quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A SAÍDA DE MOURINHO


A notícia caiu que nem uma bomba no mundo futebolístico: José Mourinho deixou de ser o treinador do Chelsea! Muita gente dirá que o cenário já era previsível, no entanto, a mim não deixou de causar alguma surpresa e até estupefacção. Tinha consciência das divergências notórias entre ele e o patrão Roman Abramovich, é certo que a combinação do futebol pouco atractivo com os recentes maus resultados poderiam fazer aumentar a especulação, mas não esperava de todo um desenlace tão radical, sobretudo numa fase tão prematura da temporada. A decisão, fala-se, surgiu por mútuo acordo, embora se saiba que a iniciativa partiu logicamente de Abramovich.

O que terá estado na base deste 'golpe de teatro'? Ninguém no seu perfeito juízo associará esta ruptura apenas ao empate caseiro com o Rosenborg, embora ele tenha sido pouco menos que escandaloso. Este péssimo resultado na estreia da Liga dos Campeões serviu apenas como óptimo pretexto para o multimilionário russo levar a cabo aquilo que já lhe estaria na cabeça há já algum tempo. O fraco início de época dos 'blues' foi a justificação perfeita para Abramovich pôr termo a uma relação que objectivamente já não funcionava. Os sinais de desencontro de ideias vinham sendo visíveis já desde a temporada transacta, cujas contratações de Shevchenko e Ballack foram o ponto de partida e a recusa de Abramovich, em Janeiro, da compra do central pedido por Mourinho, o seu auge.

Assim de fora, não é complicado traçar possíveis motivações para este choque de personalidades. Abramovich é o dono do clube, injecta milhões e mais milhões na equipa de futebol, e obviamente julga ter o direito de 'baralhar, partir e dar' em todo e qualquer assunto com ela (a equipa) relacionado. Mourinho é, como sabemos, um treinador de fortíssimo carácter, que gosta de impôr a sua forma de pensar e ter autonomia para tomar as decisões que achar necessárias. Não admite interferências no seu trabalho e só se sente à vontade se tiver total domínio sobre o plantel que orienta.

Isso não aconteceu no Chelsea. Depois de duas épocas fantásticas a nível interno, Abramovich achou-se no direito de começar a interferir no domínio técnico. No arranque para a terceira época da era-Mourinho, obcecado com a conquista da Liga dos Campeões e desejoso de um futebol mais espectacular, resolveu contratar as estrelas Shevchenko e Ballack, ao que tudo indica, sem que essa fosse a indicação do técnico português. Mourinho é apologista de recrutar jogadores ainda à procura da fama, sedentos de vitórias e que se encaixem perfeitamente numa lógica grupal, onde o colectivo se sobreponha aos interesses individuais. Especialmente o internacional ucraniano constituiu sempre uma pedra no sapato de Mourinho, que nunca fez dele titular indiscutível, bem pelo contrário (também se o rendimento de 'Sheva' não foi um zero andou lá perto). Esta situação terá gerado um certo descontentamento do 'big boss', que investiu uma astronómica quantia, sem que houvesse a devida rentabilização desse investimento (o facto de Abramovich e Shevchenko serem grandes amigos pessoais é apenas um promenor...). Numa temporada 2006-07 farta em lesões no plantel londrino, Mourinho reclamou, em Janeiro, o reforço do eixo defensivo, obtendo resposta negativa do russo. O ambiente tornou-se ainda mais tenso, eram perceptíveis algumas indirectas lançadas pelo treinador e percebia-se que a ruptura poderia acontecer a qualquer altura. O futebol, por vezes, de facto, pouco atractivo praticado pelos 'blues', aliado à perda da Premier League para o Manchester United e à eliminação da Champions aos pés do Liverpool, começaram a retirar a paciência a Abramovich, sendo que paciência era aquilo que Mourinho já não tinha para aturar os desvarios do patrão.

Por que razão Abramovich não prescindiu de Mourinho logo no defeso, se manifestamente era essa a sua vontade? Medo, muito medo! Mourinho ganhou seis títulos em três temporadas (2 Premier Leagues, 1 Taça de Inglaterra, 2 Taças da Liga e 1 Supertaça Inglesa), devolveu o título máximo inglês ao clube passado meio século, era idolatrado pelos adeptos, amado pelos seus jogadores e respeitado por todos os seus adversários. Foi, de longe, o treinador mais bem sucedido da história do Chelsea e uma decisão tão problemática não poderia nunca ser tomada num momento qualquer. Havia que esperar pela melhor oportunidade estratégica, leia-se maus resultados em série, no sentido de tentar amenizar a reacção crítica.

Todavia, as manifestações de descontentamento dos adeptos londrinos não se fizeram esperar, numa prova inequívoca de que não aprovaram esta decisão de Abramovich e, mais do que isso, que estão contra o rumo tomado pelo seu clube do coração. As suas perplexidades são as da opinião pública em geral. Sem o técnico luso ao leme, mesmo com a reabertura da 'torneira' financeira, continuará o Chelsea a coleccionar sucessos à velocidade destes três anos? Terá capacidade para finalmente derrotar os colossos europeus e conquistar a Champions? Conseguirá aliar o almejado futebol atractivo com os títulos que todos ambicionam? Parece-me que não! Antes de Mourinho chegar a Stamford Bridge, o emblema azul apenas havia conquistado um campeonato nacional ao longo de todo o seu historial. Talvez volte agora a ser o clube sem expressão que sempre foi. O dinheiro vale muito, mas sem alguém que discipline o gasto e perceba o que está a fazer, pode tornar-se um grande problema, até porque comandar um clube de futebol não é bem a mesma coisa que gerir uma empresa. Roman Abramovich?? Frank Arnesen?? Avram Grant??

José Mourinho, esse, continuará a sua carreira de sucesso noutras paragens, talvez agora num clube à medida da sua categoria. Tirando os clubes ingleses que, ao abrigo de uma cláusula acordada com o Chelsea, não poderão ser um destino imediato, vejo apenas cinco clubes nessa elite: Barcelona, Real Madrid, Milan, Juventus e Inter. Mourinho desempregado é um verdadeiro fantasma para qualquer treinador a trabalhar nestes clubes de topo. À primeira porta que se abrir, será o primeiro escolhido, seja qual fôr o clube. Adorava vê-lo treinar um dos gigantes espanhóis, mas parece-me que Itália nunca esteve tão perto para o 'Special One'... É ele, o melhor treinador de futebol do planeta!

13 comentários:

quintarantino disse...

Este desfecho era previsível. Penso que só Mourinho não viu ou não quis ver. Terá sido o último dos seus erros em matéria de gestão da carreira no Chelsea.
Um ENORME treinador como ele deveria ter saído no fim do segundo ano. Aliás, eu tenho uma teoria: equipa que Mourinho treine leva com uma metodologia que faz com que os atletas aguentem duas épocas. Depois, estouram. Foi assim no Porto e no Chelsea.
Depois, um treinador como ele não deveria ter querido Ballack (um jogador que tem tanto de talentoso como de dado a lesões) ou um Schevchenko em fim de carreira. Parte dos seus grandes problemas no seio do clube nasceram ali.
Finalmente, quando já a meio da época passada veio a história de mudar de treinador, Mourinho devia ter percebido que o que estava para vir só podia resultar contra si.
E ultimamente a verdade é que o Chelsea, de facto, não entusiasmava...

PB disse...

Tinha dúvidas sobre por quem torcer domingo. Agora só espero que o Manchester United dê chapa 5 a esses ingratos...
Sobre o que disse o Quint concordo que era previsível. Quando se viu o Chelsea, com o seu poderio financeiro, em Janeiro a fazer n jogos com Essien e Paulo Ferreira como centrais...

Bruno Pinto disse...

Quintino, o José Mourinho não quis o Shevchenko nem, ao que consta, o Ballack. O Abramovich é que lhos impôs, pois, segundo ele, para jogar um futebol mais atractivo, precisava de estrelas. O Mourinho teve que acatar e sabemos que ele não gosta de interferências no seu trabalho. Este episódio foi um entre muitos que evidenciaram relações tensas entre ambos, e que já na época passada foram notórias.

Sou da mesma opinião, acho que Mourinho deveria ter saído no final da temporada passada, pois não foi respeitado convenientemente e sofreu um desgate imenso com constantes rumores sobre a sua possível saída e hipotéticos substitutos. Mas não concordo com a tua teoria, penso que o Mourinho pode estar à frente de um clube mais de duas épocas com rendimento sempre no máximo. É verdade que o Chelsea estava em declínio, mas não acho que seja devido a esse factor, e seria algo temporário. No FC Porto, ele saiu porque quis, porque o futebol português ficou pequeno para ele e não julgo que os jogadores portistas dessa altura tivessem dado o estouro.

O grande problema do Chelsea era a instabilidade instalada de há uns tempos para cá, gerada pelo distanciamento entre Mourinho e Abramovich. Ficou sempre a ideia que o plantel não foi formado totalmente de acordo com a vontade de Mourinho e, parecendo que não, isso pesa no rendimento do colectivo. O russo achará que com o dinheiro que gasta, a sua equipa terá de jogar melhor futebol e o empate com o Rosenborg serviu apenas de pretexto para levar a sua avante. Pelo menos para mim, foi uma surpresa enorme, pois apesar de notar o ambiente pesado, não esperava este desfecho numa altura como esta. O Chelsea ficará a perder muito mais que Mourinho e isso confirmar-se-á no futuro.

Bruno Pinto disse...

Pedro, eu sempre estive um pouco dividido entre torcer por Ronaldo ou Mourinho. Agora, só dará Manchester United...

Algumas considerações mais:

- o Chelsea voltará agora a ser o clubezeco que sempre foi.

- Lampard e Terry (só para dizer alguns) não tardará muito para se irem embora.

- o Tottenham vai tentar contratar Mourinho mas não vai conseguir.

- o Mancini que se cuide, o Mourinho é uma paixão de longa data de Moratti.

- o que eu gostava mesmo era que ele fosse para o Real Madrid ou Barcelona, mas não será, para já, possível.

- Abramovich vai arrepender-se para o resto da vida.

- é utópico, mas Mourinho no lugar de Scolari é que era...

Anónimo disse...

Mourinho no lugar de Scolari era a loucura, Bruno. Mas para já ele não aceitaria com muita pena nossa! Olha que não descartaria o Tottenham...

Bruno Pinto disse...

Hoje, Mourinho foi a Stamford Bridge despedir-se dos 25 jogadores do plantel do Chelsea. Ao que tudo indica, terá abraçado emocionadamente 23 deles. Para os 2 restantes não terá sequer olhado para eles. É escusado referir quem são...

Anónimo disse...

Exacto! Obviamente os dois que lhes foram impingidos pelo russo... Não é difícil realmente

Filipe Soares disse...

As manifestações de descontentamento dos adeptos do Chelsea são elucidativas. Mourinho é um ídolo e antevejo tempos difíceis para o milionário mafioso e uma ruptura naquele balneáreo. Esta época está perdida para o Chelsea. No meio desta caldeirada toda, Mourinho é que se vai a ficar a rir, como de costume... Não duvidem...

Go José Mourinho, The Special One!!!

Anónimo disse...

Quando se prescinde de um treinador como José Mourinho está tudo maluco no futebol. O Chelsea tinha tudo para lutar pelo título inglês e pela Champions esta época. Começou mal mas logo iria dar a volta por cima. Agora vai ser uma grande incógnita e concordo quando se diz que aquele balneário ficará de rastos. Mourinho, esse, mais tarde ou mais cedo entrará em Espanha como um furacão! Quem fala dele para a selecção é porque não tem noção da realidade.

Anónimo disse...

É chegada a hora de o homem que se diz especial descer à Terra e dar-se conta que, provavelmente, não é tão bom como pensava que era. Com os milhões que tinha ao dispôr, a sua equipa jogava um futebol deplorável, com uma lógica resultadista irritante. Como os resultados começaram a ser maus, a rua era o caminho para ele. No lugar de Abramovich, tendo ali o meu dinheiro investido, teria feito o mesmo mas há mais tempo. Não sei se Mourinho agora tem tanto mercado como pensava...

quintarantino disse...

Mister Sérgio, não, não tem... têm o Ballack e o Schevchencko... e o Abramovich...

Gerson Sicca disse...

Mourinho poderia mudar de ares e vir para o Internacional, por um salário camarada!

Paulo Pereira disse...

Bem, penso k já tudo, ou quase tudo, foi analisado por vocês. Eu confesso sentir-me ainda angustiado, como uma criança a quem tiraram o seu brinquedo predilecto: sábados à tarde religiosamente guardados para o Chelsea. Só posso, claro, agradecer ao SPECIAL ONE por 3 anos fabulosos, intensos, em k vibrei com cada vitória, cada troféu, como se os mesmos fossem disputados pelo FCP. Tornei-me um fanático do Chelsea e, como kk adepto k se preze, só posso dizer e achar k os blues agora parecem-se com aquilo k Artur Jorge desabafou dum clube k dirigia: UM CIRCO!
Só assim se percebe o autêntico tiro no pé que o oligarca russo deu, ao entregar os destinos do seu milionário clube ao amigalhaço israelita, regiamente pago com 1 milhão/mês. Catastrófico? Penso k sim, se esta for a solução definitiva.
Recomendo a leitura de um blog do Chelsea, bastante bom a nível de qualidade (http://bluechampions.com/)e em que os comentários dos adeptos refletem exactamente isso: a inompreensão pela saída de quem tanto deu ao Chelsea.
A mim quer-me parecer que, depois de habituados ao caviar, vão voltar à sardinha não tarda nada.
Avram Grant, ao contrário do que dizem, não teve uma estreia de fogo. Muito pelo contrário. Ninguém lhe pediria, ao fim de 3 dias à frente do clube, k vencesse no campo do campeão em título. Afortunado foi o nov treinador pelo facto do jogo ter sido fora. Imaginam se o Chelsea, nesta ronda, jogasse em casa, com milhares de adeptos a entoar, durante 90 minutos, o habitual hino "José Mourinho"? Aposto k o russo desaparecia num instante...

Sérgio, cada um tem direito à sua opinião, mesmo k divergente, mas confesso k aguardava um pouco mais de inteligêcia dos habituais detractores de Mourinho. Já não há pachorra para tanto lugar-comum. Mourinho ganhou a sua aura no Porto, vencendo o k havia para vencer, sem ter os propalados milhões á sua disposição. Esse argumento do dinheiro não colhe, por vários motivos:
1º - Antes dele, tb Ranieri beneficiou do bolso sem fundo de Abramovich, com os resultados conhecidos;
2º - 20 anos à frente do MU valeram a Ferguson uma Liga dos Campeões, apesar dos milhões sempre disponíveis, como ficou patente esta época, em que gastou + de 100 milhões;
3º - Engraçado k os seus principais críticos, nessa questão, fechem os olhos a outros emblemas e outros técnicos, sempre cumulados de riqueza, como é o caso do Milão, Liverpool, do Real Madrid.
4º - Novamente ao contrário da tua linha de pensamento, motivada apenas pela má-fé vidente, Mourinho tem o mercado que quiser. Menos de 24 horas depois da saída, se quisesse, já estaria empregado num dos principais emblemas ingleses. O Tottenham tentou várias vezes, segundo notícias não desmentidas, a sua contratação. Se Mourinho quisesse, a selecção nacional seria sua, bastando para isso uma mera palavra nesse sentido. Logicamente k com o estatuto alcançado, Mourinho não embarcará na 1ª aventura que lhe apareça, querendo um projecto competitivo. E ai, estou com o Sérgio. Itália e Inter no horizonte, desde k Moratti seja lesto e não deixe os milaneses afundarem-se ainda mais...

Abraço,