laterais, João Pereira pela direita e Evaldo pela esquerda, constituem uma das principais forças desta equipa. Bons a nível de posicionamento e intensos na marcação (sobretudo o ex-benfiquista), revelam também grande apetência ofensiva, constituindo uma importante fonte de desequilíbrio na organização defensiva adversária. No centro da defesa, abundam igualmente elementos de grande valor, embora o sector venha sofrendo algumas contrariedades a nível de lesões, nomeadamente Paulo Jorge, Rodríguez e, mais recentemente, Moisés. André Leone e os adaptados Frechaut e Stélvio Cruz são outras opções para o lugar. Sem impedimentos, a dupla mais forte será, porventura, composta pelo brasileiro Moisés e pelo peruano Rodríguez. Feliz do treinador que conta com centrais deste calibre e, adicionalmente, com jogadores polivalentes capazes de fazer a posição com tranquilidade.

No sector intermediário, o panorama continua magnífico. Vandinho é o pivot-defensivo incontestado, conferindo ao colectivo intensidade nos diferentes momentos do jogo. A simplicidade de processos e a qualidade de passe são dois atributos que estão sempre presentes no desempenho do 'trinco' brasileiro. É um dos melhores da equipa. Como médios interiores, os titulares por princípio, são Alan, na meia-direita, e César Peixoto, no lado oposto. Este duo é uma das chaves do futebol do Braga, pela facilidade com que jogam, ora mais por dentro, ora encostados à linha. Esta flexibilidade, consoante a equipa está a defender ou a atacar, tornam a equipa mais imprevisível e, por conseguinte, de mais difícil anulação. De realçar ainda, o diferente perfil de ambos: Alan mais veloz e explosivo, Peixoto mais inteligente e seguro. Que melhor combinação para poder gerir os ritmos ao longo dos 90 minutos conforme o adequado em cada momento? Na posição '10', aparece o uruguaio Luís Aguiar, um médio-ofensivo talentoso e tecnicista, que constrói, cria, inventa, e ainda tem tempo para chegar à área e ameaçar a baliza contrária. O recente golo que apontou em Liége é disso um bom exemplo. Jesualdo Ferreira não o quis, agradeceu Jorge Jesus. Mossoró, Jorginho e Matheus, que já brilharam noutros clubes e são valores firmados no nosso país, são as alternativas mais credíveis para entrar no losango em substituição dos habituais titulares.

Na frente de ataque, a dupla mais frequente é formada por Meyong e Rentería. O camaronês é mais experiente, fruto de algumas temporadas já vividas ao mais alto nível nacional, fazendo da sua capacidade goleadora e mobilidade criteriosa trunfos significativos. Já o colombiano que o FC Porto um dia foi buscar ao Internacional, é um avançado mais 'selvagem', muito rápido, meio desengonçado, mas com muita habilidade. É capaz de falhar as ocasiões mais inacreditáveis, mas também de assinar golos de antologia. Dois atacantes que, não sendo extraordinários isoladamente, funcionam muito bem em conjunto. Prontos a saltar do banco estão o tarimbado Paulo César e a jovem-promessa Orlando Sá, uma das últimas apostas de Carlos Queiroz para a Selecção Nacional.

Esta equipa joga à imagem de Jorge Jesus. Olha qualquer adversário de frente - o Milan que o diga - e pratica um futebol atraente, positivo e virado para o ataque. Sente-se sempre confortável com a bola em seu poder e, por isso, aposta na subida da sua linha defensiva e na concessão de pouco espaço entre sectores, como forma de roubar a bola ao adversário o mais rápido possível. Isto só é possível com uma boa organização colectiva, tanto mais que, dos quatro centrocampistas, três deles são, em si mesmos, de características mais ofensivas. Jorge Jesus criou na cidade dos Arcebispos uma equipa moderna, que actua como um harmónio, em bloco, onde todos defendem, todos atacam, todos pressionam o portador da bola com intensidade, todos revelam qualidade com a bola no pé, todos oferecem algo palpável e sabem qual o seu papel em campo. O resto é o trajecto bonito que temos presenciado.


A ESTRELA:

Luís Aguiar
Médio-ofensivo
17-11-1985, Mercedes (Uruguai)
1,83 m
Titular indiscutível desta equipa como 'playmaker', é um médio de grandes recursos técnicos e excelente visão de jogo. Alia magníficas capacidades, quer ao nível da decisão, quer ao nível da execução. É apologista da beleza das coisas simples e bem feitas, nunca adornando os lances em demasia. Esquecido no FC Porto, 'estagiou' no E.Amadora e na Académica, chegando a Braga para se exibir como a autêntica estrela da companhia.


OUTROS DESTAQUES:

Vandinho
Médio-defensivo
15-01-1978, Cuiabá (Brasil)
1,83 m
Um dos principais responsáveis pela boa campanha da equipa e pelo bom futebol praticado. É um pivot-defensivo que se adequa na perfeição ao futebol actual, ocupando o espaço de forma inteligente, pressionando com veemência o adversário que aparece na sua zona de acção e lançando os ataques com simplicidade, mercê do seu bom toque de bola. Na minha equipa, atendendo ao contexto que estou a considerar, era um médio-defensivo assim que jogava.

César Peixoto
Médio-interior-esquerdo
12-05-1980, Guimarães (Portugal)
1,82 m
É um dos toques de classe da equipa. Sempre elegante, actua com serenidade e inteligência na meia-esquerda. Dono de um pé esquerdo de eleição, é bom no passe, nos cruzamentos e nas bolas paradas, tornando-se muito importante para o seu treinador. Não é especialmente rápido, mas compensa com a sua faculdade para tomar quase sempre a opção correcta e, com isso, ajudar o conjunto a ganhar jogos.

Alan
Médio-interior-direito
19-09-1979, Rio de Janeiro (Brasil)
1,80 m
Extremo de raíz, foi adaptado por Jesus a interior, por imposição do losango utilizado no miolo. Ainda assim, é o jogador que maior largura empresta a este Braga, pois sempre que ataca, tem tendência a encostar à linha e explorar a faixa lateral direita. É um malabarista, com muita velocidade e habilidade, constituindo-se como um desequilibrador nato. No FC Porto não foi feliz e tenho dúvidas se servirá para uma equipa mais exigente, mas parece feito à medida deste Braga.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A GOLEADA PERDIDA


ATLÉTICO MADRID - FC PORTO 2 - 2
Liga dos Campeões 2008-09 (1/8 Final)
24 de Fevereiro de 2009
Estádio Vicente Calderón (Madrid)
Árbitro: Howard Webb (Inglaterra)
Atlético Madrid: Léo Franco; Seitaridis, Pablo, Ujfalusi, António Lopez; Maxi Rodríguez (Miguel 80'), Paulo Assunção, Raúl Garcia (Maniche 67'), Simão; Aguero (Sinama-Pongolle 56'), Forlán. Tr: Abel Resino
FC Porto: Helton; Sapunaru (Pedro Emanuel 79'), Rolando, Bruno Alves, Cissokho; Fernando, Raúl Meireles (Tomás Costa 90'), Lucho González; Lisandro (Tarik 90'), Hulk, Cristian Rodríguez. Tr: Jesualdo Ferreira
Ao intervalo: 2 - 1
Marcadores: 1 - 0 Maxi Rodríguez 3', 1 - 1 Lisandro 22', 2 - 1 Forlán 45', 2 - 2 Lisandro 72'
CA: Raúl Garcia 24', Sapunaru 27', Lisandro 60', Paulo Assunção 74'


Empate amargo para o FC Porto. Mesmo sabendo que empatar fora, com golos, numa eliminatória da Champions é um resultado positivo, o FC Porto fica a dever a si próprio e a alguns azares, uma vitória na capital espanhola, por números bem expressivos até. Os portistas vulgarizaram o Atlético Madrid e só a falta de eficácia na finalização e a arbitragem caseira impediram o sentenciar, desde já, da eliminatória. Ficou demonstrado que, ao contrário do que havia declarado Paulo Assunção antes do encontro, o FC Porto é, nesta altura, uma equipa muito superior ao Atlético. A forma personalizada e inteligente como se exibiu no Vicente Calderón não foi por acaso.

O FC Porto controlou a quase totalidade do jogo, criou imensas oportunidades claras de golo (muito mais que o adversário) e denotou maior agressividade, objectividade e lucidez. Soube sempre o que tinha de fazer para levar o perigo à baliza madrilena. Tivesse existido maior frieza na hora de definir as jogadas e poderíamos estar perante um desfecho humilhante para o Atlético, tantas foram as vezes em que o trio ofensivo azul e branco lançou o pânico na defensiva caseira. Este FC Porto está efectivamente talhado para os jogos mais difíceis, onde não tem de assumir o jogo abertamente e em que o adversário lhe concede os espaços necessários para que o futebol explosivo de transições fortes possa surtir o efeito pretendido. Rodríguez e Hulk estiveram particularmente inspirados e foram duas setas apontadas à baliza de Léo Franco. Lucho foi o patrão do meio-campo, com a sua habitual mestria na hora de decidir o caminho a seguir, especialmente durante a primeira parte.

O plano de jogo definido por Jesualdo Ferreira apontava claramente para o triunfo e o desempenho da equipa justificava amplamente tal desiderato. No entanto, estava escrito que este seria um jogo marcado por inúmeras adversidades e que só com muita cabeça e um espírito de grupo muito forte se conseguiria evitar uma injusta derrota. Há muito tempo que não sentia tanto nervosismo a ver um jogo de futebol. A Champions é um mundo à parte, estes jogos têm uma carga completamente diferente dos compromissos internos e ver a equipa a jogar melhor, a merecer golear e a perder, contra uma equipa inferior, com golos falhados em catadupa, uma arbitragem tendenciosa e o 'frango' de Helton em cima do intervalo, estava a deixar-me fora de mim.

Logo aos 2 minutos, o FC Porto mostrou ao que ía: arrancada demolidora de Hulk (é um fenómeno este brasileiro, mas ainda há gente que acha que ele é tudo menos jogador de futebol!), passe para Rodríguez que, já dentro da pequena área, em vez de assistir Meireles para um golo fácil, rematou contra um defesa espanhol. Estava dado o sinal. Só que na primeira vez que chegam à baliza, os 'colchoneros' inauguram o marcador por Maxi Rodríguez, num lance em que Cissokho não efectuou a cobertura ao argentino como devia. Sem nada ter feito por isso, o Atlético colocava-se em vantagem.

O FC Porto, porém, não se ressentiu e a reacção foi enérgica. Hulk foi a principal ameaça nesta fase para os espanhóis que não tinham antídoto para travar alguns piques avassaladores do '12' portista. Forlán ainda teve nos pés o segundo golo (boa defesa de Helton), mas o FC Porto estava a carregar e deliberadamente à procura do empate. Empate esse que foi alcançado aos 18 minutos de forma legal, por Lisandro, mas o árbitro anulou o lance por fora-de-jogo inexistente. Sobre isto, queria manifestar o meu repúdio pelo facto de o narrador da RTP não saber sequer o que é um fora-de-jogo, pois dizer que o lance é bem anulado, por Lisandro estar adiantado em relação ao penúltimo homem do Atlético, mas esquecendo-se que estava em linha com a bola, é surreal para um jornalista desportivo. Sim, depois lá lhe disseram as regras e emendou a mão, mas a incompetência (ou será outra coisa?) estava demonstrada. É este o serviço público que temos.

Mas o golo não tardaria. Após uma falha de Raúl Garcia, Lisandro surge isolado face a Léo Franco e atira a contar, minorando a injustiça que o resultado continha. O FC Porto continuou a dominar as operações e pressentia-se que a qualquer momento poderia passar para a frente. Lisandro teve uma oportunidade flagrante, após excelente jogada de Rodríguez, mas não conseguiu manter o acerto na finalização, permitindo a defesa do guarda-redes. A seguir, foi Hulk que, isolado por uma assistência primorosa de Meireles, permitiu nova intervenção providencial de Léo Franco. O FC Porto já ía justificando a reviravolta, numa partida que mantinha um ritmo elevado. Hulk e Rodríguez continuavam a deixar os adeptos madrilenos apreensivos com as suas 'explosões'. Aos 42 minutos, novamente o 'Incrível' a passar pelo opositor com facilidade e a disparar para a baliza, mas a bola sai a rasar o poste, sem que Lisandro e Rodríguez conseguissem desviar.

A felicidade não quis mesmo nada com os portistas. Neste contexto, o golo de Fórlan, num 'frango' ridículo de Helton (Fernando também não está isento de culpas, pela passividade que mostrou perante a incursão do avançado uruguaio), foi o culminar de uns primeiros 45 minutos do mais inglórios que já vi. Este tipo de erros acontece a todos os guardiões, mesmo aos melhores, mas foi a segunda vez que o brasileiro comprometeu seriamente a equipa num jogo da Champions e tenho dúvidas se terá estaleca para jogar a um nível tão alto. Não escondo que tive um ataque de fúria assim que vi aquela bola a entrar por entre as suas mãos. Ir a perder para o descanso, quando o resultado mais ajustado seria à vontade uns 3 golos de vantagem, era difícil de aceitar.

Na segunda parte, embora o FC Porto não tenha exibido uma supremacia tão evidente, mais do mesmo: FC Porto à procura da igualdade e a falhar oportunidades. Lisandro esteve perto do golo por duas vezes, numa das quais falhando de forma escandalosa, após assistência de Rodríguez que o deixou na cara de Léo Franco. O FC Porto exercia forte pressão e a defesa caseira tremia por todos os lados. Um remate do meio da rua de Raúl Garcia mostrou que o Atlético ainda poderia ser perigoso, mas era ponto assente que os portistas só descansariam quando conseguissem empatar. E conseguiu-o, aos 72 minutos, numa finalização oportuna do inevitável Lisandro, respondendo a um cruzamento bem medido de Cissokho. Gostei de ver os abraços a Helton nos festejos feste golo. É também deste companheirismo que se fazem os campeões.

O jogo tornou-se mais previsível a partir desta altura e com mais incidência sobre o miolo do terreno, com um natural e ligeiro ascendente do Atlético. Simão, Fórlan e Sinama-Pongolle - entretanto entrado - ainda causaram algum perigo, mas a verdade é que nunca houve muito engenho dos comandados de Abel Resino para ultrapassar a equipa portista. O apito final era uma questão de tempo.

O FC Porto deu uma demonstração de força e personalidade. Pode causar alguns estragos nesta competição, com a sua forma de jogar directa e explosiva. É um regalo ver a excelência de algumas transições ofensivas, ainda que neste jogo os erros defensivos primários do Atlético e a rigidez do seu 4-4-2 clássico, que proporciona muitos espaços sempre que o bloco não se posiciona atrás, também tenham ajudado o FC Porto a superiorizar-se em jogo jogado. A exploração das costas dos defesas contrários foi uma constante. No entanto, acho o FC Porto muito passivo quando perde a bola, concede demasiado espaço, não pressiona convenientemente o portador da bola, deixando a equipa adversária avançar no terreno sem grande oposição. Penso que este deveria ser um aspecto a corrigir. De resto, em organização ofensiva, até gostei do jogo de posse de bola que os portistas conseguiram praticar, algo que não é, como se sabe, um dos seus maiores predicados.

Individualmente, acho que Rodríguez foi o melhor jogador em campo. Colocou a cabeça em àgua a Seitaridis com as suas infindáveis arrancadas e foi sempre um dos mais inconformados. Grande jogo do 'Cebola'. Helton esteve sempre seguro, mas aquela falha patética, a fazer lembrar o jogo com o Chelsea há duas temporadas, manchou a sua exibição. Sapunaru fez um jogo medíocre, é fraco e não tem lugar na equipa - foi pena Fucile ter tido problemas físicos que o impossibilitaram de actuar. Cissokho esteve intermitente, tendo feito coisas boas e outras menos boas. Os centrais estiveram em bom plano, dominando o espaço aéreo e revelando sempre concentração máxima. Fernando, à excepção da abordagem ao lance do segundo golo do Atlético, teve um bom desempenho. Meireles fez um jogo fantástico, defendeu e atacou com igual eficácia, valendo-se da sua cultura táctica e capacidade de passe. Lucho foi o cérebro da equipa, na primeira parte esteve soberbo, tendo caído um pouco na segunda, mas ainda a tempo de fazer uma maldade a Ujfalusi. Lisandro falhou golos que não se podem falhar, mas marcou por duas vezes e movimentou-se muito e bem, participando quase sempre assertivamente nos lances de ataque e ajudando a defender com a sua habitual abnegação. Hulk foi enorme! Quando embala torna-se quase imparável. Desequilibrou por diversas vezes a defesa 'colchonera', servindo-se da sua velocidade e potência para deixar adversários por terra. Foi dos melhores, esteve sempre em jogo e foi dos que mais contribuíram para colocar o Atlético em permanente sobressalto. Mas já li nessa blogosfera que passou ao lado do jogo... Deve ser ainda o efeito do álcool da noite carnavalesca!

O FC Porto tem tudo para passar aos quartos-de-final. É superior, está em vantagem e joga a segunda mão no Dragão perante os seus adeptos, além de que Howard Webb não será o árbitro... Será que à terceira será de vez?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

SONDAGENS (1)


Na primeira sondagem levada a cabo por este blog, fiz a seguinte pergunta aos leitores: 'Quem é, actualmente, o melhor avançado-centro do mundo?'. Obtive 74 respostas, com os seguintes resultados: Ibrahimovic (23 votos), Fernando Torres (11), Drogba (8), Henry e David Villa (6), Rooney (5), Aguero (4), Van Nistelrooy e Adebayor (3), Eto'o e Berbatov (2), Luca Toni (1) e Benzema e outro (0). Cada um tem a sua opinião e é de salientar a diversidade de respostas. Mas os resultados indiciam que, hoje em dia, o sueco Ibrahimovic e o espanhol Fernando Torres talvez estejam uns furos acima dos outros, e, entre estes, o pupilo de José Mourinho no Inter, levará também bastante vantagem. Eu votei em Ibrahimovic...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

EMPATE JUSTO


FC PORTO - BENFICA 1 - 1
1ª Liga Portuguesa 2008-09
8 de Fevereiro de 2009
Estádio do Dragão (Porto)
Árbitro: Pedro Proença (Lisboa)
FC Porto: Helton; Fucile, Rolando, Bruno Alves, Cissokho; Fernando, Raúl Meireles (Mariano González 65'), Lucho González; Lisandro (Farías 88'), Hulk, Cristian Rodríguez. Tr: Jesualdo Ferreira
Benfica: Moreira; Maxi Pereira, Luisão, Sidnei, David Luíz; Ruben Amorim, Yebda, Katsouranis, Reyes (Nuno Gomes 86'); Aimar (Carlos Martins 90'+1'), Suazo (Di Maria 62'). Tr: Quique Flores
Ao intervalo: 0 - 1
Marcadores: 0 - 1 Yebda 45'+1', 1 - 1 Lucho González 71' gp
CA: Fernando 50', Maxi Pereira 52', Katsouranis 64', Yebda 70'


Para muitos este era o desafio mais importante da temporada interna até ao momento. A expectativa era grande, a semana que antecedeu a contenda foi intensa e a infíma diferença pontual entre ambas as equipas fazia antever um jogo de nervos. A arbitragem tem feito parte da agenda quotidiana do futebol português. Todos se queixam, todos se acham prejudicados, os erros grosseiros acontecem a uma velocidade assustadora, a suspeição é atirada para o ar diariamente e, portanto, o árbitro Pedro Proença não dispunha do ambiente propício para fazer uma boa arbitragem no Dragão. É por aí que começo.

Pedro Proença fez uma má arbitragem. Cometeu três erros graves e, ainda que no resto da partida tenha estado bem (exceptuando o facto de ter permitido que metade dos 3 minutos de compensação fossem passados sem jogar), a verdade é que influenciou o normal curso do jogo e o desfecho do mesmo. Aos 18 minutos, não assinalou uma grande penalidade, por falta clara de Reyes sobre Lucho. Como se sabe, na área não há lei da vantagem e não é pelo facto de o argentino se ter levantado após o desequilíbrio provocado pelo toque de Reyes que deixa de existir falta. Aos 26 minutos, Sidnei pisa ostensiva e maldosamente Lucho, justificando-se a exibição do vermelho directo, por conduta violenta. Proença não mostrou qualquer cartão. Aos 70 minutos, assinalou uma grande penalidade inexistente, já que Yebda não cometeu qualquer falta sobre Lisandro, que se limitou a atirar para a piscina. Conclusão: o penalty que permitiu ao FC Porto restabelecer a igualdade não existiu. Mas o certo é que se o árbitro tivesse agido em conformidade anteriormente, o FC Porto poderia ter chegado aos 26 minutos a ganhar por 1-0 e a jogar contra dez unidades.

Se olharmos para a imprensa e para a generalidade da blogosfera, ficamos convencidos que o FC Porto foi beneficiado, mas analisando os lances capitais da partida com objectividade, vemos que não foi isso que sucedeu. Tem sido desta forma, parcial e tendenciosa, que o FC Porto tem sido tratado nesta temporada. É triste verificar que a comunicação social, que deveria agir com isenção, na procura da informação credível e objectiva, esteja, cada vez mais, a imbecilizar-se e a comportar-se como um verdadeiro adepto. Felizmente deixei de comprar jornais de há uns tempos a esta parte e ligo muito pouco às análises que se vão fazendo nas rádios e televisões. Anda a querer vender-se uma mentira, só porque ela é dita muitas vezes. Quem gostar de ser enganado, que acredite.

Os treinadores não apresentaram qualquer surpresa nos seus onzes. Os sistemas tácticos foram também os esperados. O FC Porto chegou a este jogo na sua máxima força, após ter feito descansar todos os habituais titulares, a meio da semana, em Alvalade. O Benfica não procedeu a tão grande poupança no desafio da Taça da Liga, diante do Guimarães, mas uma potencial maior frescura portista não se fez notar ao longo do encontro.

A primeira meia-hora foi de domínio do FC Porto e só por manifesta falta de eficácia na hora de finalizar, não se adiantou no marcador neste período. Jogando subido e pressionando alto, os pupilos de Jesualdo Ferreira empurraram os encarnados para a sua defensiva. Rodríguez foi dos mais audazes nesta fase inicial e fez várias vezes a cabeça em água ao compatriota Maxi Pereira. Lucho e Lisandro estiveram também muito activos, tanto a construir, como em zonas de finalização. O '8' portista teve mesmo na cabeça a melhor oportunidade da primeira parte, mas atirou por cima quando estava completamente isolado. O perigo rondou a baliza de Moreira em diversas ocasiões, mas os portistas revelaram-se perdulários, como já vem sendo costume nos jogos caseiros.

Apesar desta fase de algum assédio, o Benfica esteve sempre traquilo, concentrado e nunca se desuniu. Manteve sempre o bloco baixo, não permitindo ao adversário dispôr da sua melhor arma atacante - as transições rápidas - e nunca deixou de procurar contra-atacar quando havia possibilidades para isso. Reyes chegou a estar na cara do golo, mas Helton respondeu com uma grande defesa. O FC Porto foi superior na primeira parte, teve mais ocasiões para marcar e exerceu um maior domínio territorial, mas a forma adulta e personalizada como as 'águias' conviveram com essa situação, acabou por ser premiada, mesmo em cima do intervalo, com um belo golo de Yebda, de cabeça, na sequência de um canto executado por Reyes. Sem o justificar, o Benfica saiu para o intervalo em vantagem.

Na segunda parte o FC Porto continuou a ser mais dominador, mas jogou sempre com muito coração e pouca cabeça. Com o Benfica em vantagem e cada vez mais fechado, faltaram os espaços para os portistas aplicarem o seu futebol. O jogo de posse de bola nunca foi um dos pontos fortes deste FC Porto, que vivia de algumas arrancadas de Hulk (bom duelo com Moreira) e pouco mais. Os benfiquistas foram ganhando confiança e estiveram mesmo próximos de aumentar a contagem em alguns ataques rápidos, numa altura em que Aimar ía mostrando algum do perfume do seu futebol.

Di Maria já estava em campo, por troca com o esgotado Suazo. Jesualdo abriu a frente de ataque, colocando Mariano no lugar de Raúl Meireles. O jogo manteve a mesma toada de ataque contínuo e desorganizado do FC Porto, alternado com algumas investidas perigosas do Benfica. O golo do empate azul e branco haveria de surgir a 20 minutos do fim, através de Lucho González, na já descrita grande penalidade, num lance que veio repôr justiça no marcador. Após este golo, o jogo abrandou, parecendo claro que ambas as equipas, a partir de determinada altura, começaram a preocupar-se mais em não sofrer o segundo golo que em tentar chegar à vitória. Até ao apito final de Pedro Proença, poucos motivos de interesse mais há a realçar.

O FC Porto chegou a este clássico como favorito, mas a sua exibição acabou por defraudar as expectativas, tanto mais que a preparação para este jogo foi feita com especial cuidado, implicando mesmo a eliminação quase premeditada da Taça da Liga. Do lado oposto, o Benfica também não foi brilhante, mas a forma personalizada como se exibiu na casa dos tricampeões nacionais, foi uma agradável surpresa, a justificar amplamente o ponto conseguido.

Resultado justo, num clássico que não deixará saudades. Um estádio repleto com 50 110 espectadores merecia mais e melhor. O FC Porto mantém-se na liderança desta Liga Sagres, mas com a certeza de que terá de melhorar substancialmente as suas performances caseiras. A incapacidade que revela em ultrapassar defesas fechadas e bem organizadas, não augura facilidades até ao final do campeonato. O Benfica cumpriu o plano traçado para o jogo e segue na luta pelo título, mas a sua irregularidade exibicional faz-me pensar que a tarefa que se lhe depara é árdua. Aguardemos pelas próximas jornadas.