Terminada a 1ª Liga 2006-07, entregue o título ao FC Porto e feita a festa azul e branca, é tempo de olhar para trás e, em jeito de balanço, escolher aqueles que mais se destacaram ao longo da competição. Algo que gosto particularmente de fazer é esboçar o onze ideal do campeonato, aquele que seguramente levaria um qualquer clube a ser campeão com 20 pontos de avanço. No mínimo! Note-se que as escolhas são feitas tendo em conta o desempenho ao longo de todas as 30 jornadas, ou seja, um jogador que esteve bem em 20 e menos bem em 10, merece obviamente ser mencionado, ao contrário de outro que tenha estado em evidência apenas nas últimas cinco jornadas, por exemplo.
Partindo do modelo 4-3-3, escolhido em função de me parecer o mais ajustável aos jogadores que merecem ser, em minha opinião, referenciados, o onze perfeito deste campeonato seria o seguinte: Peçanha; Bosingwa, Pepe, Anderson Polga, Léo; Miguel Veloso, Katsouranis, João Moutinho; Quaresma, Liedson, Simão. Tr: Jesualdo Ferreira
Peçanha (P.Ferreira): Guarda-redes que apesar da baixa estatura para a posição, revelou magníficas qualidades, confirmando tudo o que de bom havia feito na época anterior. Foi um garante de pontos preciosos para o P.Ferreira, valendo-se da sua espectacular elasticidade e assinaláveis reflexos. Uma surpresa para mim, confesso. Segunda opção: Diego Benaglio (Nacional).
Bosingwa (FC Porto): Escolha lógica e praticamente unânime para lateral direito. Realizou um campeonato sempre em alto nível, conferindo à faixa direita portista equilíbrio defensivo e profundidade ofensiva. Foi em alguns jogos, o principal impulsionador do ataque dos campeões nacionais. A chamada recente à selecção foi inteiramente merecida. Segunda opção: Mário Sérgio (Naval).
Pepe (FC Porto): Não só o melhor central desta liga, como também um dos melhores jogadores. Imperial na defesa azul e branca, fez da capacidade física, poder de antecipação e impulsão e qualidade a sair com a bola desde trás as suas virtudes mais visíveis. Além disso, foi um perigo sempre que subiu à área adversária e a prova são os quatro golos que apontou. É hoje por hoje um dos melhores centrais da Europa. Segunda opção: Luisão (Benfica).
Anderson Polga (Sporting): Mais uma bela época do central canarinho, que com a sua classe habitual comandou com mestria a defesa leonina. É um central de categoria insuspeita, estivesse eu no lugar de Dunga e Luisão via os jogos do 'escrete' pela televisão. Segunda opção: Bruno Alves (FC Porto).
Léo (Benfica): Foi dos melhores elementos benfiquistas durante toda a época. Muito certo tanto a defender como a atacar, demonstrou uma tremenda regularidade exibicional, garantindo uma utilização quase ininterrupta no posto de lateral esquerdo. Segunda opção: Antunes (P.Ferreira).
Miguel Veloso (Sporting): Talvez a grande revelação desta edição da liga portuguesa. Central de raíz, a sua adaptação a médio defensivo foi um êxito e parece estar para durar. O seu soberbo pé esquerdo garante-lhe uma capacidade de passe (curto ou longo) quase inigualável em Portugal. Depois, revela já uma maturidade táctica impressionante, que faz com que se apresente como excelente escoador do ataque contrário e primeiro lançador da própria equipa. A comparação frequente com Fernando Redondo diz tudo acerca do seu valor. A Selecção Nacional espera por ele. Segunda opção: Petit (Benfica).
Katsouranis (Benfica): Terminou a época abaixo do que pode produzir, mas nos dois primeiros terços foi sucessivamente o melhor centrocampista do Benfica. Competente a nível defensivo, impressionou a capacidade com que se integra no ataque, ora a servir os companheiros, ora ele próprio a concluir as jogadas (facturou por seis vezes). Um médio de transição de categoria internacional, ou não fosse o grego titular indiscutível da selecção campeã europeia. Segunda opção: Kazmierczak (Boavista).
João Moutinho (Sporting): Autêntico símbolo da turma sportinguista apesar da tenra idade. Impressiona-me a sua maturidade e capacidade de liderança. Um médio moderno que defende, ataca, marca golos, assiste os colegas, corre os 90 minutos e puxa pelo colectivo. Tem tudo o que um jogador precisa para triunfar no futebol. É já um dos melhores médios europeus. Na minha opinião, foi o 3º melhor jogador deste campeonato. Segunda opção: Zé Pedro (Belenenses).
Quaresma (FC Porto): Que dizer do 'Harry Potter'? MVP da liga, rei das assistências, autor de seis golos (entre eles, o melhor deste campeonato, no Dragão, diante do Benfica), protagonista do maior número de lances de génio por segundo, trivelas para todos os gostos, olhos trocados, rins partidos, amarelos tirados, meio mundo atrás de si, enfim... O facto de ter terminado a época em baixo de forma, não pode nem deve apagar as fantásticas exibições que anteriormente protagonizara, as quais valeram pontos e mais pontos aos 'dragões'. Ricardo Quaresma no seu melhor. Segunda opção: Miccoli (Benfica).
Liedson (Sporting): Apesar de um início de temporada algo cinzento, o 'levezinho' continuou a deixar a pele em campo em todos os jogos, facto que, apesar da ausência de golos, lhe valeu elogios de Paulo Bento. Conseguiu encontrar-se ainda a tempo de se sagrar melhor marcador da prova com 15 golos. Técnica, capacidade finalizadora, generosidade, resistência, são algumas das características do abono de família verde e branco. Todos os atacantes que são convocados para a selecção brasileira são melhores que ele? Segunda opção: Dady (Belenenses).
Simão (Benfica): Foi o melhor jogador do Benfica, algo que não surpreende dado o rendimento elevado e constante que vem apresentando ano após ano. Marcou 11 golos e carregou os encarnados às costas durante grande parte da temporada. É um extremo competitivo e a sua ausência nos últimos jogos reflectiu-se numa quebra de performance colectiva. A seguir a Quaresma, o melhor da 1ª Liga 2006-07. Segunda opção: Nani (Sporting).
Jesualdo Ferreira (FC Porto): Foi o técnico número um deste campeonato, sagrou-se campeão nacional e, sendo a única voz do clube, resistiu estoicamente aos ataques de que foi alvo. Demonstrou ser um treinador inteligente, metódico e com forte carácter. Nem sempre concordei com as suas opções técnicas, mas é injusto reduzir a baixa de forma da equipa em 2007 a esse facto, ou a outros sistematicamente atirados para o ar como falta de liderança, de capacidade de motivação do grupo ou de personalidade aglutinadora de massas. José Mourinho houve um e não haverá mais nenhum, é urgente que os adeptos portistas percebam isto definitivamente. Ninguém tem de mudar a sua forma de ser e estar para se colar a um protótipo humano supostamente perfeito. Jesualdo Ferreira é, nesta altura, o homem certo para o FC Porto. No dia em que deixar de o ser, serei o primeiro a admití-lo, pois acima de tudo sou portista e torço pelo sucesso do clube. Segunda opção: Jorge Jesus (Belenenses).
Em 2007-08 voltará o espectáculo, certamente com novos motivos de interesse. Mudanças de jogadores, de treinadores, esperanças renovadas, expectativas recriadas, enfim, o costume...