
O FC Porto voltou à normalidade e venceu o Paços de Ferreira, no Dragão, por 2 - 0. O momento não era o melhor. Depois do empate em Vila do Conde, o FC Porto passou uma semana algo intranquila, sobretudo ao nível dos seus adeptos, que, por estarem habituados a ganhar compulsivamente, tornam-se demasiado exigentes e, por vezes, até irracionais. Não percebem que o FC Porto perdeu três jogadores cruciais em relação à época passada e é uma equipa em fase de remodelação e consolidação de processos colectivos, com vários jogadores novos e muitos deles já titulares, necessitando, portanto, de algum tempo para que atinjam o nível exibicional que Jesualdo Ferreira pretende.
Quando se ganha 3 - 1 ao Fenerbahçe, num jogo da Champions e, mesmo assim, se recebem assobios no próprio estádio, está tudo dito quanto ao elevadíssimo grau de exigência dos adeptos portistas. Por isso, depois do nulo e do desempenho cinzento defronte do Rio Ave, era expectável que as críticas destrutivas subissem de tom e se começasse, por um lado, a pedir a cabeça do treinador e, por outro, a depreciar o valor dos jogadores. O adepto de futebol é, por norma, uma pessoa pouco inteligente, que quer sempre bom futebol e que tende a analisar os jogos isoladamente, sem cuidar de os inserir no contexto vigente. Quando a vitória faz parte do seu quotidiano, essa pouca inteligência transforma-se em irracionalidade pura, que é aquilo de que padece uma grande parte dos adeptos do FC Porto. Querem sempre vitórias e grandes exibições, em casa e fora; o facto de muitos elementos serem jovens e estarem na primeira temporada no clube é para eles irrelevante. Enquanto portista, sou apologista da exigência, mas também da racionalidade, pelo que se deve exigir à equipa aquilo que ela pode dar em cada momento. O FC Porto não se tem exibido em grande nível, nem outra coisa era de esperar, mas tem conseguido bons resultados (a excepção foi a igualdade em Vila do Conde) e esse factor é o mais importante nesta fase.
FC PORTO - P.FERREIRA
Sobre o jogo, foi uma vitória justa, sem grande brilhantismo e com alguns períodos de futebol algo cinzento, que valeu essencialmente pela excelente entrada portista no encontro. Até ao belo golo apontado por Raúl Meireles, o caudal ofensivo azul e branco foi intenso e as jogadas nas imediações da área pacense sucederam-se. O FC Porto teve posteriormente novas oportunidades para dilatar a vantagem, das quais se destaca um falhanço de Lisandro, que continua muito perdulário neste início de época. Neste período de maior fulgor, Meireles foi o melhor elemento, comandando, na falta de Lucho, toda a organização ofensiva caseira, chegando perto da área adversária inúmeras vezes e assegurando a circulação da bola com sabedoria. Igualmente em bom plano estiveram Tomás Costa, Lisandro, Rodríguez e Lino.
A partir de determinada altura o FC Porto desacelerou e o jogo tornou-se monótono, lento e mal jogado. Esta quebra de qualidade prolongou-se pela segunda parte, razão pela qual o Paços conseguiu subir as suas linhas e ser mais incomadativo e pressionante, levando os portistas a falharem alguns passes nas transições e a jogar mais devagar. Helton sofreu então alguns calafrios, embora sem significado de maior. Os assobios fizeram-se ouvir nas bancadas do Dragão.
Sem nunca alterar o 4-3-3, Jesualdo Ferreira mexeu e bem na equipa, operando duas substituições em simultâneo que me pareceram totalmente acertadas. Candeias entrou para o lugar do inerte Farías - andou a dormir no relvado e, mais uma vez, não aproveitou uma oportunidade que lhe foi concedida -, o que fez Lisandro ocupar o centro do ataque. Sapunaru, displicente em alguns lances, justificou a saída, entrando Guarín para o miolo e gerando o recuo de Tomás Costa para lateral-direito. Por mim, nada a dizer, até porque Candeias se mostrou bastante activo (apesar de algumas perdas de bola) e Tomás Costa mostrou que pode ser uma alternativa bastante credível para jogar na lateral direita defensiva. Posiciona-se bem, é seguro em posse de bola e, não sendo muito rápido, tem bons pés e boa leitura, o que lhe pode permitir dar uma profundidade interessante ao flanco.
Mais tarde, a entrada de Hulk para o seu lugar de origem revitalizou a equipa, ao mesmo tempo que preservou Lisandro para o jogo com o Arsenal. O FC Porto partiu então para uma parte final um pouco melhor, com mais algumas oportunidades de golo e controlando mais calmamente os movimentos do Paços. Excelente golo do 'Incrível', a culminar uma magnífica combinação com Meireles.
O DESAFIO LONDRINO
Para o jogo de Londres, estou em crer que o sistema portista será o 4-1-4-1 utilizado na Luz, com Fernando a pivot-defensivo, Tomás Costa a médio-ala direito, Rodríguez no flanco oposto, Lucho e Meireles na faixa central e Lisandro na frente. Dependendo da dinâmica que os jogadores conseguirem imprimir a esta configuração táctica, à partida mais conservadora, parece-me ser uma excelente aposta para conseguir um bom resultado no Emirates Stadium. Como se sabe, o FC Porto controlou grande parte do jogo com o Benfica e o Arsenal joga, tal como os encarnados, em 4-4-2 clássico.
O Arsenal é uma grande equipa, tem jogadores de indubitável qualidade (Fabregas, Walcott, Van Persie, Adebayor...) mas não chegam para assustar, como demonstrou o Hull City no último jogo da Premier League. O segredo passará por conseguir fazer uma pressão efectiva ao portador da bola, que impossibilite de algum modo o futebol curto e de trocas de bola constantes tão característico dos 'gunners'. Se isto não acontecer, o FC Porto pode vir a passar um mau bocado. Deve haver muita atenção aos corredores laterais dos londrinos, sendo uma das principais preocupações não dar espaço de embalo ao supersónico Walcott, que previsivelmente actuará no lado direito (nunca colocaria Lino como lateral-esquerdo). Ao mesmo tempo, Tomás Costa e Rodríguez devem vigiar bem de perto as constantes subidas de Sagna e Clichy. Se tudo for como espero, o FC Porto poderá conseguir ter superioridade numérica no miolo, com Fernando, Meireles e Lucho para Fabregas e Denilson, algo que significará uma crucial vantagem, especialmente se Lucho se conseguir libertar para o espaço vazio entre-linhas concedido pelo Arsenal. Lisandro, se mantiver a capacidade de luta habitual, será importante para fixar os dois centrais em terrenos recuados, não deixando que nenhum suba com a bola dominada e pronto a criar desequilíbrios, fundamentalmente Gallas, que é perito nessas situações.
Isto no papel é tudo muito simples, algo que, por vezes, a prática vem desmentir. O factor de maior importância será, quanto a mim, a dinâmica que o FC Porto conseguir impor e a mentalidade com que entrar no imponente Emirates. Será fundamental, numa primeira fase, contrariar o jogo de posse de bola e constante movimentação dos londrinos, para que, numa fase posterior, se possa começar a pensar em chegar com perigo à baliza de Almunia, algo perfeitamente possível, se Lucho, Meireles, Rodríguez e Lisandro estiverem na plenitude das suas faculdades e mentalizados para vencer. Para que isto se verifique, será vital que o FC Porto se estenda bem no campo e consiga pressionar longe da sua baliza, porque senão pode ser a morte do artista. Colocar um 'autocarro' cá atrás e esperar passivamente pelo Arsenal, deixando-se envolver na sua teia atacante, será como dar um tiro na própria cabeça. Estou convencido que, desta vez, o FC Porto não vai perder no Emirates. Terça-feira se verá.