terça-feira, 25 de dezembro de 2007

A QUESTÃO PORTISTA


Com a chegada da altura natalícia e respectiva paragem nas competições futebolísticas, para os clubes é tempo de balanço, de olhar para trás, analisar o que foi feito e tirar as devidas ilações com vista ao futuro, no sentido de atacar 2008 de forma consistente e frutífera.

O FC Porto chega a esta fase, como vem sendo hábito, na melhor condição dos três grandes emblemas do futebol português. Não obstante a perda da Supertaça e a eliminação da Taça da Liga, lidera a liga doméstica de forma folgada, dispondo de 7 pontos de vantagem sobre o Benfica e 9 sobre o Sporting. Conseguiu ainda o apuramento para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões (classificando-se em primeiro lugar do grupo), onde irá defrontar os alemães do Schalke 04, tendo portanto boas hipóteses de passagem aos 'quartos'.

A recente derrota, na Choupana, frente ao Nacional, veio, porém, esfriar um pouco os ânimos no Dragão e dar algum alento aos directos rivais. Bem vivo na memória encontra-se ainda o descalabro portista pós-Natal da temporada passada, em que a considerável vantagem pontual foi dizimada progressivamente e obrigou os 'dragões' a festejarem o título com o credo na boca. Após a quebra de invencibilidade em terras madeirenses, Jesualdo Ferreira voltou a receber algumas críticas de diversos quadrantes da massa azul e branca - como é regra a cada derrota - e a qualidade da totalidade do plantel foi posta em causa. Para muitos, resulta claro que a diferença entre o onze titular e o restante elenco é substancial, factor que poderá gerar alguns dissabores quando o calendário começar a apertar e o cansaço a acumular-se nos elementos nucleares da equipa.

A minha opinião é que o trabalho de Jesualdo Ferreira não poderá, por enquanto, ser colocado em cheque. Os resultados são o dado mais relevante no futebol de alta competição e esses falam pelo próprio. No entanto, não deixo de reconhecer que me intriga a sistemática utilização dos mesmos jogadores, algo que penso não ser benéfico para a equipa, quer em termos de gestão de esforço, quer a nível da motivação colectiva. E aqui há dois cenários possíveis que importa estudar: ou Jesualdo erra ao não proceder a uma maior rotatividade do plantel, ou o próprio plantel não é suficientemente credível para que tal possa ser feito. Das duas uma.

E aqui é que está o cerne da questão. O técnico portista faz aquilo que eu faria. Dos reforços contratados, pese embora a qualidade visível em alguns como Stepanov (apesar dos erros cometidos) ou Bolatti, nenhum mostrou ainda credenciais para poder jogar num clube com tamanha exigência. Seria rentável para o FC Porto que o plantel fosse melhor aproveitado, mas a verdade é que jogadores como Lino, Leandro Lima, Mariano González ou Farías, sempre que actuaram, desiludiram em toda a linha e não se mostraram alternativas válidas (pelo menos, até ao momento). Como também salta à vista que unidades como Cech, João Paulo ou Postiga (para grande tristeza minha, pois admiro o talento do internacional português) não estão à altura dos seus concorrentes pela posição. Daqui resulta que Jesualdo, em nome dos superiores interesses da equipa, praticamente é obrigado a repetir o onze jogo após jogo, sob pena de acontecerem surpresas como em Fátima. Aliás, à derrota com o Nacional não serão totalmente alheias as ausências simultâneas dos dois extremos titulares, Quaresma e Tarik.

Em face destas circunstâncias, julgo ser recomendável, no mínimo, a contratação de 2/3 reforços já na reabertura do mercado, em Janeiro, no sentido de dotar a equipa de maior equilíbrio e homegeneidade no seio do seu plantel. Até porque jogar em três frentes (1ª Liga, Taça e Champions) com resultados satisfatórios implica a existência de profundidade de banco, sendo que satisfatório nunca será menos que ganhar as duas provas internas e chegar, na pior das hipóteses, aos quartos-de-final da liga milionária. Se a SAD portista estiver para aí virada, julgo que as prioridades deveriam ser um médio transportador para concorrer com Raúl Meireles, um médio-ofensivo para colmatar a imaturidade de Leandro Lima e um extremo, salvaguardando a perda de Tarik durante o mês da CAN'2008. Por outro lado, também reconheço que Jesualdo Ferreira deverá apostar mais em Adriano e Kazmierczak, por exemplo, e dar igualmente mais oportunidades ao argentino Farías, pois não é possível que um avançado de 4 milhões de euros valha tão pouco como aquilo que mostrou nas poucas vezes que jogou.

Estamos perante um daqueles casos típicos em que o treinador faz a omoleta com os ovos que tem. Com um onze forte, superior ao de todos os outros clubes nacionais, colocou a equipa na liderança folgada e qualificou-a para a fase decisiva da Champions. Muitos dirão que não fez mais que a sua obrigação e, em certa medida, até estou de acordo, não lhe retirando com isto o devido mérito. Agora, para a segunda metade da temporada, incomparavelmente mais exigente e desgastante, se o objectivo é exigir vitórias atrás de vitórias, convém que a equipa seja melhorada em lugares específicos, para que a tal gestão possa ser efectuada sem melindrar a produção colectiva. Ou então, que os que chegaram no defeso mostrem uma cara que até agora nos é completamente desconhecida. Não entro na generalidade das críticas que, a cada resultado menos conseguido, responsabilizam Jesualdo Ferreira, falando recorrentemente em pouco rasgo no banco, opções erradas, fraco espírito de liderança e insuficiente capacidade motivacional. Evitar a queda da época transacta não depende apenas dele, mas de todos dentro do clube, a começar pelo cimo da pirâmide...

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

PASSES CURTOS (1)


1. Depois de arrebatar a Bola de Ouro da France Football (deixando Cristiano Ronaldo em 2º e Messi em 3º), Kaká venceu também, como era esperado, o FIFA World Player 2007, com a particularidade de, desta vez, Messi ter ficado à frente de Ronaldo. Na minha opinião, o extremo do Manchester United foi o melhor do ano e, como tal, estes prémios para Kaká foram injustos. No entanto, pelos títulos alcançados e pelas exibições na Champions, aceito o brasileiro como vencedor. O segundo lugar de Messi é que é perfeitamente vergonhoso! Nada de anormal neste tipo de prémios, onde nem sempre as classificações reflectem o desempenho ao longo do ano.

2. A minha escolha para o melhor onze europeu do ano, em votação no sítio da UEFA, foi a seguinte: Cech; Daniel Alves, Ricardo Carvalho, Nesta, Abidal; Cristiano Ronaldo, Pirlo, Kaká, Quaresma; Drogba, Ibrahimovic. Treinador: Sir Alex Ferguson. E você, já votou? Em que onze?

3. O FC Porto segue agora com 10 pontos de avanço sobre o segundo classificado na 1ª Liga, depois de bater o Guimarães por 2 - 0 e da derrota (1 - 0) do Benfica no Restelo. Isto apesar de haver sempre alguns 'inteligentes' que acham que os portistas praticam pouco futebol. Estou ansioso por ver como será quando o FC Porto começar a jogar qualquer coisinha. É que sem jogar nada, até já está nos 'oitavos' da Champions. Há aqui alguma coisa que me anda a escapar.

4. "Quem é o Villarreal para vir contratar a estrela do FC Porto?", assim mesmo comentou Pinto da Costa o possível interesse daquele emblema espanhol em Lucho González. Eu não diria melhor. Sempre me fez bastante confusão ver clubes medianos virem adquirir as vedetas de FC Porto, Benfica ou Sporting. O dinheiro não é tudo e Lucho não é burro nenhum, como aliás fica comprovado em cada jogo que faz.

5. Vem aí o mercado de Janeiro. A meu ver, o Sporting precisa urgentemente de um avançado a sério para fazer companhia a Liedson, desamparado desde a lesão de Derlei. Um lateral-esquerdo também não era mal pensado. No Benfica, parece-me que a maior lacuna do plantel é o lado direito, defensivo e ofensivo. Já agora, se Camacho atinasse também não se perdia nada lá para os lados da Luz. Já para não falar de um presidente novo... O FC Porto passeia na liga doméstica, mas pensando na Champions, talvez a contratação de 2/3 reforços fosse uma boa medida, até porque encontro três posições no plantel portista susceptíveis de serem melhoradas: médio (na linha de Raúl Meireles), médio-ofensivo (Leandro Lima tarda em se afirmar) e extremo (salvaguardando assim a ida de Tarik à CAN'2008). Aguardemos.

6. O Guimarães continua a sua época magnífica, depois de na temporada passada ter feito a sua 'via sacra' na Liga de Honra. Segue num excelente quarto lugar, a um ponto do Sporting e a três do Benfica. Esta é mais uma razão para eu achar a carreira de Manuel Cajuda, até agora, demasiado modesta para a capacidade que sempre demonstra nos clubes por onde passa. Anda a pedir um grande. E aí, as dúvidas ficariam dissipadas.

7. Lá fora, em Inglaterra, o Arsenal derrotou o Chelsea e continua na frente. Os 'gunners' estão a exceder as expectativas e a realizar uma fantástica época. Fabregas, Adebayor e Van Persie, entre outros, estão aí para durar. O Manchester United segue na peugada, a apenas um ponto de distância, ao passo que o Chelsea está um pouco mais atrás. Acho que, mais tarde ou mais cedo, os 'red devils' vão demonstrar a sua superioridade e sagrar-se-ão campeões novamente.

8. Em Espanha, Real Madrid e Barcelona, como previra no começo da liga vizinha, parecem ser os únicos com capacidade para chegar ao título. Os 'merengues' possuem quatro pontos de vantagem sobre os catalães, não obstante alguma tremideira inicial. Apesar do quinteto magnífico, o Barcelona continua a trilhar um caminho de incerteza. Ronaldinho mantém-se uma autêntica sombra daquele jogador que nos encantou e até para o banco já foi. Henry não é o mesmo do Arsenal. Eto'o e Deco estiveram bastante tempo lesionados e só agora regressaram. O problema é que agora o azar bateu à porta de Messi... Mas a luta pelo ceptro promete ser dura até ao final, entre dois autênticos gigantes do futebol mundial. E vem aí um Barça-Madrid...

9. Em Itália, o Inter de Figo, Ibrahimovic e companhia, caminha para a revalidação do título transalpino. Roma e Juventus dão mostras de que muito dificilmente vão ter pedalada para a constelação interista. Muito menos o Milan, onde Kaká só joga alguma coisa de jeito nas provas internacionais. E Tiago lá continua a penar no banco da Juventus, ele que faria as delícias de qualquer meio-campo em Portugal.

10. Finalmente, a Inglaterra lá encontrou o seu novo seleccionador. Depois do 'não' recebido de José Mourinho, a primeira opção dos responsáveis federativos ingleses desde a primeira hora, o escolhido foi o italiano Fábio Capello. O 'Special One' português manteve o seu princípio de ser contrário à nomeação de seleccionadores estrangeiros por um qualquer país. Ele é o único treinador do mundo capaz de, não estando no activo, recusar um convite milionário e irresistível da Selecção Inglesa. É por estas e por outras que lhe chamam especial...


[Por vezes, apetece-me falar de vários temas ao mesmo tempo, mas de forma sucinta, sem me alongar demasiado, que o tempo e a vontade nem sempre abundam. Deste modo, hoje aderi à moda blogosférica (esta palavra existe?!) dos textos curtos e directos. Não primando pela originalidade, se é uma boa moda, há que seguí-la. Inauguro aqui a rubrica 'Passes Curtos'.]

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

TRANQUILO


Está carimbado o primeiro lugar do grupo A da Liga dos Campeões e com ele a passagem aos oitavos-de-final da prova. O FC Porto espera agora por um dos segundos classificados dos restantes grupos. Não estando ainda tudo definido, é certo que, deste modo, se evitam alguns colossos europeus como Chelsea, Real Madrid, Milan, Barcelona, Manchester United e Inter. Por aqui se vê a importância da vitória (2 - 0) alcançada, no Dragão, sobre os turcos do Besiktas.
Os 'dragões' triunfaram de forma tranquila, sem grande brilhantismo, mas com muita segurança e personalidade. Jogaram de forma adulta, sabendo claramente o que o jogo lhes pedia e quais as melhores respostas a dar em cada momento. A noção exacta da sua superioridade sobre o opositor permitiu ao FC Porto actuar de forma descomplexada, algo que se consegue somente quando se atinge um determinado nível de maturidade e qualidade. O processo de evolução programado por Jesualdo Ferreira desde que chegou ao clube prossegue no seu caminho e os resultados alcançados - factor mais importante no futebol de alta competição - estão bem à vista de todos.

A primeira parte portista foi apenas q.b.. O Besiktas pouco ou nada fez em termos atacantes, mas a verdade é que provocou enormes problemas ao desenvolvimento do futebol azul e branco. Denotou boa organização colectiva, preencheu bem os espaços, exerceu bastante pressão sobre o portador da bola, logo a partir da zona de Paulo Assunção e, com isso, dificultou enormemente a construção de jogo portista. A habitual velocidade nas trocas de bola, o futebol apoiado e a mecanização entre Lucho e Meireles e os extremos (um dos princípois de jogo mais importantes da formação de Jesualdo) não funcionou na plenitude. Por outro lado, a pressão no sector intermediário foi feita de forma pouco intensa e agressiva, o que permitiu aos turcos queimar alguns minutos circulando a bola no meio terreno portista, embora sem importunar Helton de forma preocupante.

O jogo pouco inspirado do FC Porto não o impediu, contudo, de criar algumas jogadas de perigo para Rustu. Inclusivé Lisandro marcou um bom golo de cabeça, mas o lance havia sido erradamente interrompido, por fora-de-jogo inexistente. Já com o intervalo no horizonte, o golo de Lucho González, após uma paragem cerebral quase colectiva do Besiktas, veio repôr a ordem natural das coisas, uma vez que, não obstante a produção mediana realizada pelos 'dragões', foi o suficiente para fazer do 1 - 0 um resultado justificado.

Impulsionado pela vantagem, o FC Porto realizou uma segunda parte mais concordante com a sua valia, ao mesmo tempo que ficava patente a falta de soluções do adversário para alterar o curso da partida. A precisar de uma vitória, Tello e companhia subiram um pouco o seu bloco, mas faltava arte e imaginação para lograr algo de importante. O espaço nas costas para ser explorado pelos portistas aumentou exponencialmente, o que somado às famosas transições ofensivas rápidas, quase sempre com Lucho como motor, fazia adivinhar o dilatar da contagem. O golo de Quaresma, após assistência de Lisandro, não fez mais que confirmar essa tendência.

Até ao final o FC Porto deteve absoluto domínio e controlo do encontro. Por entre mais uma ou outra oportunidade, a ordem era mesmo manter a concentração, circular a bola e esperar pelo apito final. A gestão do esforço começou a ser feita ainda antes do jogo terminar, nela se enquadrando as substituições operadas por Jesualdo Ferreira. No FC Porto há um método bem consolidado de fazer as coisas e isso percebe-se.

Individualmente, houve algumas actuações bastante positivas:
- Bosingwa: sem grandes problemas a nível defensivo, integrou sempre correctamente a manobra atacante, usando a sua velocidade e fazendo diversos cruzamentos. Teve mesmo o golo nos pés ainda na primeira parte, mas Rustu fez uma bela defesa.
- Pedro Emanuel e Bruno Alves: jogo muito seguro da dupla de centrais. Emanuel foi o patrão e a sua experiência e voz de comando faz o seu parceiro parecer mais pequenino. Alves também esteve em bom plano, jogando de forma simples como se impõe, e sobressaindo em alguns cortes oportunos.
- Paulo Assunção: no segundo tempo teve duas hesitações, com perda de bola, nada normais no brasileiro. Fora isso, foi o pêndulo que todos conhecemos, sendo dos elementos mais importantes no equilíbrio colectivo. Posicionalmente, é um jogador impressionante, está sempre onde tem que estar no momento certo.
- Lucho González: a sua movimentação no meio-campo e a classe e categoria que garante são imprescindíveis nesta equipa. Revelou-se bem combativo (algo que nem sempre sucede) e, ha hora de organizar e lançar o ataque, foi o mestre. Na retina, ficou-me um passe que isolou Lisandro já na segunda parte, concluindo com um simples toque a transição ofensiva dessa jogada. E claro o golo inaugural que marcou foi um ponto mais a seu favor.
- Quaresma: manteve a bitola elevada demontrada de há uns jogos para cá. Melhor na segunda metade que na primeira, esteve sempre muito interventivo, conduzindo inúmeros ataques pelas alas. A maneira elegante como concluiu o lance do segundo tento, foi a melhor forma de agradecer a assistência de Lisandro.
- Tarik: decididamente, com confiança, este marroquino é outro jogador. Óptima exibição, com alguns lances de pura criatividade e um magnífico remate em arco que merecia golo. Foi o melhor da primeira parte. Após o descanso, o cansaço começou a fazer-se sentir e acabou substituído, não sem antes exibir mais alguns bons apontamentos.

Foi uma vitória tranquila, natural e justa da melhor equipa sobre o terreno. O FC Porto mostra que é uma equipa com qualidade suficiente para estar na alta roda do futebol europeu, deixando atrás de si o Liverpool, que foi golear fora o Marselha por 4 - 0! Tem agora os oitavos-de-final para jogar com um dos segundos e, se conseguir passar, nunca se sabe o que poderá acontecer, sabendo à partida que há equipas muito mais fortes em competição. Estou com uma fezada que o Schalke 04 será o senhor que se segue. E que bonito seria voltar a Gelsenkirchen...

sábado, 1 de dezembro de 2007

CLASSE E TALENTO


BENFICA - FC PORTO 0 - 1
1ª Liga Portuguesa 2007-08
1 de Dezembro de 2007
Estádio da Luz (Lisboa)
Árbitro: Jorge Sousa (Porto)
Benfica: Quim; Luís Filipe, Luisão, David Luíz, Léo; Petit, Katsouranis (Cardozo 65'), Rui Costa; Maxi Pereira (Di Maria 71'), Nuno Gomes (Adu 79'), Cristian Rodríguez. Tr: José António Camacho
FC Porto: Helton; Bosingwa, Bruno Alves, Pedro Emanuel, Fucile; Paulo Assunção, Raúl Meireles (Bolatti 82'), Lucho González; Quaresma (Mariano González 69'), Lisandro, Tarik (Postiga 61'). Tr: Jesualdo Ferreira
Ao intervalo: 0 - 1
Marcador: 0 - 1 Quaresma 42'
CA: Fucile 44', Tarik 54', Katsouranis 63', Di Maria 76', Helton 87', Luís Filipe 90'+4'


Uma 'trivelada' à Quaresma resolveu o clássico dos clássicos e deixou o FC Porto ainda mais sózinho no topo da 1ª Liga, agora com sete pontos de vantagem sobre o segundo classificado. Se dúvidas ainda restassem em consciências mais crentes, o jogo da Luz veio demonstrar cabalmente qual é a melhor equipa portuguesa, marcando as devidas diferenças existentes nesta altura entre Benfica e FC Porto.

O jogo foi preparado na ressaca da jornada europeia. O Benfica, apesar de não ter cumprido o objectivo de vencer, empatara em casa com o Milan, após uma boa exibição, potenciada também por uma certa descontracção dos milaneses. Já o FC Porto saíra de Anfield Road humilhado por um resultado pesado e inaceitável, aos pés do Liverpool. De repente, parecia que o Benfica é que estava na frente do campeonato e dependia de si para seguir na Champions, tal era a euforia instalada e a confiança reinante na esmagadora maioria da imprensa lusitana. O habitual neste país.

Após as alterações no onze operadas em terras inglesas, Jesualdo Ferreira voltou a apostar na equipa-tipo portista, fazendo regressar Pedro Emanuel ao centro da defesa, por troca com o infeliz Stepanov. No restante, foi aquilo que se esperava e impunha. Nos encarnados, José António Camacho manteve os mesmos elementos que haviam defrontado o campeão europeu. Em ambos os conjuntos, acabou por não haver qualquer surpresa nas constituições iniciais.

O jogo foi bom, muito vivo e com um ritmo bastante interessante. A primeira oportunidade, logo no primeiro minuto, desperdiçada por Nuno Gomes, indiciava uma predisposição benfiquista para atacar mais e se assenhorar da partida. Puro engano. A maior classe e maturidade dos jogadores portistas começou paulatinamente a fazer-se notar. Por volta do quarto de hora, o FC Porto já marcava o ritmo e controlava as operações. Apostava numa forte pressão média, garantindo, simultaneamente, tranquilidade à sua defesa e espaço na frente para ataques rápidos e bem mecanizados.

O Benfica não conseguia fazer dois passes seguidos, jogadas bem delineadas nem vê-las. Os azuis e brancos eram mais rápidos sobre a bola, a sensação que dava é que estavam em superioridade numérica. Bosingwa não deixava Rodríguez respirar, Fucile também chegava e sobrava para Maxi Pereira (aliás, neste duelo uruguaio, o médio-ala é que andou atrás do lateral), Assunção tratava de fazer desaparecer Rui Costa. Vários duelos individuais se travaram, logicamente que foram ganhos maioritariamente por quem beneficiava de melhor organização colectiva. Na sequência das infinitas recuperações de bola, muitas vezes em terrenos supostamente mais avançados que o normal, a bola passava por Raúl Meireles, mas era aos pés de Lucho que ela desejava chegar (já nem há palavras para o futebol simples e, ao mesmo tempo, tão magnífico do internacional argentino; com maior intensidade de jogo e resistência seria certamente um dos melhores médios do mundo). Aí, bola nos extremos, que, com uma mobilidade constante, íam carrilando jogo pelas faixas, ora cruzando, ora procurando espaços interiores. Lisandro, mestre nas movimentações, ía ajudando à festa.

O futebol colectivo do FC Porto tinha já silenciado a multidão encarnada. A superioridade técnico-táctica era evidente e cheirava a 0 - 1. Tarik foi o primeiro a avisar seriamente. Seguiram-se Quaresma e Lisandro, este com uma perdida incrível na cara de Quim, após cruzamento primoroso de Bosingwa. Mas o golo não tardou: Quaresma recebe de Lucho, progride até à área, faz aquela maldade a David Luíz e atira de trivela para o fundo das redes. Com classe. Com talento. Com génio. Quando o '7' portista corria para a área, comentei com um amigo meu que me acompanhou na transmissão televisiva qualquer coisa parecida com: "Ele vai fintar para dentro e rematar de trivela"! E não é que me fez a vontade?! Obrigado Quaresma por estes momentos sublimes de talento, por contigo o futebol ir além das opções seguras e previsíveis. Intervalo, 0 - 1, resultado escasso perante tamanha superioridade.

Na segunda parte, os homens da casa apareceram melhor, como era natural. A perder em casa com direito a banho colectivo e virtualmente a sete pontos do seu opositor, competia ao Benfica correr atrás do prejuízo. Ainda assim, a primeira oportunidade nasceu de uma fífia monumental de Bruno Alves, que permitiu a Nuno Gomes aparecer isolado perante Helton. O remate foi bom mas o guardião portista fez a primeira de duas defesas providenciais.

O ascendente passou a pertencer aos pupilos de Camacho. Subiram em bloco, pressionaram mais à frente, mas notava-se que a clarividência não era a melhor. O assalto à defesa portista fez-se mais com o coração que com a cabeça. Fruto deste comportamento, o Benfica ía atacando mais, é certo, mas permitia também ataques venenosos ao adversário. Num deles, Quaresma teve nos pés a sentença final, mas rematou ao lado, após fantástica assistência de Lisandro.

Mas o Benfica cresceu, é justo reconhecer. O FC Porto passou por algumas dificuldades para cobrir o espaço à entrada da sua área, facto a que não será alheia a entrada de Cardozo, que obrigou Assunção a recuar um pouco. Após mais um falhanço de Nuno Gomes, agora de cabeça (assim é difícil ser considerado um grande avançado), o recém-entrado Adu proporcionou a tal sensacional segunda parada a Helton, com um remate seco à entrada da área. Petit, logo a seguir, também tentou a sorte de longe e a bola passou bem perto do poste.

Inteligentemente, Jesualdo lançou Bolatti para junto de Assunção e este foi o rombo final nas aspirações benfiquistas. Não mais o FC Porto passou por sobressaltos, voltando àquela atitude inteligente, controladora, madura, eficaz. Bastou segurar a bola e deixar o tempo correr até ao minuto 94. E que doloroso deve ter sido para o Benfica passar a quase totalidade dos 4 minutos de compensação a cheirar a bola.

Se há jogos cuja justiça do resultado não merece sequer discussão, este foi seguramente um deles. O FC Porto deu uma demonstração de força em plena capital, de superioridade em relação ao seu principal rival e de capacidade reactiva depois da goleada sofrida em Anfield. As grandes equipas são assim, levantam-se depressa e são capazes de triunfar nos ambientes mais hostis.

Lisandro foi o melhor jogador em campo. Apesar de não ter facturado, movimentou-se muito e bem, correu que se fartou, ora em busca de espaços, ora pressionando os adversários, e lançou o pánico na defesa encarnada por diversas ocasiões. É admirável ver como um jogador tão bom tecnicamente e tão goleador, participa de forma tão solidária no trabalho colectivo. Quaresma decidiu com o seu talento ímpar. Tarik realizou uma óptima primeira parte. Nesse período, Lucho também esteve soberbo. Assunção é aquele pêndulo indispensável que não sabe jogar mal. Pedro Emanuel foi o patrão da defesa, conferindo ao sector serenidade e experiência. Helton foi decisivo naquelas duas intervenções. Meireles, Bosingwa, Fucile, Bolatti, enfim, quase todos os 'dragões' estiveram bem. Talvez Bruno Alves, Postiga e Mariano tenham estado uns furos abaixo, por diferentes razões, mas nada que abalasse a vitória incontestável. No Benfica, Rui Costa foi mesmo o menos mau. Adu, no pouco tempo que teve para se mostrar, reclamou mais tempo de jogo e quem sabe a titularidade em alguns encontros. No duelo de treinadores, Jesualdo goleou Camacho. A organização colectiva do FC Porto não foi obra do acaso, nem resultou unicamente do facto de deter melhores intérpretes. Há ali muito cunho pessoal do Professor, os meus parabéns também para ele, tantas vezes injustiçado, a maioria delas pelos próprios portistas.

O árbitro portuense Jorge Sousa, esteve mal ao não assinalar um penalty escandaloso, por derrube de David Luíz a Lisandro, logo aos 13 minutos, lance que resultaria no segundo amarelo ao brasileiro. Acabou por não influenciar o curso do jogo graças à supremacia azul e branca.

É cedo para se fazerem as contas do campeonato. Muito cedo. Mas sete pontos de avanço em doze jornadas e atendendo à diferença patente de qualidade que separa os portistas dos demais...

sábado, 24 de novembro de 2007

EM BUSCA DA GLÓRIA EUROPEIA


Depois de uma fase de qualificação sofrível e do nulo com a Finlândia no jogo decisivo, Portugal carimbou enfim o passaporte para o Campeonato da Europa Áustria/Suíça'2008. No próximo Verão, a nossa selecção buscará, juntamente com mais 15 países, a suprema glória europeia. Apesar das recentes exibições pouco convincentes e do retorno ao sempre incómodo uso da calculadora, o importante é que estaremos lá, na montra do futebol continental, junto das restantes selecções que, ao longo dos últimos meses, fizeram por o merecer.

Os potes que constituírão a base do sorteio de 2 de Dezembro próximo já estão formados:
- Pote 1: Grécia, Áustria, Suíça e Holanda;
- Pote 2: Itália, República Checa, Suécia e Croácia;
- Pote 3: Portugal, Alemanha, Espanha e Roménia;
- Pote 4: Turquia, Rússia, França e Polónia.

É bom evitarmos selecções fortes como Alemanha e Espanha, mas a aleatoriedade do sorteio é que irá ditar a sorte de Portugal. Não adianta fazer grandes conjecturas. Tanto nos pode tocar um grupo com Holanda, Itália e França, como também outro com Áustria, Suécia e Rússia. Resta aguardar.

Olhando assim de relance para as formações presentes, não é difícil apontar os favoritos à conquista do ceptro. Itália, França, Alemanha, Holanda, Espanha e Portugal são, à partida, os mais sérios candidatos e aqueles que dominarão as preferências dos apostadores. Pessoalmente, coloco Itália e Portugal acima dos outros, acho que o campeão europeu sairá deste duo, mas é sempre complicado fazer este tipo de avaliações, reconheço.

Desde criança que gosto de esboçar rankings variados ou onzes iniciais possíveis, segundo as minhas preferências. Por isso, não resisto a fazê-lo agora para as 16 magníficas que brevemente nos vão fazer ficar colados ao televisor. É um mero exercício pessoal e subjectivo, mas que sempre servirá para se proceder a algumas comparações interessantes, sendo certo que uma equipa vitoriosa depende de bastantes mais premissas que a pura soma das qualidades de onze jogadores e respectivo treinador.

Grécia: Nikopolidis; Seitaridis, Kyrgiakos, Dellas, Torosidis; Basinas, Katsouranis, Karagounis; Amanatidis, Charisteas, Gekas. Tr: Otto Rehhagel

Áustria: Manninger; Garics, Stranzl, Hiden, Gercaliu; Aufhauser, Weissenberger, Leitgeb, Ivanschitz; Kuljic, Linz. Tr: Josef Hickersberger

Suíça: Zuberbuhler; Philipp Degen, Djourou, Senderos, Magnin; Gygax, Celestini, Barnetta, Hakan Yakin; Vonlanthen, Frei. Tr: Jakob Kuhn

Holanda: Van der Sar; Heitinga, Bouma, Mathijsen, Van Bronckhorst; Demy de Zeeuw, Sneijder, Van der Vaart; Van Persie, Van Nistelrooy, Robben. Tr: Marco Van Basten

Itália: Buffon; Oddo, Nesta, Cannavaro, Zambrotta; Pirlo, Gattuso, De Rossi, Camoranesi; Del Piero, Luca Toni. Tr: Roberto Donadoni

República Checa: Cech; Radoslav Kovac, Rozehnal, Ujfalusi, Jankulovski; Galasek, Polak, Plasil, Rosicky; Baros, Koller. Tr: Karel Bruckner

Suécia: Isaksson; Nilsson, Mellberg, Hansson, Edman; Kallstrom, Svensson, Wilhelmsson, Ljungberg; Elmander, Ibrahimovic. Tr: Lars Lagerback

Croácia: Pletikosa; Corluka, Dario Simic, Robert Kovac, Simunic; Modric, Niko Kovac, Srna, Kranjkar; Eduardo da Silva, Petric. Tr: Slaven Bilic

PORTUGAL: Ricardo; Bosingwa, Ricardo Carvalho, Pepe, Paulo Ferreira; Miguel Veloso, Maniche, Deco; Cristiano Ronaldo, Hugo Almeida, Quaresma. Tr: Luíz Felipe Scolari

Alemanha: Lehmann; Arne Friedrich, Metzelder, Mertesacker, Lahm; Frings, Ballack, Schneider, Schweinsteiger; Podolski, Klose. Tr: Joachim Low

Espanha: Casillas; Sérgio Ramos, Marchena, Puyol, Capdevila; Xavi, Fabregas, Iniesta, David Silva; David Villa, Fernando Torres. Tr: Luís Aragonés

Roménia: Lobont; Goian, Tamas, Chivu, Rat; Codrea, Nicolita, Florentin Petre, Dica; Mutu, Marica. Tr: Victor Piturca

Turquia: Rustu; Servet Cetin, Gokhan Zan, Emre Asik, Uzulmez; Emre Belozoglu, Sabri, Hamit Altintop, Arda Turan; Tuncay, Nihat. Tr: Fatih Terim

Rússia: Gabulov; Aleksei Berezutski, Ignashevich, Vasili Berezutski, Anyukov; Zyrianov, Bilyaletdinov, Semshov, Zhirkov; Arshavin, Kerzhakov. Tr: Guus Hiddink

França: Landreau; Lassana Diarra, Thuram, Gallas, Abidal; Makelele, Vieira, Ribéry, Malouda; Henry, Trezeguet. Tr: Raymond Domenech

Polónia: Boruc; Jacek Bak, Dudka, Zewlakow; Lewandowski, Krzynowek, Bronowicki, Blaszczykowski; Smolarek, Zurawski. Tr: Leo Beenhakker

Portugal terá de melhorar muitíssimo quando chegar a hora da verdade. Se isso acontecer, creio que, como já referi, se possa constituir como um dos principais favoritos ao triunfo, a par da Itália. Nos outros quatro crónicos candidatos, não acredito tanto. À medida que o Europeu se fôr aproximando ideias mais precisas se vão poder formar. Pode ser que seja desta que Portugal conquiste esse tão almejado título internacional que já merece mas que, por diversas razões, ainda não logrou alcançar. Eu acredito!

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

SEIS PONTOS, MAIS NADA!


Contagem decrescente para os dois decisivos jogos da Selecção Nacional. Em causa a presença no Campeonato da Europa do próximo ano, a realizar na Áustria e na Suiça. Após as dispensas, por lesão, de Ricardo Carvalho e Miguel, e a posterior chamada do sportinguista Abel, os jogadores à disposição de Scolari para defrontar Arménia e Finlândia são os seguintes: Ricardo e Quim (guarda-redes); Bosingwa, Abel, Caneira, Jorge Ribeiro, Bruno Alves, Fernando Meira e Pepe (defesas); Miguel Veloso, Raúl Meireles, Manuel Fernandes e Maniche (médios); Cristiano Ronaldo, Quaresma, Simão, Nani, Nuno Gomes, Hugo Almeida e Makukula (avançados). Como facilmente se conclui, da convocatória inicial haviam ficado de fora João Moutinho, Postiga e Tiago (por opção) e Jorge Andrade, Paulo Ferreira, Petit, Deco e Duda (por lesão).


Na baliza, nada de novo. No sector recuado, ausências de elementos importantes e, em condições normais, escolhas certas, abriram a porta a Abel e Jorge Ribeiro. Pepe também mereceu a confiança de Felipão, mais por vontade deste em incluí-lo no grupo, que pelas actuações do central madridista, regressado recentemente de prolongada lesão. Partindo do princípio que apenas quatro centrais marcarão presença no certame europeu (assumo que Portugal não nos vai deixar ficar mal...), de entre Carvalho, Andrade, Alves, Meira e Pepe, algum vai ter de sair. Aceitam-se apostas...


No meio-campo, os recursos para esta dupla-operação são escassos, face às lesões de Petit, Deco e Duda. A ausência de Tiago, pelo seu fraco rendimento na Juventus ainda se compreende, mas a não chamada de João Moutinho é bastante estranha, tanto mais que o talento leonino seria aquele que melhor disfarçaria a inexistência de um '10' puro. Assim, não sei qual a ideia de Scolari para essa posição, se jogará com Manuel Fernandes, por exemplo, ou se colocará um dos extremos no miolo.


Na frente de ataque, tudo acertado, existindo apenas discussão em torno da chamada de Nuno Gomes em vez de Postiga. A mim não me choca, qualquer deles poderia ser convocado, e até acho que o avançado encarnado tem justificado mais. Já li algures o argumento crítico de que Postiga foi chamado quando não mereceu, e agora que tem jogado mais minutos no FC Porto e até já acertou com a baliza, é que é excluído. O problema é que naquela altura não havia a concorrência de Makukula. Se o luso-congolês factura na Selecção e no Marítimo, Hugo Almeida é o melhor marcador do Werder Bremen e Nuno Gomes tem vindo a subir de forma, acho a exclusão de Postiga perfeitamente natural.


Neste cenário o meu onze para enfrentar a Arménia no sábado seria este:
- Quim: está bem melhor que Ricardo e já merece a titularidade há algum tempo.
- Bosingwa: apesar das últimas prestações no FC Porto, é a escolha natural face à ausência de Miguel.
- Bruno Alves: sem Carvalho e Andrade, tem a porta aberta para jogar de início.
- Fernando Meira: tal como Bruno Alves, beneficia das lesões alheias e da falta de ritmo do estreante Pepe.
- Caneira: com a indisponibilidade de Paulo Ferreira, nem merece discussão.
- Miguel Veloso: é o melhor pivot defensivo português, convém é não jogar como em Braga.
- Maniche: se estiver bem fisicamente, este joga sempre, mesmo que Tiago e Moutinho estejam à disposição.
- Simão: sem Deco, lançaria o extremo 'colchonero' numa posição que ele já conhece.
- Cristiano Ronaldo: obviamente.
- Hugo Almeida: com os golos que tem apontado na Bundesliga, ganha o duelo com Makukula aos pontos.
- Quaresma: para mim é sempre titular, com o desvio de Simão para a zona central, mais ainda.


Esta era a equipa que eu escalaria, mas cheira-me que Scolari terá uma opinião ligeiramente diferente. Talvez: Ricardo; Bosingwa, Alves, Meira, Caneira; Veloso, Maniche, Simão; Ronaldo, Makukula, Quaresma. Em todo o caso, venham mas é os seis pontos, que é o que é preciso. Se falharmos desta vez, ficámos bem em casa!


E vocês, que onze escolheriam para o jogo de Leiria?
E que central ficará de fora do Euro, caso nos qualifiquemos?

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

À PORTA DOS 'OITAVOS'


Já não ía ao Dragão há algum tempo, precisamente desde o jogo de apresentação desta temporada, frente ao Mónaco. Ontem voltei a fazê-lo, curiosamente em mais um jogo com franceses. Com a vitória (2 - 1) alcançada frente ao Marselha, o FC Porto deu um passo de gigante rumo à qualificação para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. E mais do que isso, tem tudo para ser primeiro, o que, olhando para o que se vai passando nos outros grupos, pode ser importante. O FC Porto continua, sem surpresa, a ser o único clube português a fazer alguma coisa de jeito nas provas internacionais. É pena. O futebol nacional precisa que outros clubes remem no mesmo sentido, façam qualquer coisa de positivo, amealhem pontos para o nosso ranking da UEFA.

Do jogo propriamente dito não gostei. O FC Porto nunca teve a atitude autoritária que se impunha perante uma equipa que anda pelas ruas da amargura na liga gaulesa. Quando teve a bola, revelou imensos problemas na construção de jogo. Quando a não teve, deixou jogar, não foi agressivo na recuperação do esférico, não preencheu os espaços de forma harmoniosa.

É verdade que Lucho fez muita falta, mais a mais numa altura em que está em clara ascenção. Mas tinha que ser Cech o substituto? Alguém me explica que predicados tem este eslovaco para ser um médio do FC Porto num jogo da Champions? Alternativas? Eu sei que Leandro Lima, Mariano González ou Kazmierczak ainda pouco mostraram. Ou que Bolatti, junto de Paulo Assunção, era capaz de ser contenção demasiada. Ou que Postiga a fazer de '10' podia ser uma opção arriscada (não pelo que o Marselha pudesse fazer, mas por que com Postiga nunca se sabe muito bem...). Agora o Cech... O rapaz não sabe criar absolutamente nada, não assume o jogo, falha passes a torto e a direito, sob pressão perde clarividência. Ok, ele é defesa-esquerdo, não tem culpa de não ter qualidade para jogar a médio, culpa tem quem o colocou nessa posição.

O FC Porto foi quase sempre uma equipa desligada, não praticou um futebol envolvente, mostrou poucas soluções para contrariar um Marselha bem estendido no campo e quase sempre mais rápido sobre a bola. A capacidade de pressão foi nula durante largo tempo e o resultado foram inúmeras trocas de bola dos franceses nas imediações da área portista, embora sem nunca importunarem Helton de forma preocupante. Raúl Meireles fez um jogo mediano, foi pouco dinâmico, quer no papel defensivo, quer ofensivo. Paulo Assunção foi, na minha opinião, o melhor jogador em campo. Com um sentido posicional soberbo e sempre intenso nas movimentações, provocou infinitas vezes a inflexão do sentido da bola. Foi uma das chaves do sucesso.

Na defesa, Bruno Alves foi o único com uma actuação positiva. Intratável em todos os lances, pelo ar ou pelo chão, começa a fazer da regularidade a sua imagem de marca. De resto, o panorama foi fraquinho. Stepanov deixou-se antecipar no golo de Niang e teve ainda duas ou três hesitações pouco recomendáveis, além de um ou dois alívios para a bancada completamente desnecessários. É um belo central, mas denotou uma certa intranquilidade neste jogo. Bosingwa e Fucile pura e simplesmente não existiram ofensivamente e, a nível defensivo, não tiveram a solidez que se lhes exige, particularmente o uruguaio.

Lá na frente, Quaresma esteve horrível. Está a atravessar um mau momento, em que praticamente nada lhe sai bem. Perdeu praticamente todas as bolas que recebeu, quanto mais o assobiaram, mais individualista se tornou, mais bolas perdeu. Depois, aquela atitude aparentemente desinteressada do jogo, é algo que me desagrada profundamente. Deve esforçar-se mais, lutar mais, correr mais. Atenção que ele é o melhor jogador do FC Porto, admiro o seu talento sublime e foi graças a um cruzamento seu que Lisandro deu a vitória aos 42.217 espectadores presentes. Contudo, tenho a certeza que com uma mentalidade mais adulta e consciente, o 'Cigano' poderia ser ainda melhor, pertencer à elite restrita dos melhores do mundo. O já citado Lisandro foi o costume. Além do fantástico golo que marcou e da bola que enviou à barra, foi o jogador que mais correu na frente de ataque azul e branca e que mais trabalho deu aos defesas adversários. Procurou sempre os espaços, percorreu toda a largura do campo, pressionou a defesa francesa, denotou qualidade com bola. Absolutamente decisivo. Que grande jogador! Era esta a mentalidade que queria ver em Quaresma... Do Tarik, que posso dizer depois de um golo daqueles? Lembrei-me do Messi no momento dos festejos dessa autêntica obra prima. No resto do jogo, esteve sempre bastante activo e inspirado, as acções individuais saíram-lhe bem, teve bons pormenores e saiu do relvado debaixo de uma estrondosa e merecida ovação. Defendi a sua permanência no plantel face à escassez de extremos e, apesar de não ser grande fã do marroquino, tiro-lhe o meu chapéu. Enquanto jogar assim, e estou aqui a descontar o golo, terá o meu apoio.

Postiga foi muito importante na viragem do jogo e no assédio portista a partir do 1 - 1. Trouxe vivacidade e qualidade no contacto com a bola. Aqueles pés são perfumados, movimenta-se bem, participa no jogo colectivo. Quem me conhece sabe que nutro especial admiração por Hélder Postiga. Mas falta-lhe algo para poder chegar ao topo. Oxalá não estejamos perante mais uma daquelas típicas promessas eternamente adiadas. Bolatti foi igualmente relevante, na medida em que deu mais equilíbrio a um sector onde Meireles se mostrava claramente deficitário.

Jesualdo Ferreira parece-me que errou ao colocar Cech como titular do meio-campo e terá pecado pela demora em reagir aos acontecimentos nada animadores. Cedo se percebeu que a equipa não estava a funcionar colectivamente e havia que se proceder a modificações. Não deixa, porém, de ser verdade que quando agiu, fê-lo de forma acertada, o que mudou o rumo do jogo e permitiu ao FC Porto conquistar três pontos providenciais. Vitória sofrida mas justa.

Estou confiante no apuramento e até na manutenção do primeiro lugar do grupo. O FC Porto continua sem deslumbrar, é certo. Mas segue na frente da liga portuguesa e prova-se a cada dia que é a única equipa lusa com verdadeira dimensão europeia.

domingo, 14 de outubro de 2007

RENOVAÇÃO DA SELECÇÃO NACIONAL


Em plena caminhada para o Campeonato da Europa de 2008, a realizar na Áustria e Suíça, a Selecção Nacional é sempre um dos principais motivos de discussão dos adeptos de futebol. Na ordem do dia, e desde há vários anos a esta parte, continua a palavra 'renovação'. A denominada Geração de Ouro composta pelos pesos-pesados Figo, Rui Costa, Vítor Baía, Paulo Sousa, João Vieira Pinto e Fernando Couto, entre outros, foi-se eclipsando progressivamente. A idade não perdoa e Luís Figo, considerado o melhor jogador do mundo em 2001 pela FIFA, foi mesmo o último resistente dessa geração que, embora recheada de talento e mentalidade inovadora para a realidade nacional então vigente, não conseguiu alcançar qualquer título relevante ao nível sénior.

Após a frustrante participação no Mundial'2002, coube a Luís Felipe Scolari assumir o comando da selecção de todos nós. Desde aí, foi notório o corte com o passado e um rejuvenescimento dos nomes presentes em cada convocatória elaborada. Não obstante algumas decisões arrojadas e polémicas, como por exemplo os afastamentos de Vítor Baía e João Vieira Pinto, Felipão não abanou e manteve firmeza nas suas ideias renovadoras. Já no Euro'2004, magnificamente organizado por Portugal, a derrota inaugural com a Grécia serviu para o seleccionador nacional arrepiar caminho e apostar, definitivamente, nas caras novas que se vinham impondo. Com efeito, as prestações no Euro'2004 e no Mundial'2006, cujos resultados foram do melhor que Portugal alguma vez alcançou (embora a final da Luz tenha sido uma derrota difícil de digerir), deram o crédito suficiente a Scolari para levar o seu processo regenerativo por diante.

Nos dias que correm, a tal Geração de Ouro é apenas passado e é com os novos talentos emergentes - alguns mais consolidados que outros - que Portugal é olhado como uma das maiores potências futebolísticas do Velho Continente. A pequenez que outrora existia e o complexo de inferioridade que nos levava a ficar contentes apenas com vitórias morais faz parte da história e Portugal é, hoje por hoje, um dos principais candidatos à vitória no Europeu, juntamente com colossos como a Itália (campeã mundial), a França, a Alemanha, a Inglaterra ou a Holanda.


Quem são então os novos justiceiros que nos fazem sonhar?

Já não é novidade para ninguém que Cristiano Ronaldo é o líder dos novos tempos. Com apenas 22 anos e no Manchester United desde os 18, o prodígio madeirense é já considerado por muitos o melhor futebolista do mundo. Graças ao seu talento brilhante, poderio físico e mentalidade vencedora, o sucessor de Eric Cantona nos corações dos 'red devils' é, portanto, o principal ícone da Selecção Nacional e promete manter esse estatuto por muitos e bons anos. De tal forma que o seu técnico Alex Ferguson já afirmou que só daqui a três anos Ronaldo atingirá a maturidade e a plenitude das suas capacidades. Se já hoje é aquilo que é...

Na peugada do astro português surge um conjunto de jogadores de que poucas selecções se podem orgulhar. Mesclando elementos mais experientes, mas com vários anos ainda pela frente, como Ricardo Carvalho, Jorge Andrade, Miguel, Deco e Simão, com jovens - já autênticas certezas - da estirpe de Quaresma, João Moutinho, Miguel Veloso, Nani e Manuel Fernandes, o produto final só pode ser uma equipa temível, capaz de se bater com galhardia e coragem pelo título continental. Existe depois uma fornada de pequenos talentos, ávidos de uma oportunidade para demonstrarem que podem também, mais cedo ou mais tarde, fazer parte da lenda: Fábio Coentrão, Hélder Barbosa, Bruno Gama, Adrien Silva, entre muitos outros, ou não fosse o nosso país um verdadeiro viveiro de qualidade futebolística.

Analisemos então a Selecção Nacional pelas diferentes posições do seu sistema habitual 4-3-3, sob dois planos distintos - presente e futuro (não muito distante):

GUARDA-REDES
- Presente: Ricardo e Quim.
- Futuro: Moreira, Daniel Fernandes e Ventura.

LATERAL-DIREITO
- Presente: Miguel e Bosingwa.
- Futuro: Nélson.

LATERAL-ESQUERDO
- Presente: Paulo Ferreira e Caneira.
- Futuro: Antunes.

DEFESA-CENTRAL
- Presente: Ricardo Carvalho, Jorge Andrade, Bruno Alves, Fernando Meira, Ricardo Rocha e Pepe.
- Futuro: Manuel da Costa, Zé Castro, Rolando.

MÉDIO-DEFENSIVO/MÉDIO TRANSPORTADOR
- Presente: Petit, Tiago, Raúl Meireles, Miguel Veloso, João Moutinho, Maniche e Pedro Mendes.
- Futuro: Manuel Fernandes, Adrien Silva, Paulo Machado, Tiago Gomes e Ruben Amorim.

MÉDIO-OFENSIVO
- Presente: Deco, Hugo Viana e Duda.
- Futuro: Carlos Martins e Danny.

EXTREMO
- Presente: Cristiano Ronaldo, Quaresma, Simão e Nani.
- Futuro: Hélder Barbosa, Fábio Coentrão, Vieirinha e Bruno Gama.

AVANÇADO/PONTA-DE-LANÇA
- Presente: Nuno Gomes, Postiga, Hugo Almeida e João Tomás.
- Futuro: Vaz Tê e Yannick Djaló.

Vejo o panorama bastante animador, com jogadores de indubitável categoria nos mais variados sectores do terreno, prontinhos a usar ou em fase de progressão. Scolari não se pode queixar da sua sorte e deve sentir-se um privilegiado por ter tanta e tão boa matéria-prima. Apenas no lugar de ponta-de-lança há alguma escassez de opções de primeiro nível, mas esse é já um problema crónico do futebol luso. Há que contar com o que existe e tentar sempre melhorar as performances de cada um, no sentido de encurtar distâncias para os rivais que, nesse aspecto particular, estão bem mais avançados.
Certo é que, e voltando um pouco atrás, Cristiano Ronaldo é o líder incontestável desta nova vaga que garantirá a plena renovação do nosso seleccionado. E quem dispõe de um jogador assim, não tem que temer nenhuma batalha. É ir à luta e... ganhar!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

QUESTIONÁRIOS (1)


Hoje apetece-me fazer aqui uma coisa diferente. Não me canso de dizer que ando sem muito tempo para me dedicar ao blog, o que é mesmo verdade, mas confesso que, nos poucos momentos livres que me restam, tenho sido um pouco malandro! Como tal, na qualidade de profundo apreciador de futebol internacional, e visto que esta discussão ganhará intensidade à medida que o final do ano se aproximar, quero apenas colocar a todos as seguintes questões:

1 - QUEM É O MELHOR JOGADOR DO MUNDO EM TERMOS ABSOLUTOS?

2 - QUEM FOI OU ESTÁ A SER O MELHOR JOGADOR MUNDIAL EM 2007?

3 - QUEM GANHARÁ O PRÉMIO 'FIFA WORLD PLAYER 2007'?

terça-feira, 25 de setembro de 2007

DRAGÕES 'ON FIRE'


1ª Liga - 5ª Jornada

O FC Porto foi o grande vencedor desta 5ª jornada da 1ª Liga. Foi ao sempre complicado terreno do aguerrido P.Ferreira arrancar uma inequívoca vitória por 0 - 2, demonstrando uma atitude séria, profissional, batalhadora e ganhadora. Beneficiou depois dos empates dos seus maiores rivais: o Benfica empatou a zero em Braga, o Sporting não foi além de uma igualdade caseira a duas bolas frente ao Setúbal. Com isto, o FC Porto cavou um fosso maior para os emblemas da Capital, detendo agora cinco e seis pontos de vantagem sobre, respectivamente, 'leões' e 'águias'. Preocupante? Eu diria que sim. O Marítimo prossegue o seu percurso surpreendente e somou o quarto triunfo, batendo (2 - 0) o excelente Belenenses, vindo da boa jornada europeia em Munique. Os homens de Lazaroni seguem na segunda posição a três pontos dos portistas. Na abertura da ronda, o Guimarães mostrou a sua força e goleou (1 - 4), na Figueira da Foz, a frágil equipa da Naval, acabadinha de despedir Francisco Chaló. O Leixões desiludiu ao empatar em casa com o Nacional a um golo, mantendo uma posição no meio da tabela. Nos dois restantes jogos (U.Leiria - E.Amadora e Boavista - Académica), outros tantos nulos e um futebol paupérrimo, nada de anormal quando se fala das equipas que jogaram em casa.


Jogos:

NAVAL - GUIMARÃES 1 - 4
1 - 0 Paulão 13'
1 - 1 Flávio Meireles 31'
1 - 2 Fajardo 32'
1 - 3 Mrdakovic 49'
1 - 4 Ghilas 76'
Segunda vitória dos vimaranenses, que começam agora a mostrar a sua força e a dissipar, paulatinamente, algumas dúvidas que ainda existiam desde o início da época. Manuel Cajuda começa a incutir as suas ideias nos jogadores vitorianos e isso é garantia quase certa de um lugar cimeiro na classificação, talvez entre os seis primeiros. A Naval até começou bem, inaugurando o marcador por Paulão, que respondeu de cabeça a um pontapé de canto. Só que a personalidade e maior qualidade vimaranense veio à tona e, não acusando o golo sofrido, partiu para cima do adversário, de tal forma que ao intervalo já tinha dado a volta ao marcador. Flávio Meireles e Fajardo (continua em grande este ex-navalista) materializaram esse assalto à baliza de Wilson Júnior, com dois bons golos. Na segunda metade, mais do mesmo, a Naval sem soluções e o Guimarães a controlar o jogo com serenidade e confiança. O golo madrugador de Mrdakovic ajudou a matar definitivamente alguma esperança que pudesse restar aos figueirenses. O artista Ghilas ainda teve tempo de fazer também ele o gosto ao pé e fixar o 'placard' num robusto e indiscutível 1 - 4. Talvez esta derrota pesada ajude o presidente da Naval a repensar a sua forma de estar no futebol, pois despedir um técnico à 4ª jornada, logo após o ter contratado, não é mais do que fugir às suas responsabilidades e admitir a sua própria incompetência.

LEIXÕES - NACIONAL 1 - 1
0 - 1 Lipatin 15'
1 - 1 Nuno Diogo 79'
Quinto empate consecutivo dos leixonenses, no jogo de estreia da sua verdadeira casa, o Estádio do Mar. Além do resultado algo desolador para uma equipa que jogava em casa perante outra pior classificada, o que realmente foi frustrante foi o fraco desempenho evidenciado pelos pupilos de Carlos Brito. Futebol trapalhão, feio e desligado, aliado à precipitação defensiva só poderia dar em golo sofrido. Lipatin, o tal que não serviu para o Marítimo, foi o concretizador de serviço. Para o segundo tempo, o técnico leixonense arriscou, como aliás lhe competia. Lançou Nwoko e catapultou a sua equipa na procura do empate. Abriu, é verdade, maiores espaços lá atrás e só a atenção de Beto evitou, em duas ocasiões, novo tento de Lipatin. A persistência do Leixões, potenciada pelo fervor da sua massa adepta nas bancadas, acabou por dar os seus frutos e Nuno Diogo lá conseguiu enviar a bola para o fundo das redes à guarda de Diego Benaglio. Já ao cair do pano, a reviravolta poderia ter surgido, mas Jorge Gonçalves atirou ao poste. Resultado justo.

BRAGA - BENFICA 0 - 0
A excelente moldura humana presente no Municipal de Braga merecia mais que este pobre espectáculo. Jogo sempre muito disputado a meio-campo, sem arte nem inspiração, valendo apenas pelo empenho dos jogadores e, apesar de tudo, pela incerteza no resultado até ao final. As jogadas de perigo foram uma raridade, tendo a maior pertencido ao bracarense Linz, que com uma bela cabeçada, proporcionou a defesa da noite a Quim. Um remate de Cristian Rodríguez para defesa instintiva de Dani Mallo foi o melhor que se viu à turma de Camacho. Para quem gosta de futebol e tem prazer em vislumbrar razões para que se possa exaltar o futebol português, é sempre frustrante quando um jogo entre duas das melhores equipas lusas resulta num triste espectáculo sem golos. No Benfica, apenas Quim e o jovem camaronês Binya se evidenciaram. No Braga, todos estiveram a um nível médio-baixo, inclusivé o técnico Jorge Costa, que não soube como ganhar um jogo que, pelo que se viu, estava claramente ao alcance. Por falar em técnico, alguém me explica aquelas substituições do Camacho?


MARÍTIMO - BELENENSES 2 - 0

1 - 0 Kanu 26'
2 - 0 Makukula 90'
O Marítimo soma e segue nesta 1ª Liga. Desta vez a vítima foi o Belenenses de Jorge Jesus que, apesar da réplica dada ao Bayern Munique a meio da semana, não resistiu ao maior poderio actual dos maritimistas. Foi a quarta vitória em cinco jogos para os comandados de Lazaroni que, recorde-se, só foram batidos pelo bicampeão FC Porto. O Marítimo exibiu sempre maior personalidade e serenidade, embora os de Belém procurassem sempre responder, sem se remeterem demasiado à sua defensiva. Depois de algumas ameaças de parte a parte, Kanu, isolado por Bruno, resolveu acertar no alvo e adiantar a sua equipa no decorrer da primeira metade. Após o descanso, o Belenenses surgiu mais subido e dominador, mas a profundidade nunca foi suficiente para causar grandes embaraços a Marcos. O Marítimo aguentou bem a ténue pressão e viria ainda a aumentar o 'score', através da eficácia do seu goleador-mor Makukula. Triunfo justo dos madeirenses, embora a diferença tangencial talvez fosse mais ajustada ao que se passou no relvado. Palmas para este Marítimo, tem sido uma lufada de ar fresco neste futebol nacional pouco concretizador e muito jogado aos repelões.


P.FERREIRA - FC PORTO 0 - 2

0 - 1 Lisandro 11'
0 - 2 Lisandro 67'
Na minha opinião, esta foi uma excelente vitória do FC Porto, se tivermos em conta as dificuldades que o Paços impõe a qualquer adversário sempre que actua no seu terreno. O que mais me agradou foi a atitude de querer ganhar revelada por todos os jogadores azuis e brancos, a forma como correram e lutaram desde o início pelos três pontos. Lisandro, sempre ele, personificou na perfeição o espírito de sacrifício colectivo e foi o autor dos golos que selaram a quinta vitória consecutiva do FC Porto nesta liga. O jogo foi extremamente vivo e intenso, com transições rápidas de ambos os lados e a bola a circundar as duas balizas. Na verdade, o Paços foi sempre um rival muito incómodo e procurou jogar no campo todo, mas o certo é que o controlo da partida esteve sempre do lado dos 'dragões' e o resultado acaba por espelhar a diferença de qualidade entre ambos os conjuntos. Nota positiva para os passes para golo de Bruno Alves e Leandro Lima, para a frieza categórica de Lisandro na hora de bater Peçanha e para Jesualdo que, desde o banco, soube ler o jogo, mexer bem nas pedras e no tempo certo. Uma palavra de apreço para a actuação de Edgar como avançado titular. Movimentou-se sempre muito e bem, revelou capacidade para ganhar infinitos lances pelo ar e só uma grande intervenção de Peçanha o impediu de fazer o gosto... à cabeça. O FC Porto segue como líder incontestado e, pelo que se tem visto da globalidade do campeonato, promete manter o estatuto por bastante tempo.


U.LEIRIA - E.AMADORA 0 - 0

A turma de Paulo Duarte já mostrou que o seu forte não é jogar um futebol virado para a frente e procurar fazer golos e este jogo foi apenas mais um exemplo disso mesmo. As ridículas assistências que se dão ao trabalho de ir ver os leirienses mereciam bem mais que dois golos marcados em cinco jogos. É verdade que a U.Leiria mandou no jogo do princípio ao fim, acercou-se inúmeras vezes da baliza amadorense, mas as oportunidades resumem-se a dois lances, um de João Paulo e outro de N'Gal (nem isolado foi capaz de dar uma alegria àqueles adeptos...). O Estrela, muito organizado e pouco audacioso, pouco mais fez que esperar pelo apito final e levar um pontinho para casa. Não está em causa a valia de Daúto Faquirá, mas a mentalidade patenteada neste encontro não faz falta ao nosso futebol. Não prevejo grandes feitos para qualquer destas duas equipas nesta temporada.


SPORTING - SETÚBAL 2 - 2

0 - 1 Elias 41'
1 - 1 João Moutinho 64' gp
1 - 2 Matheus 78'
2 - 2 Purovic 86'
É sempre de saudar um jogo com muitos golos, caso raro nesta jornada e nesta liga em geral, portanto jogos destes são sempre bem-vindos, apesar do relvado lastimável que deve fazer corar de vergonha qualquer responsável sportinguista. Como Paulo Bento admitiu no final, o Sporting entrou a dormir e quase nada fez de relevante durante os primeiros 45 minutos. Ao invés, os setubalenses Matheus, Pitbull e Elias causaram bastantes problemas à defesa leonina, com saídas rápidas para o ataque. Numa delas, Elias abriu a contagem e levou a sua equipa para o intervalo com uma justíssima vantagem. Para a segunda parte, Bento emendou a mão e retirou Farnerud e Gladstone, claramente a mais no onze. As entradas de Izmailov e Romagnoli melhoraram naturalmente o jogo do Sporting que passou a criar uma série de ocasiões para empatar a partida. Golo que chegou de grande penalidade, existente, a castigar uma falta sobre Abel em cima do risco delimitador da área. O Sporting continuou a carregar mas foi o Setúbal que marcou, num remate de Matheus, com muitas culpas para Stojkovic, que continua a acumular erros atrás de erros e a desiludir quem confiou em si. Purovic, finalmente, lá conseguiu acertar com a baliza e dar o empate ao Sporting, mas no final o público não se poupou nos assobios. Até porque, não fosse o árbitro ter-se esquecido de assinalar um penalty claro a favor dos sadinos ainda no primeiro tempo, e este empate seria uma derrota. O que não vale tantas queixinhas...


BOAVISTA - ACADÉMICA 0 - 0

Péssimo jogo de futebol e assim não admira que a maior parte dos estádios portugueses estejam às moscas. Mas alguém no seu perfeito juízo dará o pouco dinheiro que seja (e sabemos que não é) para ver 22 malucos atrás de uma bola?! O Boavista tem um golo marcado em cinco jogos e percebe-se bem porquê: jogadores medíocres e um treinador pouco ambicioso, bem longe daquele que se sagrou campeão nacional em 2000-01. Não iria ver este jogo ao vivo nem de borla e, mesmo pela TV, é grande a vontade de mudar de canal. Ainda assim, os axadrezados podem queixar-se da falta de sorte e da incompetência de Lucílio Baptista. Duas bolas enviadas à trave, por Diakité e Jorge Ribeiro (o melhor em campo), são motivo, de facto, para lamentar a pouca fortuna. Por outro lado, em cima do minuto 90, o árbitro não assinalou uma grande penalidade absolutamente escandalosa, por mão descarada de Cris no interior da área. Erros destes são muito difíceis de digerir e o Boavista pode alegar com razão ter sido prejudicado, mas isso não pode fazer esquecer a confrangedora ausência de futebol na turma do Bessa. Ó Jaime Pacheco, assim não vais lá...




Equipa da Jornada:



Quim (Benfica):
o guardião português atravessa um bom momento e em Braga isso notou-se. Revelou segurança ora nas saídas, ora entre os postes, onde realizou três intervenções salvadoras. A melhor delas, respondendo a um cabeceamento com selo de golo de Linz, foi mesmo a defesa da noite. Não considero Quim um grande guarda-redes, mas, nesta altura, merece mais a titularidade na Selecção Nacional que Ricardo, que se tem fartado de sofrer golos no Bétis.


Abel (Sporting):
não obstante os problemas defensivos sentidos pela inspiração de Matheus, foi absolutamente decisivo nos dois golos leoninos, tendo sofrido a falta que originou o penalty e efectuado o cruzamento para o tento do empate. Uma exibição à sua imagem.


Bruno Alves (FC Porto):
exibiu a segurança habitual a comandar a defesa portista e foi um obstáculo intransponível para os irrequietos atacantes pacenses. Teve ainda tempo para subir ao ataque e lançar Lisandro para o golo inaugural. Assume-se cada vez mais como um jogador de óptimo nível.


Nuno Diogo (Leixões):
marcou o golo que salvou o Leixões de uma derrota caseira diante do Nacional. Subiu à area adversária e fez uso do seu bom jogo aéreo para facturar. Na defesa, exibiu-se em plano regular. O golo que marcou foi mesmo o factor de desequilíbrio face aos restantes centrais, numa jornada em que nenhum brilhou de forma particularmente intensa.


Jorge Ribeiro (Boavista):
o irmão de Maniche agrada-me como jogador e, dada a escassez de laterais-esquerdos portugueses de raíz, poderia ter atingido um patamar mais elevado na sua carreira. Foi o melhor em campo no pobre Boavista-Académica. Subiu sempre a propósito pela sua faixa e ainda enviou uma bola ao ferro.


Flávio Meireles (Guimarães):
magnífica exibição deste vitoriano dos sete costados. Esteve literalmente em todo o lado, varrendo por completo a zona central do terreno, recuperando infindáveis bolas e lançando a sua equipa para a frente. A coroar o seu desempenho, marcou um belo golo de cabeça, respondendo fulgurantemente a um livre lateral. Um líder.


João Moutinho (Sporting):
a mesma qualidade e entrega, mesmo jogando em duas posições distintas: médio-defensivo e médio-ofensivo. É daqueles que só surpreende quando joga mal e o Sporting deve-lhe boa parte da melhoria colectiva no segundo tempo. Facturou de penalty o seu segundo golo nesta liga.


Romagnoli (Sporting):
no banco pela primeira vez esta temporada, o 'playmaker' argentino entrou ao intervalo e mudou completamente o rumo do jogo contra o Setúbal. Correu muito, jogou e fez jogar, deu fluidez à manobra atacante do Sporting, teve boas iniciativas individuais e só não marcou porque Eduardo mostrou atenção.


Desmarets (Guimarães):
embora seja esquerdino, concedo-lhe o lado direito do ataque nesta 5ª jornada. Esteve endiabrado diante da Naval, participando activamente em três dos quatro golos vimaranenses. Enfrenta uma concorrência forte e não é titular indiscutível, mas neste desafio esteve excelente e constitui-se como opção muitíssimo válida para Manuel Cajuda.


Lisandro (FC Porto):
foi a grande figura da jornada, ao apontar os dois golos da vitória do FC Porto na Mata Real, plenos de oportunidade e capacidade goleadora. A juntar ao bis, a habitual disponibilidade para se movimentar por todo o lado, com ou sem bola, atacando ou defendendo. Merece a admiração dos adeptos.


Matheus (Setúbal):
mais uma excelente exibição do extremo-esquerdo brasileiro, que juntando a outras realizadas anteriormente, fazem dele a maior estrela sadina até ao presente momento. Em Alvalade, foi uma seta apontada à baliza de Stojkovic e o golo que assinou foi apenas uma pequena parte do trabalho global. Uma bela surpresa para mim.




O facto:



O aumento da vantagem do FC Porto sobre os seus mais directos adversários na luta pelo título, Sporting e Benfica, são a nota de maior destaque desta 5ª jornada. A procissão ainda vai no adro, mas cinco e seis pontos de diferença, alcançados em apenas cinco rondas, devem ser motivo de preocupação lá para os lados da Segunda Circular. Neste defeso, muitas dúvidas se colocaram quanto à prestação portista, alicerçando-se a argumentação nas pretensas limitações técnicas e motivacionais de Jesualdo Ferreira, nas perdas de Anderson e Pepe, bem como na fraca fiabilidade dos reforços contratados. Por outro lado, a confiança nos clubes lisboetas parecia crescente. Camacho foi visto como o D.Sebastião encarnado, solução para todos os males e garantia de vitórias a curto prazo. Paulo Bento segue no seu prolongadíssimo estado de graça e quase ninguém ousa duvidar da sua valia enquanto treinador. A verdade é que os resultados dão, tal como no começo da época passada, vantagem segura a Jesualdo Ferreira, de nada valendo a ideia quase unânime de que será o pior timoneiro dos três. O momento da quebra azul e branca chegará, empates e derrotas irão por certo acontecer, mas será difícil que o eventual declínio seja tão acentuado como em 2006-07. E Sporting e Benfica também não irão ganhar sempre. Estamos no início, nada está decidido, mas é bom ir lá na frente e ver os adversários ao longe. Para já, o Marítimo é mesmo a principal ameaça.




Assistências:



Naval - Guimarães: 992
Leixões - Nacional: 4.100
Braga - Benfica: 21.804
Marítimo - Belenenses: 5.777
P.Ferreira - FC Porto: 2.689
U.Leiria - E.Amadora: 835
Sporting - Setúbal: 30.106
Boavista - Académica: 4.152
Total: 70.455
Média: 8.806

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A SAÍDA DE MOURINHO


A notícia caiu que nem uma bomba no mundo futebolístico: José Mourinho deixou de ser o treinador do Chelsea! Muita gente dirá que o cenário já era previsível, no entanto, a mim não deixou de causar alguma surpresa e até estupefacção. Tinha consciência das divergências notórias entre ele e o patrão Roman Abramovich, é certo que a combinação do futebol pouco atractivo com os recentes maus resultados poderiam fazer aumentar a especulação, mas não esperava de todo um desenlace tão radical, sobretudo numa fase tão prematura da temporada. A decisão, fala-se, surgiu por mútuo acordo, embora se saiba que a iniciativa partiu logicamente de Abramovich.

O que terá estado na base deste 'golpe de teatro'? Ninguém no seu perfeito juízo associará esta ruptura apenas ao empate caseiro com o Rosenborg, embora ele tenha sido pouco menos que escandaloso. Este péssimo resultado na estreia da Liga dos Campeões serviu apenas como óptimo pretexto para o multimilionário russo levar a cabo aquilo que já lhe estaria na cabeça há já algum tempo. O fraco início de época dos 'blues' foi a justificação perfeita para Abramovich pôr termo a uma relação que objectivamente já não funcionava. Os sinais de desencontro de ideias vinham sendo visíveis já desde a temporada transacta, cujas contratações de Shevchenko e Ballack foram o ponto de partida e a recusa de Abramovich, em Janeiro, da compra do central pedido por Mourinho, o seu auge.

Assim de fora, não é complicado traçar possíveis motivações para este choque de personalidades. Abramovich é o dono do clube, injecta milhões e mais milhões na equipa de futebol, e obviamente julga ter o direito de 'baralhar, partir e dar' em todo e qualquer assunto com ela (a equipa) relacionado. Mourinho é, como sabemos, um treinador de fortíssimo carácter, que gosta de impôr a sua forma de pensar e ter autonomia para tomar as decisões que achar necessárias. Não admite interferências no seu trabalho e só se sente à vontade se tiver total domínio sobre o plantel que orienta.

Isso não aconteceu no Chelsea. Depois de duas épocas fantásticas a nível interno, Abramovich achou-se no direito de começar a interferir no domínio técnico. No arranque para a terceira época da era-Mourinho, obcecado com a conquista da Liga dos Campeões e desejoso de um futebol mais espectacular, resolveu contratar as estrelas Shevchenko e Ballack, ao que tudo indica, sem que essa fosse a indicação do técnico português. Mourinho é apologista de recrutar jogadores ainda à procura da fama, sedentos de vitórias e que se encaixem perfeitamente numa lógica grupal, onde o colectivo se sobreponha aos interesses individuais. Especialmente o internacional ucraniano constituiu sempre uma pedra no sapato de Mourinho, que nunca fez dele titular indiscutível, bem pelo contrário (também se o rendimento de 'Sheva' não foi um zero andou lá perto). Esta situação terá gerado um certo descontentamento do 'big boss', que investiu uma astronómica quantia, sem que houvesse a devida rentabilização desse investimento (o facto de Abramovich e Shevchenko serem grandes amigos pessoais é apenas um promenor...). Numa temporada 2006-07 farta em lesões no plantel londrino, Mourinho reclamou, em Janeiro, o reforço do eixo defensivo, obtendo resposta negativa do russo. O ambiente tornou-se ainda mais tenso, eram perceptíveis algumas indirectas lançadas pelo treinador e percebia-se que a ruptura poderia acontecer a qualquer altura. O futebol, por vezes, de facto, pouco atractivo praticado pelos 'blues', aliado à perda da Premier League para o Manchester United e à eliminação da Champions aos pés do Liverpool, começaram a retirar a paciência a Abramovich, sendo que paciência era aquilo que Mourinho já não tinha para aturar os desvarios do patrão.

Por que razão Abramovich não prescindiu de Mourinho logo no defeso, se manifestamente era essa a sua vontade? Medo, muito medo! Mourinho ganhou seis títulos em três temporadas (2 Premier Leagues, 1 Taça de Inglaterra, 2 Taças da Liga e 1 Supertaça Inglesa), devolveu o título máximo inglês ao clube passado meio século, era idolatrado pelos adeptos, amado pelos seus jogadores e respeitado por todos os seus adversários. Foi, de longe, o treinador mais bem sucedido da história do Chelsea e uma decisão tão problemática não poderia nunca ser tomada num momento qualquer. Havia que esperar pela melhor oportunidade estratégica, leia-se maus resultados em série, no sentido de tentar amenizar a reacção crítica.

Todavia, as manifestações de descontentamento dos adeptos londrinos não se fizeram esperar, numa prova inequívoca de que não aprovaram esta decisão de Abramovich e, mais do que isso, que estão contra o rumo tomado pelo seu clube do coração. As suas perplexidades são as da opinião pública em geral. Sem o técnico luso ao leme, mesmo com a reabertura da 'torneira' financeira, continuará o Chelsea a coleccionar sucessos à velocidade destes três anos? Terá capacidade para finalmente derrotar os colossos europeus e conquistar a Champions? Conseguirá aliar o almejado futebol atractivo com os títulos que todos ambicionam? Parece-me que não! Antes de Mourinho chegar a Stamford Bridge, o emblema azul apenas havia conquistado um campeonato nacional ao longo de todo o seu historial. Talvez volte agora a ser o clube sem expressão que sempre foi. O dinheiro vale muito, mas sem alguém que discipline o gasto e perceba o que está a fazer, pode tornar-se um grande problema, até porque comandar um clube de futebol não é bem a mesma coisa que gerir uma empresa. Roman Abramovich?? Frank Arnesen?? Avram Grant??

José Mourinho, esse, continuará a sua carreira de sucesso noutras paragens, talvez agora num clube à medida da sua categoria. Tirando os clubes ingleses que, ao abrigo de uma cláusula acordada com o Chelsea, não poderão ser um destino imediato, vejo apenas cinco clubes nessa elite: Barcelona, Real Madrid, Milan, Juventus e Inter. Mourinho desempregado é um verdadeiro fantasma para qualquer treinador a trabalhar nestes clubes de topo. À primeira porta que se abrir, será o primeiro escolhido, seja qual fôr o clube. Adorava vê-lo treinar um dos gigantes espanhóis, mas parece-me que Itália nunca esteve tão perto para o 'Special One'... É ele, o melhor treinador de futebol do planeta!

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

SCOLARI: A FIGURA DA NOITE


Já muito se falou do soco que Luíz Felipe Scolari aplicou no jogador sérvio Dragutinovic, no final do Portugal-Sérvia de quarta-feira. Como sempre acontece em casos semelhantes, mais a mais tratando-se de uma figura que objectivamente divide a sociedade portuguesa, as opiniões divergem. Uns pedem a demissão do seleccionador nacional. Outros não acham caso para tanto, mas já não disfarçam a sua antipatia pelo carácter polémico e conflituoso de Felipão. E há também os que o defendem com unhas e dentes, declarando até compreensão para com aquele acto intempestivo. No meio de todo este imbróglio, é visível que, na maioria dos considerandos, não há uma separação entre o murro e a visão de cada um acerca da realidade actual da Selecção Nacional. Os detractores de Scolari, servem-se do triste acontecimento para pedirem a cabeça do técnico. Os seus fiéis seguidores não perdem a oportunidade para dizer que o erro faz parte da condição humana, lembrando depois que Scolari é o treinador mais bem sucedido da história da selecção de todos nós.

Eu separo as águas. A atitude que o 'Sargentão' tomou foi vergonhosa, inadmissível e patética. Um treinador a agredir um jogador adversário é surreal. Por outro lado, penso que, após o Europeu'2008, Scolari só tem um caminho que é a saída. Ressalvo, porém, que estas duas opiniões são completamente independentes uma da outra, ou seja, não é por Scolari ter agredido o defesa do Sevilha que defendo a sua saída no ano que vem. Nem é por achar que o tempo dele aqui está próximo do final que acho aquele soco mais ou menos vergonhoso para o futebol português, ou merecedor de uma pena maior ou menor.

De facto, aquele gesto de pugilato foi miserável. É certo que Drago não foi dar os parabéns a Scolari no final, nem dizer ao Quaresma que é um fã incondicional das suas trivelas. É óbvio que a frustração provocada pelo empate sérvio conseguido à beira dos 90 minutos, mais ainda com um golo irregular, terá facilitado à paralisação momentânea do cérebro do brasileiro. Todos devemos admitir que se formos insultados na cara, numa situação de tensão, não teremos propriamente reacções meigas ou gestos de carinho em resposta. Só que Scolari tem um cargo de responsabilidade e se aufere 150 mil euros por mês, não é só para orientar a equipa nacional, mas também para servir de exemplo aos seus jogadores, aos adeptos, a todos os que acompanham o fenómeno desportivo. Não pode ter uma atitude daquelas! Merece um castigo condizente com o erro que cometeu, o mesmo é dizer uma suspensão temporária. De quanto tempo? A UEFA deve decidir estes casos através de critérios já definidos, digo eu. A FPF, essa, limitar-se-á a assobiar para o lado, uma vez que Gilberto Madaíl não tem pulso para colocar Scolari em sentido ou porque simplesmente não quer gerar ainda mais instabilidade que a que já existe. Daí que não seja de espantar a diferença de tratamento dado pela Federação em relação ao caso de Zequinha: primeiro porque um incidente com a equipa de arbitragem é sempre considerado mais grave que com um adversário, depois porque Zequinha é um 'zé ninguém' e é irrelevante para os objectivos federativos, o mesmo não se passando evidentemente com Scolari. Quer queiramos ou não, seja eticamente mais ou menos reprovável, a verdade é que as coisas se processam desta forma e os fortes têm sempre maior margem de erro que os fracos.

A punição justa para o técnico brasileiro será portanto uma suspensão temporária e uma multa a condizer com o seu salário. Falar-se do seu despedimento imediato é despropositado. Apesar da gravidade do acto, não é razão para um castigo tão severo e, convenhamos, seria uma medida nefasta para a Selecção Nacional atravessar um período de transição técnica numa fase tão importante e decisiva como esta. E se o Presidente da FPF foi eleito para defender os interesses da futebol português, tem então o dever de lidar com esta situação com algum cuidado. Esta é a minha opinião e, como fervoroso adepto da selecção portuguesa, digamos que pertenço à facção dos moderados. E sobre o murro, apesar de tudo, fraquinho, estamos conversados.

Outra discussão completamente diferente prende-se com a realidade actual futebolística desta selecção. Na minha opinião, pior não podia estar. Nunca gostei do personagem-Scolari e acho-o limitado a nível táctico e estratégico. Mas também lhe reconheço méritos na sua capacidade de liderança, motivação e aglutinação de massas em torno de uma meta comum. Achei descabidas, por exemplo, diversas opções que tomou (preterir Vítor Baía em 2004 e Quaresma em 2006 chegou a ser escandaloso), além do ridículo de ter sido necessário perder o jogo inaugural do Euro em Portugal, para perceber que Carvalho, Maniche ou Deco tinham que estar no onze inicial. No entanto, recordo as alegrias que me deu nas boas campanhas no Euro'2004 e Mundial'2006, em jogos verdadeiramente memoráveis com a Inglaterra, Holanda ou Espanha. Isto para dizer que a minha 'relação' com Scolari sempre foi algo ambígua e instável.

Ora, a fase de qualificação para o Euro'2008 está a ser um desastre e Luíz Felipe Scolari é obviamente o primeiro responsável, da mesma forma que foi o principal exaltado nas excelentes campanhas passadas. Tendo um conjunto de jogadores absolutamente notável ao dispôr e comandando claramente a equipa mais forte do seu grupo, Felipão tinha a obrigação de ter já o apuramento assegurado, poupando-nos ao uso da máquina de calcular. Tem denotado uma gritante falta de ambição e espírito de conquista (as contas a pensar nas vitórias em casa e nos empates fora nunca me agradaram), não tem conseguido dos jogadores uma total concentração competitiva e atitude profissional, demonstra insuficiências confrangedoras a ler o jogo e a agir durante o mesmo no sentido de melhorar o desempenho colectivo, teima em deixar no banco jogadores melhores que os seus concorrentes, entre outras lacunas. O jogo com a Sérvia foi disto um bom exemplo. A passividade com que Scolari olhou para o adormecimento dos jogadores no relvado foi a razão fundamental para aquele empate e, depois da atitude pouco ambiciosa com o resultado em 1 - 0, é descabido utilizar a desculpa da arbitragem. Depois, podemos sempre lembrar a derrota e o empate com a Polónia, o empate estúpido na Arménia, e até mesmo os empates na Finlândia e na Sérvia, onde se podia ter ganho com outro tipo de mentalidade.

Na minha opinião, o tempo de Scolari ao comando da Selecção Nacional chegará ao fim com a realização do Euro'2008. Não haverá mais condições para a sua continuidade, dado o desgaste de ambas as partes. Quando partir, não rejubilarei de alegria, nem sentirei qualquer nostalgia. Contribuiu para o engrandecimento do futebol luso, mas não sentirei saudades.

Concluindo, estou com vontade de ver outro seleccionador no comando técnico nacional a partir do Euro'2008, mas a 'esquerda' aplicada a Dragutinovic nada tem a ver com isso. É uma questão meramente futebolística. Até porque ninguém me garante que o seu sucessor não possa fazer melhor.

domingo, 9 de setembro de 2007

GRANDES VITORIOSOS


1ª Liga - 3ª Jornada

Não houve grandes surpresas nesta 3ª jornada da liga. Os três crónicos candidatos ao título venceram os seus opositores, com o Sporting a ser aquele que mais dificuldades sentiu, apesar de jogar em sua casa. Um golo de Liedson já perto do final salvou os 'leões' do empate frente ao Belenenses. O FC Porto foi a Leiria derrotar a União local por margem folgada, à semelhança do Benfica que trouxe da Choupana três golos e pontos na bagagem. O Marítimo continua a surpreender e somou a sua terceira vitória consecutiva (2 - 0 diante da Académica), seguindo no topo da classificação, lado a lado com o FC Porto. O Braga também fez o que lhe competia e triunfou (2 - 1) em casa defronte do E.Amadora. De resto, Naval e Setúbal empataram a zero, P.Ferreira e Boavista empataram a um e, no jogo que tinha aberto as hostilidades, Leixões e Guimarães fizeram-no a duas bolas, num magnífico espectáculo de futebol. Embora estejamos ainda numa fase inicial, a tabela classificativa começa já a fazer uma selecção consoante a qualidade das equipas: os teoricamente mais fortes começam a chegar-se à frente e os mais fracos a ficarem para trás, a excepção será mesmo o Belenenses, de quem se esperava algo mais que o actual pontinho.


Jogos:

LEIXÕES - GUIMARÃES 2 - 2
1 - 0 Paulo Machado 5'
1 - 1 Fajardo 19'
2 - 1 Vieirinha 35'
2 - 2 Fajardo 77'
Foi o jogo de abertura da 3ª jornada e, porventura, o melhor. Fruto da recente rivalidade criada na Liga de Honra e dos problemas havidos entre adeptos no jogo de apresentação da equipa leixonense, este encontro encerrava alguma preocupação, mas tudo acabou por correr pelo melhor. No relvado o espectáculo foi fantástico, com um ritmo elevado, jogadas perigosas e ambas as formações à procura da vitória. Os vimaranenses deram muito boa conta de si, mesmo tendo jogado largos minutos em inferioridade numérica - por expulsão directa de Radanovic -, anulada mais tarde com o duplo-amarelo a Vieirinha. O Leixões foi ligeiramente superior mas o empate acaba por ser o resultado mais justo e o que melhor espelha o desempenho das duas equipas. As cerejas no topo do bolo foram os quatro grandes golos apontados por Paulo Machado, Fajardo (duas vezes) e Vieirinha, com especial destaque para este último, claramente o melhor da jornada. O médio Fajardo foi o melhor em campo e continua a realizar uma temporada de grande nível. A continuar assim dificilmente não estará num grande na próxima época.

BRAGA - E.AMADORA 2 - 1
0 - 1 N'Diaye 8'
1 - 1 Rodriguez 81'
2 - 1 Linz 87'
O Braga vai somando pontos preciosos mas, face às crescentes expectativas, continua sem convencer. Desta feita, sofreu muito para derrotar um E.Amadora muito bem organizado, sempre ameaçador no contra-ataque e muito forte nas bolas paradas. Foi num desses lances que N'Diaye abriu o activo, após livre do lado direito batido por Mateus. O Braga denotou sempre falta de soluções para furar a bem escalonada defensiva estrelista e contam-se pelos dedos as ocasiões em que chegou com perigo junto da baliza de Nélson. Só após a entrada do endiabrado Zé Manel, aos 68 minutos, é que a equipa de Jorge Costa começou a carburar e a colocar em verdadeiro sentido o seu adversário. Desta pressão nasceram os dois golos da vitória bracarense. O primeiro foi da autoria de Rodriguez, após um pontapé de canto. O golo da vitória foi apontado por Linz, na sequência de uma arrancada imparável de Zé Manel, pois claro. O árbitro anulou um golo ao E.Amadora, por fora-de-jogo de Moses, quanto a mim acertadamente, já que, apesar de não tocar no esférico, Moses atrapalha a visão de Dani Mallo, interferindo decisivamente na jogada. Uma vitória arrancada a ferros de um Braga que não deslumbra, mas obtém resultados e segue lá em cima, a par do Sporting.

P.FERREIRA - BOAVISTA 1 - 1
1 - 0 Cristiano 34'
1 - 1 Bangoura 83'
Jogo fraco em que os pacenses fizeram por merecer a vitória, mas um erro inacreditável do árbitro-assistente Serafim Nogueira, que não assinalou um fora-de-jogo de quilómetros a Bangoura, no golo do empate boavisteiro, acabou por definir a divisão de pontos. Na primeira parte, o P.Ferreira foi senhor do jogo, cabendo aos comandados de Jaime Pacheco apenas a tarefa de destruir futebol. Além do golo de Cristiano, realce para uma bola no poste enviada por Furtado. Após o descanso, o Boavista procurou equilibrar, mas sem nunca criar jogadas de verdadeiro perigo. Aliás, a turma de José Mota esteve sempre mais perto de fazer o segundo do que sofrer o empate. Quem não marca sofre, diz o senso comum e é bem verdade, ainda que desta vez o impulso tenha sido dado por um erro absolutamente escandaloso. Mesmo ao cair do pano, o miúdo Ivan teve nos pés o golo da vitória do Boavista que, a bem da justiça, acabou por não acontecer. Duas equipas com um futebol medíocre, que têm muito para melhorar.

NAVAL - SETÚBAL 0 - 0
Um nulo no marcador, num mau espectáculo, onde as equipas jogaram ora devagar, ora devagarinho, ora paradas. Na bancada, pouco mais de um milhar de espectadores. Em suma, um daqueles jogos que não deixam saudades, que contribuem para a fraca imagem da liga portuguesa além-fronteiras. No relvado, a Naval, a jogar em casa, deteve algum ascendente, mas foi ao Setúbal que coube as melhores oportunidades, através de contra golpes rápidos e objectivos. A melhor chance da partida, igualmente sadina, foi na sequência de um livre, em que Adalto fez embater a bola no poste, aparecendo Leandro a recargar por cima. Resultado justo, com ambas as equipas a merecerem terminar o jogo sem golos. Que dizer mais?

MARÍTIMO - ACADÉMICA 2 - 0
1 - 0 Makukula 3'
2 - 0 Bruno 70'
Boa casa nos Barreiros para apoiar um surpreendente Marítimo, que se mostrou forte de mais para uma Académica que parece querer seguir pelo mesmo caminho tumultuoso da época passada. Nem mesmo o facto de terem jogado desde os 7 (!) minutos em superioridade numérica valeu aos 'estudantes'. Manuel Machado terá muito que corrigir daqui em diante, a começar por ele próprio. O jogo começou praticamente com o golo de Makukula, que se isolou após um passe longo e bateu Pedro Roma, perante a passividade da defesa academista. Com o excesso dos festejos e uma entrada dura pouco depois, o goleador-mor maritimista acabou por receber ordem de expulsão, deixando a equipa de Lazaroni a jogar com dez homens. Contra aquilo que seria de esperar, a Académica não aproveitou esse facto, continuando a pertencer aos locais o melhor futebol e as melhores oportunidades de golo, toada mantida ao longo dos 90 minutos. De livre directo, Bruno ainda teve tempo para mostrar o seu talento neste tipo de lances e fixar o resultado num 2 - 0 merecido e incontestável, coroando uma exibição pessoal de alto gabarito. Fábio Felício também esteve em evidência, exibindo um pé esquerdo de largos recursos e sendo um dos principais motores de arranque do Marítimo.

SPORTING - BELENENSES 1 - 0
1 - 0 Liedson 80'

Grande jogo de futebol, com duas equipas à procura do triunfo, embora com natural proeminência do Sporting, vindo de uma derrota no Dragão e com necessidade imperativa de conquistar os três pontos. Os 'leões' tiveram mais oportunidades na primeira parte, mas o remate ao poste de Rubém Amorim - grande exibição do jovem português - foi mesmo o momento mais perigoso a que se assitiu. A segunda metade praticamente começou com o caso do jogo: Liedson surge isolado na cara de Costinha e este derruba-o, o árbitro assinala penalty e expulsa o guardião azul. Decisão inteiramente correcta, na minha opinião, tanto técnica como disciplinarmente; o árbitro fez o que se impunha numa jogada clara de golo travada em falta. Todavia, chamado a marcar o castigo máximo, João Moutinho, sem convicção, permitiu a defesa do recém-entrado Marco. Com um homem a mais, Paulo Bento arriscou e passou a jogar com apenas três defesas, mas o Sporting intranquilizou-se e os problemas para chegar à baliza belenense aumentaram. Só uma bela iniciativa de Vukcevic pela esquerda, que cruzou para Liedson facturar de cabeça, permitiu aos sportinguistas respirarem de alívio. Um jogo muito sofrido, que o '31' do costume resolveu e em que Vukcevic começou a justificar o investimento feito na sua contratação.

U.LEIRIA - FC PORTO 0 - 3
0 - 1 Tarik 37'
0 - 2 Lisandro 49'
0 - 3 João Paulo 65'
Deste jogo sobram várias bases de análise. O jogo não foi famoso, longe disso; o FC Porto limitou-se a jogar o quanto baste para conseguir golear um U.Leiria débil e sem capacidade para acompanhar as mudanças de ritmo esporádicas impostas pelos bi-campeões nacionais. Logo aos 3 minutos, Bruno Alves abriu o activo, mas o árbitro-assistente, de forma errada, assinalou um fora-de-jogo inexistente. Com efeito, coube a Tarik inaugurar o marcador, fruto de um belo trabalho na área leiriense. Já na segunda parte, Lisandro aumentou o 'score' num lance que deveria ter sido invalidado, já que o cruzamento de Bruno Alves para a cabeça do argentino partiu já fora da linha de fundo. Sem forçar mas a dominar por completo, o FC Porto chegou ao terceiro, por intermédio de João Paulo, que respondeu de cabeça a mais um cruzamento açucarado de Quaresma (já o havia feito no primeiro golo). Tudo normal em Leiria: assistência ridícula para o jogo em questão, triunfo do FC Porto sem precisar de se empregar a fundo e posteriores lamúrias dos habituais Velhos do Restelo porque os portistas foram beneficiados, como sempre, dizem eles! Nem sequer me vou dar ao trabalho de rebater estas considerações sobre a arbitragem, as pessoas inteligentes sabem que não houve qualquer influência no resultado, aliás só a supremacia azul e branca sobre os leirienses impediu que o FC Porto pudesse ter sido prejudicado nesta contenda.

NACIONAL - BENFICA 0 - 3
0 - 1 Cardozo 18'
0 - 2 Rui Costa 69'
0 - 3 Cardozo 77' gp
Excelente e volumosa vitória benfiquista num terreno tradicionalmente complicado, perante uma equipa que continua a desiludir na presente temporada. O Benfica foi dono e senhor da partida e o dedo de Camacho começa a fazer-se sentir paulatinamente, sobretudo nos aspectos anímicos e de atitude. O primeiro golo apontado por Cardozo nasceu de um erro clamoroso de Diego Benaglio. Já na etapa complementar, Rui Costa elevou a contagem, na sequência de uma espectacular iniciativa individual, culminada com um remate seco e rasteiro na direcção das redes. Mais tarde, Diego Benaglio derrubou o estreante Maxi Pereira na área e Cardozo aproveitou para bisar e fixar o resultado em 3 - 0. No Benfica, Cardozo começou finalmente a justificar o elevado investimento feito nos seus serviços e fez dois golos. Em destaque estiveram também Petit, Rui Costa e Di Maria (este vai dar que falar). Do lado nacionalista, foi a desilusão total, a começar pelo seu guardião, que com dois erros comprometedores, acabou por facilitar a vida aos encarnados. Apenas o brasileiro Fellype Gabriel se salvou do naufrágio colectivo, com alguns bons apontamentos de ordem técnica e organizativa. Sem deslumbrar, o Benfica venceu tranquilamente e promete melhorias para o futuro.


Equipa da jornada:

Marco (Belenenses): é um guarda-redes interessante e tive pena do azar que sofreu no jogo com o Real Madrid, dando um 'frango' monumental no último minuto e penalizando a sua equipa com a derrota. Chamado ao relvado para substituir o expulso Costinha, mostrou que não se deixou afectar, defendendo o penalty de João Moutinho e a recarga seguinte de Liedson. Em grande.

Abel (Sporting): atravessa um momento favorável de forma e isso notou-se na partida com o Belenenses. Susteve o jogo adversário pelo seu flanco e aventurou-se inúmeras vezes no ataque com clarividência. Tentou o golo, sem sucesso.

Polga (Sporting): mais um jogo de altíssimo nível, especialmente no período em que Paulo Bento apostou numa defesa a três. Sou um admirador confesso da classe deste central brasileiro, o mesmo parece não suceder com o seleccionador brasileiro Dunga, que recentemente convocou para o 'escrete' o sportinguista... Gladstone!

Ediglê (Marítimo): segunda nomeação para a equipa da jornada deste central brasileiro. Imperial e sereno na defesa, teve ainda engenho para isolar Makukula no primeiro golo maritimista, com um passe de longa distância. Estrangeiros desta qualidade são sempre bem-vindos ao futebol português.

Fábio Felício (Marítimo): à falta de um lateral-esquerdo de raíz em particular evidência, optei por adaptar este médio/extremo canhoto ao sector mais recuado. A quantidade de jogo que sai daquele pé esquerdo e a precisão dos seus cruzamentos são impressionantes.

Rúben Amorin (Belenenses): grande exibição do jovem português em Alvalade. Assume-se cada vez mais como o patrão do meio-campo belenense com o seu futebol adulto, personalizado e objectivo. Além de pautar o ritmo da sua equipa, teve tempo ainda para protagonizar o lance de maior perigo para Stojkovic, rematando de fora da área ao poste. Petit e Raúl Meireles também estiveram em excelente plano.

Fajardo (Guimarães): ou muito me engano, ou Fajardo não vai permanecer muito tempo na Cidade-Berço. Mais uma espectacular actuação do médio, coroada com dois golos frente ao Leixões, o segundo dos quais soberbo. É um típico '8', aquele médio que dá intensidade ao jogo, defendendo e atacando com igual eficácia. Um pequeno Maniche.

Rui Costa (Benfica): a sua genialidade continua intacta e o golo que marcou ao Nacional é a prova disso mesmo. Jogando mais recuado que o normal, procurou auxiliar Petit na luta do meio-campo e foi o estratega de todo o futebol ofensivo com a habitual excelência do seu pé direito, não sendo visíveis limitações físicas relevantes. É de saudar este ressurgimento do verdadeiro '10' lusitano, depois das lesões que insistentemente o apoquentaram em 2006-07.

Liedson (Sporting): desempenho ao seu estilo. Sempre muito incómodo para a defensiva contrária, correu quilómetros e exibiu a habitual qualidade na posse da bola. Sofreu a falta que originou a grande penalidade e marcou o golo que decidiu a contenda, num magnífico cabeceamento como vem nos livros, somando dois no campeonato em curso.

Cardozo (Benfica): o 'Tacuara' começou enfim a fazer aquilo para que foi contratado a peso de ouro. Não é jogador para progredir com a bola no pé, antes decidir em um/dois toques. Foi o que sucedeu na Choupana: marcou dois golos de pé esquerdo e falhou outro praticamente feito. Veremos se mantém a performance futuramente.

Di Maria (Benfica): o internacional sub-20 argentino parece mesmo ser jogador. Efectuou uma exibição de encher o olho na Madeira, estando muito activo no flanco esquerdo, onde patenteou velocidade, criatividade, visão de jogo e capacidade de drible. Pode vir a ser uma das grandes revelações da prova.


O facto:

A liderança do Marítimo ao fim de três jornadas, fruto de três vitórias e nove pontos conquistados merece ser amplamente aplaudida. Nem nos melhores sonhos os adeptos verde-rubros esperavam um desempenho tão auspicioso neste começo de temporada. O principal obreiro é forçosamente o treinador brasileiro Sebastião Lazaroni, que incutindo um modelo de jogo virado para o ataque, além das vitórias, tem levado o Marítimo a produzir do melhor futebol que se tem visto neste campeonato. Costuma dizer-se que quando chega um técnico novo, leva algum tempo até conhecer os jogadores e acentar ideias quanto a modelos, sistemas e opções. A verdade é que Lazaroni tem já ideias muito concretas sobre aquilo que pretende para a sua equipa. O 4-3-3 é o sistema incontestado e as opções revelam já uma definição assinalável de convicções, de tal forma que o onze inicial foi o mesmo nas três jornadas até agora disputadas, e mesmo os que saltaram do banco foram no mesmo sentido. Marcos tem sido o guarda-redes escolhido. Ricardo Esteves, Van der Linden, Ediglê e Evaldo formaram o quarteto defensivo. Na linha média, as opções recaíram em Bruno, Olberdam e Marcinho. Na frente de ataque, o trio constituído por Kanu, Makukula e Fábio Felício. As alternativas vindas do banco, resumiram-se a Márcio Mossoró, Luís Olim e Wénio. Com a liderança do velho Lazaroni, que, recorde-se, já foi seleccionador do Brasil, o comportamento dos jogadores tem sido notável. As minhas escolhas para a equipa da jornada mostram isso mesmo: o Marítimo é o líder nessa contabilização com sete presenças - Ediglê (2), Ricardo Esteves, Makukula, Olberdam, Kanu e Fábio Felício. Acresce o facto de Makukula ser, juntamente com o vimaranense Fajardo, o líder dos melhores goleadores da liga com 3 golos. Esta formação está pois de parabéns e, perante tão boa campanha, é impossível não nos lembrarmos do fantástico Marítimo de Paulo Autuori que encantou todos os portugueses em meados da década de 90. Que continue assim.


Assistências:

Leixões - Guimarães: 4.476
Braga - E.Amadora: 9.781
P.Ferreira - Boavista: 1.679
Naval - Setúbal: 1.077
Marítimo - Académica: 5.001
Sporting - Belenenses: 32.266
U.Leiria - FC Porto: 4.450
Nacional - Benfica: 4.711
Total: 63.441
Média: 7.930