quinta-feira, 30 de abril de 2009

O IMPROVÁVEL O'SHEA


Um golo apenas foi marcado na primeira-mão dos jogos das meias-finais da Champions. Em 180 minutos de futebol, protagonizados por quatro das melhores equipas do mundo, só por uma vez se sentiu a alegria do golo. O defesa irlandês O'Shea foi o autor da proeza! Ironicamente, com uma infinidade de estrelas cintilantes sobre os míticos relvados de Camp Nou e Old Trafford, acabou por ser o pior jogador de todos os que actuaram (sim, estive a ver um a um e não há pior que O'Shea...) a alcançar o objectivo supremo de um jogo de futebol. Cristiano Ronaldo, Messi, Lampard, Henry, Xavi, Rooney, Iniesta, Eto'o, Fabregas, Drogba ou Adebayor estiveram em campo? Deixem lá isso, o O'Shea resolve!

Estas 'meias' eram aguardadas com enorme expectativa por toda a gente que gosta de futebol. Quatro equipas fortíssimas, apologistas do futebol de ataque, faziam antever duelos emocionantes e de grande espectáculo. Jogada a primeira metade da eliminatória, tal expectativa saiu completamente defraudada, não só pelo mísero golo marcado, mas também porque os encontros não se desenrolaram com o equilíbrio e a competitividade desejáveis. Em Barcelona, só os catalães, embora sem muito engenho, procuraram atacar e ganhar o jogo. O Chelsea foi para defender e estacionou o 'autocarro' no seu meio-campo defensivo, acreditando que conseguirá resolver a questão em sua casa. Em Manchester, o Arsenal praticamente não existiu ofensivamente. O 1-0 é demasiado curto para o domínio avassalador do United e para as inúmeras oportunidades que desperdiçou.

O Barcelona tem exibido ao longo desta temporada o melhor futebol da Europa. Arrisco mesmo a dizer que desde que acompanho este fenómeno com consciência - 1992, 1993, por aí... -, este Barça de Guardiola é o conjunto que melhor futebol vi praticar. Interpreta quase na perfeição os diferentes momentos do jogo. É uma equipa que tem uma obcessão incessante pela posse de bola, procurando passar o maior tempo possível em organização ofensiva e o menor tempo possível em organização defensiva. A atacar, privilegia o jogo de passes e apoios constantes, a dinâmica de todos os jogadores e a procura da melhor decisão em cada lance. A defender, pressiona o adversário em zonas altas e de forma intensa, tentando recuperar a bola o mais rápido possível, além de raramente se desequilibrar ou desposicionar. Consegue igualmente ser muito eficaz nas transições ofensivas rápidas, bem como na transposição para a defesa quando perde o esférico. É um verdadeiro harmónio. Depois, a qualidade individual dos jogadores encarrega-se de dar corpo à ideia de jogo de Guardiola - tenho uma camisola do Barcelona com o seu nome, porque o admirava profundamente enquanto jogador, admiração essa que tem vindo a aumentar ainda mais, por ter sabido transportar a sua filosofia como jogador para a forma de pensar enquanto treinador.

Por estas razões, não sou dos que censuram a postura ultra-defensiva do Chelsea na Cidade Condal. Guus Hiddink percebeu que dificilmente não perderia o jogo se tentasse jogar taco-a-taco e limitou-se a apostar numa estratégia que, à partida, lhe garantia maiores probabilidades de obter um resultado positivo. Não critico. O nulo observado veio ainda mostrar que, apesar da excelência do futebol 'blaugrana', contra equipas muito compactas defensivamente, que sabem ocupar os espaços racionalmente e pressionam fortemente (ainda que em terrenos recuados) no sentido de contrariar o seu jogo fluído habitual, este Barça também sente dificuldades. Muitos dirão que unidades como Messi, Henry, Eto'o ou Xavi não estiveram particularmente inspirados. Nada disso. O colectivo londrino, muito defensivo, é certo, mas organizado, é que não os deixou produzir aquilo que produziram na maioria dos jogos desta época. Há uma velha máxima do futebol que também se aplica a este fantástico Barcelona: uma equipa joga aquilo que a outra deixa jogar. E a verdade é que o Chelsea conseguiu parar o futebol envolvente do Barça, merecendo crédito por isso. Aceitam-se críticas à estratégia escolhida, mas não à forma competente como foi interpretado o que Hiddink delineou. Ainda assim, a postura dos 'blues' em Stamford Bridge terá de ser diferente, mais acutilante e ambiciosa, o que poderá favorecer Messi e companhia. Acredito que o Barcelona passará à final de Roma.

No Man.United-Arsenal, a vantagem mínima é, como disse, muito escassa para a diferença de produção entre as duas equipas. Tendo em conta as oportunidades de golo que os 'red devils' criaram, uma das quais numa 'bomba' de Ronaldo à trave, o mais justo seria uma vitória por uma margem bem mais folgada. Não esperava uma estratégia tão cautelosa por parte de Wenger e nem se pode dizer que os seus pupilos foram competentes na sua execução, pois foram inúmeras as ocasiões que concederam ao United e houve períodos em que foram autenticamente massacrados junto da sua área (coisa que o Chelsea não foi em Barcelona). No entanto, acabaram por ser felizes e conseguiram manter esperanças na qualificação para a segunda-mão.

O Manchester United deu, mais uma vez, uma demonstração de grande poderio e fez jús à sua condição de campeão europeu e mundial. Julgo que passará à final, com maior ou menor dificuldade; a sua superioridade face ao Arsenal é evidente. Até por isso o recente desempenho do FC Porto diante da turma de Alex Ferguson, em que quase repetiu a 'gracinha' de 2004, merece ser realçado na medida apropriada, principalmente pelos muitos anti-portistas primários existentes neste país, bem como por aqueles que sempre acharam Jesualdo Ferreira fraquinho. De facto, o FC Porto é grande demais para este futebol português e, realmente, o técnico portista, nestes três anos que leva no Dragão, tem demonstrado que é fraquinho, muito fraquinho...

Que venha uma final Barcelona-Manchester United e, aí, que seja Ronaldo a confortar Messi...