1ª Liga - 5ª JornadaO FC Porto foi o grande vencedor desta 5ª jornada da 1ª Liga. Foi ao sempre complicado terreno do aguerrido P.Ferreira arrancar uma inequívoca vitória por 0 - 2, demonstrando uma atitude séria, profissional, batalhadora e ganhadora. Beneficiou depois dos empates dos seus maiores rivais: o Benfica empatou a zero em Braga, o Sporting não foi além de uma igualdade caseira a duas bolas frente ao Setúbal. Com isto, o FC Porto cavou um fosso maior para os emblemas da Capital, detendo agora cinco e seis pontos de vantagem sobre, respectivamente, 'leões' e 'águias'. Preocupante? Eu diria que sim. O Marítimo prossegue o seu percurso surpreendente e somou o quarto triunfo, batendo (2 - 0) o excelente Belenenses, vindo da boa jornada europeia em Munique. Os homens de Lazaroni seguem na segunda posição a três pontos dos portistas. Na abertura da ronda, o Guimarães mostrou a sua força e goleou (1 - 4), na Figueira da Foz, a frágil equipa da Naval, acabadinha de despedir Francisco Chaló. O Leixões desiludiu ao empatar em casa com o Nacional a um golo, mantendo uma posição no meio da tabela. Nos dois restantes jogos (U.Leiria - E.Amadora e Boavista - Académica), outros tantos nulos e um futebol paupérrimo, nada de anormal quando se fala das equipas que jogaram em casa.
Jogos:
NAVAL - GUIMARÃES 1 - 41 - 0 Paulão 13'1 - 1 Flávio Meireles 31'1 - 2 Fajardo 32'1 - 3 Mrdakovic 49'1 - 4 Ghilas 76'Segunda vitória dos vimaranenses, que começam agora a mostrar a sua força e a dissipar, paulatinamente, algumas dúvidas que ainda existiam desde o início da época. Manuel Cajuda começa a incutir as suas ideias nos jogadores vitorianos e isso é garantia quase certa de um lugar cimeiro na classificação, talvez entre os seis primeiros. A Naval até começou bem, inaugurando o marcador por Paulão, que respondeu de cabeça a um pontapé de canto. Só que a personalidade e maior qualidade vimaranense veio à tona e, não acusando o golo sofrido, partiu para cima do adversário, de tal forma que ao intervalo já tinha dado a volta ao marcador. Flávio Meireles e Fajardo (continua em grande este ex-navalista) materializaram esse assalto à baliza de Wilson Júnior, com dois bons golos. Na segunda metade, mais do mesmo, a Naval sem soluções e o Guimarães a controlar o jogo com serenidade e confiança. O golo madrugador de Mrdakovic ajudou a matar definitivamente alguma esperança que pudesse restar aos figueirenses. O artista Ghilas ainda teve tempo de fazer também ele o gosto ao pé e fixar o 'placard' num robusto e indiscutível 1 - 4. Talvez esta derrota pesada ajude o presidente da Naval a repensar a sua forma de estar no futebol, pois despedir um técnico à 4ª jornada, logo após o ter contratado, não é mais do que fugir às suas responsabilidades e admitir a sua própria incompetência.
LEIXÕES - NACIONAL 1 - 10 - 1 Lipatin 15'1 - 1 Nuno Diogo 79'Quinto empate consecutivo dos leixonenses, no jogo de estreia da sua verdadeira casa, o Estádio do Mar. Além do resultado algo desolador para uma equipa que jogava em casa perante outra pior classificada, o que realmente foi frustrante foi o fraco desempenho evidenciado pelos pupilos de Carlos Brito. Futebol trapalhão, feio e desligado, aliado à precipitação defensiva só poderia dar em golo sofrido. Lipatin, o tal que não serviu para o Marítimo, foi o concretizador de serviço. Para o segundo tempo, o técnico leixonense arriscou, como aliás lhe competia. Lançou Nwoko e catapultou a sua equipa na procura do empate. Abriu, é verdade, maiores espaços lá atrás e só a atenção de Beto evitou, em duas ocasiões, novo tento de Lipatin. A persistência do Leixões, potenciada pelo fervor da sua massa adepta nas bancadas, acabou por dar os seus frutos e Nuno Diogo lá conseguiu enviar a bola para o fundo das redes à guarda de Diego Benaglio. Já ao cair do pano, a reviravolta poderia ter surgido, mas Jorge Gonçalves atirou ao poste. Resultado justo.
BRAGA - BENFICA 0 - 0A excelente moldura humana presente no Municipal de Braga merecia mais que este pobre espectáculo. Jogo sempre muito disputado a meio-campo, sem arte nem inspiração, valendo apenas pelo empenho dos jogadores e, apesar de tudo, pela incerteza no resultado até ao final. As jogadas de perigo foram uma raridade, tendo a maior pertencido ao bracarense Linz, que com uma bela cabeçada, proporcionou a defesa da noite a Quim. Um remate de Cristian Rodríguez para defesa instintiva de Dani Mallo foi o melhor que se viu à turma de Camacho. Para quem gosta de futebol e tem prazer em vislumbrar razões para que se possa exaltar o futebol português, é sempre frustrante quando um jogo entre duas das melhores equipas lusas resulta num triste espectáculo sem golos. No Benfica, apenas Quim e o jovem camaronês Binya se evidenciaram. No Braga, todos estiveram a um nível médio-baixo, inclusivé o técnico Jorge Costa, que não soube como ganhar um jogo que, pelo que se viu, estava claramente ao alcance. Por falar em técnico, alguém me explica aquelas substituições do Camacho?
MARÍTIMO - BELENENSES 2 - 01 - 0 Kanu 26'2 - 0 Makukula 90'O Marítimo soma e segue nesta 1ª Liga. Desta vez a vítima foi o Belenenses de Jorge Jesus que, apesar da réplica dada ao Bayern Munique a meio da semana, não resistiu ao maior poderio actual dos maritimistas. Foi a quarta vitória em cinco jogos para os comandados de Lazaroni que, recorde-se, só foram batidos pelo bicampeão FC Porto. O Marítimo exibiu sempre maior personalidade e serenidade, embora os de Belém procurassem sempre responder, sem se remeterem demasiado à sua defensiva. Depois de algumas ameaças de parte a parte, Kanu, isolado por Bruno, resolveu acertar no alvo e adiantar a sua equipa no decorrer da primeira metade. Após o descanso, o Belenenses surgiu mais subido e dominador, mas a profundidade nunca foi suficiente para causar grandes embaraços a Marcos. O Marítimo aguentou bem a ténue pressão e viria ainda a aumentar o 'score', através da eficácia do seu goleador-mor Makukula. Triunfo justo dos madeirenses, embora a diferença tangencial talvez fosse mais ajustada ao que se passou no relvado. Palmas para este Marítimo, tem sido uma lufada de ar fresco neste futebol nacional pouco concretizador e muito jogado aos repelões.
P.FERREIRA - FC PORTO 0 - 20 - 1 Lisandro 11'0 - 2 Lisandro 67'Na minha opinião, esta foi uma excelente vitória do FC Porto, se tivermos em conta as dificuldades que o Paços impõe a qualquer adversário sempre que actua no seu terreno. O que mais me agradou foi a atitude de querer ganhar revelada por todos os jogadores azuis e brancos, a forma como correram e lutaram desde o início pelos três pontos. Lisandro, sempre ele, personificou na perfeição o espírito de sacrifício colectivo e foi o autor dos golos que selaram a quinta vitória consecutiva do FC Porto nesta liga. O jogo foi extremamente vivo e intenso, com transições rápidas de ambos os lados e a bola a circundar as duas balizas. Na verdade, o Paços foi sempre um rival muito incómodo e procurou jogar no campo todo, mas o certo é que o controlo da partida esteve sempre do lado dos 'dragões' e o resultado acaba por espelhar a diferença de qualidade entre ambos os conjuntos. Nota positiva para os passes para golo de Bruno Alves e Leandro Lima, para a frieza categórica de Lisandro na hora de bater Peçanha e para Jesualdo que, desde o banco, soube ler o jogo, mexer bem nas pedras e no tempo certo. Uma palavra de apreço para a actuação de Edgar como avançado titular. Movimentou-se sempre muito e bem, revelou capacidade para ganhar infinitos lances pelo ar e só uma grande intervenção de Peçanha o impediu de fazer o gosto... à cabeça. O FC Porto segue como líder incontestado e, pelo que se tem visto da globalidade do campeonato, promete manter o estatuto por bastante tempo.
U.LEIRIA - E.AMADORA 0 - 0A turma de Paulo Duarte já mostrou que o seu forte não é jogar um futebol virado para a frente e procurar fazer golos e este jogo foi apenas mais um exemplo disso mesmo. As ridículas assistências que se dão ao trabalho de ir ver os leirienses mereciam bem mais que dois golos marcados em cinco jogos. É verdade que a U.Leiria mandou no jogo do princípio ao fim, acercou-se inúmeras vezes da baliza amadorense, mas as oportunidades resumem-se a dois lances, um de João Paulo e outro de N'Gal (nem isolado foi capaz de dar uma alegria àqueles adeptos...). O Estrela, muito organizado e pouco audacioso, pouco mais fez que esperar pelo apito final e levar um pontinho para casa. Não está em causa a valia de Daúto Faquirá, mas a mentalidade patenteada neste encontro não faz falta ao nosso futebol. Não prevejo grandes feitos para qualquer destas duas equipas nesta temporada.
SPORTING - SETÚBAL 2 - 20 - 1 Elias 41'1 - 1 João Moutinho 64' gp1 - 2 Matheus 78'2 - 2 Purovic 86'É sempre de saudar um jogo com muitos golos, caso raro nesta jornada e nesta liga em geral, portanto jogos destes são sempre bem-vindos, apesar do relvado lastimável que deve fazer corar de vergonha qualquer responsável sportinguista. Como Paulo Bento admitiu no final, o Sporting entrou a dormir e quase nada fez de relevante durante os primeiros 45 minutos. Ao invés, os setubalenses Matheus, Pitbull e Elias causaram bastantes problemas à defesa leonina, com saídas rápidas para o ataque. Numa delas, Elias abriu a contagem e levou a sua equipa para o intervalo com uma justíssima vantagem. Para a segunda parte, Bento emendou a mão e retirou Farnerud e Gladstone, claramente a mais no onze. As entradas de Izmailov e Romagnoli melhoraram naturalmente o jogo do Sporting que passou a criar uma série de ocasiões para empatar a partida. Golo que chegou de grande penalidade, existente, a castigar uma falta sobre Abel em cima do risco delimitador da área. O Sporting continuou a carregar mas foi o Setúbal que marcou, num remate de Matheus, com muitas culpas para Stojkovic, que continua a acumular erros atrás de erros e a desiludir quem confiou em si. Purovic, finalmente, lá conseguiu acertar com a baliza e dar o empate ao Sporting, mas no final o público não se poupou nos assobios. Até porque, não fosse o árbitro ter-se esquecido de assinalar um penalty claro a favor dos sadinos ainda no primeiro tempo, e este empate seria uma derrota. O que não vale tantas queixinhas...
BOAVISTA - ACADÉMICA 0 - 0Péssimo jogo de futebol e assim não admira que a maior parte dos estádios portugueses estejam às moscas. Mas alguém no seu perfeito juízo dará o pouco dinheiro que seja (e sabemos que não é) para ver 22 malucos atrás de uma bola?! O Boavista tem um golo marcado em cinco jogos e percebe-se bem porquê: jogadores medíocres e um treinador pouco ambicioso, bem longe daquele que se sagrou campeão nacional em 2000-01. Não iria ver este jogo ao vivo nem de borla e, mesmo pela TV, é grande a vontade de mudar de canal. Ainda assim, os axadrezados podem queixar-se da falta de sorte e da incompetência de Lucílio Baptista. Duas bolas enviadas à trave, por Diakité e Jorge Ribeiro (o melhor em campo), são motivo, de facto, para lamentar a pouca fortuna. Por outro lado, em cima do minuto 90, o árbitro não assinalou uma grande penalidade absolutamente escandalosa, por mão descarada de Cris no interior da área. Erros destes são muito difíceis de digerir e o Boavista pode alegar com razão ter sido prejudicado, mas isso não pode fazer esquecer a confrangedora ausência de futebol na turma do Bessa. Ó Jaime Pacheco, assim não vais lá...
Equipa da Jornada:
Quim (Benfica): o guardião português atravessa um bom momento e em Braga isso notou-se. Revelou segurança ora nas saídas, ora entre os postes, onde realizou três intervenções salvadoras. A melhor delas, respondendo a um cabeceamento com selo de golo de Linz, foi mesmo a defesa da noite. Não considero Quim um grande guarda-redes, mas, nesta altura, merece mais a titularidade na Selecção Nacional que Ricardo, que se tem fartado de sofrer golos no Bétis.
Abel (Sporting): não obstante os problemas defensivos sentidos pela inspiração de Matheus, foi absolutamente decisivo nos dois golos leoninos, tendo sofrido a falta que originou o penalty e efectuado o cruzamento para o tento do empate. Uma exibição à sua imagem.
Bruno Alves (FC Porto): exibiu a segurança habitual a comandar a defesa portista e foi um obstáculo intransponível para os irrequietos atacantes pacenses. Teve ainda tempo para subir ao ataque e lançar Lisandro para o golo inaugural. Assume-se cada vez mais como um jogador de óptimo nível.
Nuno Diogo (Leixões): marcou o golo que salvou o Leixões de uma derrota caseira diante do Nacional. Subiu à area adversária e fez uso do seu bom jogo aéreo para facturar. Na defesa, exibiu-se em plano regular. O golo que marcou foi mesmo o factor de desequilíbrio face aos restantes centrais, numa jornada em que nenhum brilhou de forma particularmente intensa.
Jorge Ribeiro (Boavista): o irmão de Maniche agrada-me como jogador e, dada a escassez de laterais-esquerdos portugueses de raíz, poderia ter atingido um patamar mais elevado na sua carreira. Foi o melhor em campo no pobre Boavista-Académica. Subiu sempre a propósito pela sua faixa e ainda enviou uma bola ao ferro.
Flávio Meireles (Guimarães): magnífica exibição deste vitoriano dos sete costados. Esteve literalmente em todo o lado, varrendo por completo a zona central do terreno, recuperando infindáveis bolas e lançando a sua equipa para a frente. A coroar o seu desempenho, marcou um belo golo de cabeça, respondendo fulgurantemente a um livre lateral. Um líder.
João Moutinho (Sporting): a mesma qualidade e entrega, mesmo jogando em duas posições distintas: médio-defensivo e médio-ofensivo. É daqueles que só surpreende quando joga mal e o Sporting deve-lhe boa parte da melhoria colectiva no segundo tempo. Facturou de penalty o seu segundo golo nesta liga.
Romagnoli (Sporting): no banco pela primeira vez esta temporada, o 'playmaker' argentino entrou ao intervalo e mudou completamente o rumo do jogo contra o Setúbal. Correu muito, jogou e fez jogar, deu fluidez à manobra atacante do Sporting, teve boas iniciativas individuais e só não marcou porque Eduardo mostrou atenção.
Desmarets (Guimarães): embora seja esquerdino, concedo-lhe o lado direito do ataque nesta 5ª jornada. Esteve endiabrado diante da Naval, participando activamente em três dos quatro golos vimaranenses. Enfrenta uma concorrência forte e não é titular indiscutível, mas neste desafio esteve excelente e constitui-se como opção muitíssimo válida para Manuel Cajuda.
Lisandro (FC Porto): foi a grande figura da jornada, ao apontar os dois golos da vitória do FC Porto na Mata Real, plenos de oportunidade e capacidade goleadora. A juntar ao bis, a habitual disponibilidade para se movimentar por todo o lado, com ou sem bola, atacando ou defendendo. Merece a admiração dos adeptos.
Matheus (Setúbal): mais uma excelente exibição do extremo-esquerdo brasileiro, que juntando a outras realizadas anteriormente, fazem dele a maior estrela sadina até ao presente momento. Em Alvalade, foi uma seta apontada à baliza de Stojkovic e o golo que assinou foi apenas uma pequena parte do trabalho global. Uma bela surpresa para mim.
O facto:
O aumento da vantagem do FC Porto sobre os seus mais directos adversários na luta pelo título, Sporting e Benfica, são a nota de maior destaque desta 5ª jornada. A procissão ainda vai no adro, mas cinco e seis pontos de diferença, alcançados em apenas cinco rondas, devem ser motivo de preocupação lá para os lados da Segunda Circular. Neste defeso, muitas dúvidas se colocaram quanto à prestação portista, alicerçando-se a argumentação nas pretensas limitações técnicas e motivacionais de Jesualdo Ferreira, nas perdas de Anderson e Pepe, bem como na fraca fiabilidade dos reforços contratados. Por outro lado, a confiança nos clubes lisboetas parecia crescente. Camacho foi visto como o D.Sebastião encarnado, solução para todos os males e garantia de vitórias a curto prazo. Paulo Bento segue no seu prolongadíssimo estado de graça e quase ninguém ousa duvidar da sua valia enquanto treinador. A verdade é que os resultados dão, tal como no começo da época passada, vantagem segura a Jesualdo Ferreira, de nada valendo a ideia quase unânime de que será o pior timoneiro dos três. O momento da quebra azul e branca chegará, empates e derrotas irão por certo acontecer, mas será difícil que o eventual declínio seja tão acentuado como em 2006-07. E Sporting e Benfica também não irão ganhar sempre. Estamos no início, nada está decidido, mas é bom ir lá na frente e ver os adversários ao longe. Para já, o Marítimo é mesmo a principal ameaça.
Assistências:
Naval - Guimarães: 992
Leixões - Nacional: 4.100
Braga - Benfica: 21.804
Marítimo - Belenenses: 5.777
P.Ferreira - FC Porto: 2.689
U.Leiria - E.Amadora: 835
Sporting - Setúbal: 30.106
Boavista - Académica: 4.152
Total: 70.455
Média: 8.806