quarta-feira, 8 de setembro de 2010

CAOS INSTALADO


Quando tudo está mal, pode sempre piorar... Uma velha máxima que se aplica na perfeição ao estado actual do futebol português a nível federativo. Um empate caseiro com o Chipre, seguido de uma derrota inédita frente à Noruega e soou o alarme. É preciso acordar deste pesadelo! Não há liderança, não há projecto, não há visão estratégica, nada. Zero!! É urgente mudar de rumo, é imperioso que os causadores desta barafunda assumam as suas responsabilidades. O futebol português não pode continuar a ser comandado pela incompetência e leviandade. A confusão instituída é de tal ordem transversal, que é difícil saber por onde começar a discussão do problema. Vamos por partes.

Primeiro que tudo, convém abordar o processo movido a Carlos Queiroz, que fez com que a Selecção Nacional iniciasse a qualificação para o Euro'2012 sem comando técnico. Na minha opinião, todo o imbróglio relacionado com as injúrias de Queiroz aos médicos da Autoridade Antidopagem de Portugal é uma autêntica palhaçada. Resulta claro que tudo não passou de uma forma hábil (mas pouco) de despedir o seleccionador nacional com justa causa, sem, portanto, ter de pagar o que lhe era devido. Não é assim que as pessoas sérias e idóneas pautam a sua actuação.

Se os factos de que Queiroz é acusado são tão graves que impliquem uma suspensão de 6 meses, por que é que eles não foram logo tornados públicos e o seleccionador imeditamente suspenso? Simplesmente porque a conduta de Queiroz, embora tenha sido, ao que parece, condenável, não impediu a realização do controlo, nem sequer o dificultou, apenas criou algum ruído que em nada limitou o procedimento médico. No limite, o Professor merecia uma multa e uma chamada de atenção. E é tão simples quanto isto: se Portugal tivesse feito um Mundial excepcional, que 'obrigasse' à continuidade do técnico, o caso teria sido completamente abafado. Como o Mundial foi apenas razoável e a vontade dos dirigentes federativos foi desde a primeira hora afastar Queiroz, lançou-se o caso para a praça pública, a fim de o despedir sem lhe pagar um cêntimo. Tudo muito bem concertado, claro está, entre a ADoP, o ridículo Laurentino Dias e a FPF. E assim se trata um homem que nos deu dois títulos mundiais de sub-20 e que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento do futebol português numa altura em que o amadorismo e o compadrio ameaçava 'matá-lo'.

Importa não confundir isto com apoio pessoal a Carlos Queiroz. Fui favorável à sua contratação, sempre o tive como um homem muito competente, mas acho que não esteve à altura das expectativas neste seu segundo trajecto na Selecção. Era legítimo pensar num novo líder técnico para a turma das Quinas. Simplesmente há formas de actuação que defendo, tudo o que seja falta de frontalidade e carácter deve ser combatido. Se Queiroz cometera um ilícito grave, que fosse suspenso e afastado de imediato. Se o problema era meramente técnico, se os responsáveis após o Mundial consideravam que a sua substituição era a melhor opção, então que o assumissem claramente, que o chamassem para se sentarem todos à mesa e garantissem um acordo nesse sentido. Agora, virem com uma palhaçada combinada deste calibre, não só desrespeitanto o homem Carlos Queiroz, como prejudicando seriamente os interesses da Selecção Nacional, só de gente que não faz a mínima ideia do que anda a fazer no futebol. Onde está Gilberto Madaíl para explicar todo este caso aos portugueses? Acha ele razoável que se inicie a campanha para o Euro'2012 sem um treinador principal? Quando vai ganhar vergonha na cara e dar lugar a alguém que entenda e traga soluções para o futebol luso?

Neste momento, os actuais dirigentes da FPF são o principal problema do futebol português. Faz falta para Presidente alguém com visão, que pense no futebol português como um todo, faça reformas profundas, elabore um plano de longo prazo e se rodeie das pessoas certas para o colocarem em prática. Alguém que perceba de futebol, sem medo de tomar decisões e seja imune a pressões externas. Que entenda que o único caminho possível é apostar fortemente na formação, de modo a capitalizar o talento futebolístico natural que possuímos. Um nome que me parece reunir todos estes requisitos: Luís Figo.

Uma solução deste tipo ainda está, no entanto, algo longe no tempo. Gilberto Madaíl e seus compinchas estão demasiado agarrados ao poder, para terem o bom senso e a lucidez de colocarem os seus lugares à disposição. Como tal, resta-nos aguardar pelas próximas eleições e esperar que apareçam alternativas credíveis. Até lá, é confiar no talento e numa melhoria de atitude dos nossos jogadores, já que os mesmos se mostram à deriva com a realidade caótica vigente. A qualidade nos jogadores portugueses sempre esteve lá. Falta é uma liderança forte, capaz de os enquadrar devidamente e colocá-los a pensar em unidade. Falta um treinador que dê uma pedrada no charco, defina princípos e congregue vontades; que não pense apenas no jogo, mas também na organização do nosso futebol enquanto conjunto. Um treinador que conheça o futebol português, saiba escolher os melhores, exija empenhamento nos limites, adopte um modelo de jogo compatível com a nossa forma de jogar de sempre - futebol apoiado, passe curto, bola no pé, criatividade, movimentação constante. Nomes? É difícil. Não vejo assim tantas opções plausíveis entre os portugueses. Talvez Paulo Bento ou Carlos Carvalhal. O ideal seria mesmo um misto dos dois: personalidade e espírito de liderança do primeiro; conhecimentos e ideias de jogo do segundo.

O que sei é que é muito urgente tomar decisões se ainda queremos ir a tempo de marcar presença na Polónia e Ucrânia em 2012. Portugal não pode continuar muito mais tempo com um técnico a prazo. É uma evidência que Carlos Queiroz vai sair. Então que se pague o que é dele e se aposte noutro treinador o quanto antes. É certamente mais digno que a palhaçada criada em torno de umas meras palavras infelizes. Há que fazer ver aos jogadores qual o caminho a seguir, porque a sua enorme qualidade está a ser desbaratada de forma criminosa. E os adeptos portugueses já merecem algo maior que o que tem sido feito.