quinta-feira, 3 de maio de 2007

BANHO DE FUTEBOL


MILAN - MANCHESTER UNITED 3 - 0
Liga dos Campeões 2006-07 (1/2 Final - 2ª Mão)
2 de Maio de 2007
Estádio Giuseppe Meazza (Milão)
Árbitro: Frank De Bleeckere (Bélgica)
Milan: Dida; Oddo, Nesta, Kaladze, Jankulovski; Pirlo, Gattuso (Cafú 84'), Ambrosini, Seedorf; Kaká (Favalli 86'), Filippo Inzaghi (Gilardino 67'). Tr: Carlo Ancelotti
Manchester United: Van der Sar; O'Shea (Saha 77'), Brown, Vidic, Heinze; Carrick, Scholes, Fletcher; Cristiano Ronaldo, Rooney, Giggs. Tr: Alex Ferguson
Ao intervalo: 2 - 0
Marcadores: 1 - 0 Kaká 10', 2 - 0 Seedorf 28', 3 - 0 Gilardino 78'
CA: Ambrosini 75', Gattuso 81', Cristiano Ronaldo 84'


À semelhança do sucedido na temporada 2004-05, Milan-Liverpool será a final da Liga dos Campeões, em Atenas. Ontem em San Siro, o Milan vulgarizou por completo o Manchester United no segundo jogo das meias-finais e triunfou por concludentes 3 - 0, garantindo assim a possibilidade de desforra frente ao Liverpool no jogo mais aguardado do ano. Kaká superou Cristiano Ronaldo no duelo particular entre ambos, tendo inclusivé sido a grande figura da eliminatória.

O jogo foi estranho. O Milan deu um autêntico banho de bola à formação inglesa, praticamente durante quase toda a partida. Cedo se percebeu qual a tendência do jogo: milaneses dominadores, senhores da bola, instalados no meio-campo contrário, trocando a bola e ameaçando de perto a baliza de Van der Sar, perante a total e incompreensível passividade dos jogadores do United. Foi sem surpresa que Kaká inaugurou o marcador logo aos 10 minutos, num bom remate de pé esquerdo. Tendo perdido por 3 - 2 fora de casa, com este resultado o Milan já estava em vantagem na eliminatória, mas não foi este facto que cambiou o cariz do encontro. Os homens de Ancelotti continuaram tranquilamente a dominar as operações, daí que o segundo golo fosse apenas uma questão de tempo. Após uma infantilidade defensiva de Heinze e Vidic, Seedorf fez o 2 - 0 e deu maior justiça ao 'placard', tal era a superioridade do conjunto italiano.

Até ao intervalo o domínio caseiro continuou intenso e mais golos poderiam ter acontecido, não fossem algumas intervenções de mérito de Van der Sar. Uma primeira parte de sonho para o Milan e de pesadelo para o United. Cristiano Ronaldo foi bem anulado pelo sistema montado por Ancelotti, que fez incidir Gattuso sobre o seu raio de acção, além da normal marcação do lateral, ora direito ora esquerdo. Manteve-se bem discreto ao longo dos 90 minutos e nem de livre directo logrou alvejar a baliza de Dida. Por seu turno, Kaká teve todo o tempo e espaço do mundo para pensar as jogadas, não tendo havido um único jogador que apertasse com o brasileiro. Livre de estorvo, Kaká pegou na batuta e lançou a equipa sempre para o ataque, ora com passes teleguiados, ora com acelerações esporádicas.

Após o descanso, a vergonhosa falta de capacidade de resposta dos ingleses manteve-se e o desânimo começou a ser cada vez maior. Precisando de dois golos, seria de esperar maior espírito de luta, mesmo ao nível do banco, face àquilo que ía sucedendo no relvado. A verdade é que Alex Ferguson denotou igualmente uma confrangedora inépcia, a tal ponto de apenas ter feito a primeira e única substituição aos 77 minutos! É porque estava contente com a actuação da equipa e com o resultado. De facto, apesar de o Manchester United ter surgido no segundo tempo com mais posse de bola, nunca conseguiu criar grandes situações de perigo.

Pelo contrário, o Milan atacava agora pela certa e dava a ideia de poder ampliar a vantagem a qualquer instante. Kaká deu o aviso numa magnífica jogada individual, valendo o guardião Van der Sar a salvar a situação com uma bela defesa. Numa pura jogada de contra-ataque, aproveitando o adiantamento desesperado dos jogadores ingleses, Ambrosini isolou Gilardino com um sensacional passe, que fixou o resultado final em 3 - 0. Até ao final, o que de mais relevante aconteceu foi mesmo o cartão amarelo exibido a Cristiano Ronaldo, já na fase da frustração da derrota em tão importante desafio, que o retiraria do jogo decisivo caso o United se tivesse qualificado.

Foram três, poderiam ter sido quatro, cinco, seis... O Milan dominou o encontro como quis e não encontrou oposição à altura de um semifinalista da Champions. O Manchester United foi uma tremenda decepção e demonstrou uma debilidade que ninguém esperava, tendo transformado um possível jogo empolgante em algo monótono, sem brilho nem chama. Desiludiu todos os adeptos de futebol, nomeadamente aqueles que o apoiavam para chegar à final, como eu.

No mano-a-mano entre Kaká e Cristiano, levou claramente a melhor o brasileiro, mas quem percebe de futebol e opina com imparcialidade, deverá reconhecer que o vento soprou a favor do milanês, tais foram a facilidade e liberdade encontradas neste embate de San Siro. Já o português deparou-se sempre com inúmeras dificuldades em lutar contra o vendaval italiano, tendo sofrido a marcação de dois e, até por vezes, três (!) adversários. Muito mais adultos tacticamente, os italianos não deram hipóteses a um conjunto bem mais limitado nesse como noutros aspectos, nomeadamente, capacidade técnica, inteligência de jogo, leitura desde o banco e vontade de ganhar. Para quem disse, antes desta eliminatória, que Ronaldo tinha maiores oportunidades de brilhar do que Kaká, em virtude de estar integrado numa equipa superior, este jogo provou exactamente o contrário. Depois desta eliminação do madeirense, a tónica tem sido exaltar Kaká a um nível superior ao do português, como se a qualidade de um jogador dependesse apenas de um só jogo. Já não há paciência para esta constante perseguição a Cristiano Ronaldo. No entanto, só os predestinados são alvo deste tipo de invejas incessantes e há que ver as coisas sempre numa perspectiva positiva.

O meu desejo para o jogo decisivo não se concretizou e as minhas previsões saíram furadas. Milan-Liverpool é então a final da Liga dos Campeões 2006-07, disputada por dois dos emblemas com melhor historial na prova: 6 vitórias em 10 finais para o Milan, 5 triunfos em 6 finais para o Liverpool. Esta será a 11ª para os milaneses e a 7ª para os 'reds'. Em Atenas, que ganhe o Liverpool.

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