sábado, 14 de abril de 2007

ASSIM NÃO, BENFICA!


No futebol tudo muda muito rapidamente. Há poucos dias andavam os adeptos benfiquistas cheios de confiança na sua equipa, com a ilusão de poderem conquistar a 1ª Liga e a Taça UEFA, e agora tudo parece ter-se desmoronado num abrir e fechar de olhos. Depois do empate do FC Porto na Luz o entusiasmo acalmou mas a esperança em chegar ao primeiro lugar manteve-se intacta. O empate em Aveiro veio na pior altura e pôs a descoberto algumas debilidades encarnadas, não só em termos de produção de jogo, como também a nível mental. É nas alturas decisivas, de maior carga emocional, que emergem os verdadeiros campeões e os jogadores do Benfica não foram capazes de capitalizar a motivação automática de estar a um ponto da liderança na obtenção da vitória.

A três pontos do FC Porto, matematicamente tudo ainda é possível, mas sinceramente não estou a ver a formação de Jesualdo Ferreira a tremer o suficiente para escorregar duas vezes. Mesmo nessa hipótese, também não me parece que os homens de Fernando Santos vençam todos os jogos restantes. Analisando os factos com realismo, embora não seja aceitável que se desista de lutar pelo objectivo primordial da época enquanto ele fôr possível, a conquista do título pelo Benfica pode ter ficado hipotecada em Aveiro.

O que restava então? A Taça UEFA. A precisar de apenas um golo para ultrapassar o Espanhol, o Benfica só tinha de batalhar com toda a força para não correr o risco de ficar com a época em branco. Mais uma vez, claudicou quando não o podia fazer. E confesso que é triste ver um dos grandes clubes portugueses ser eliminado por uma equipa perfeitamente vulgar, sem qualidade por aí além. A partir do momento em que se soube que o Espanhol era o adversário, era de exigir que o Benfica chegasse às meias-finais e lutasse pelo triunfo na prova, aí sim, com opositores mais fortes (Werder Bremen, Sevilha e Osasuna) e susceptíveis de poderem eliminar os encarnados sem causar estupefacção.

O Benfica tinha obrigação de 'arrumar' com o Espanhol. Mesmo com aquelas duas bolas no poste da baliza catalã. Mesmo que o árbitro tivesse assinalado aquele penalty escandaloso a poucos minutos do fim a favor dos espanhóis. Mesmo com Simão tão desinspirado durante os 90 minutos e Rui Costa tão cansado na segunda parte. Mesmo que o remate de Pandiani tivesse ido lá para dentro em vez de bater no poste. Mesmo que o Estádio da Luz estivesse às moscas. Era o dever de Fernando Santos ordenar uma entrada a todo gás e não esbanjar toda a primeira parte sabe-se lá porquê.

Os benfiquistas têm vivido toda a temporada nesta incerteza, nunca sabem o que vai sair da sua equipa. Ora vivem no entusiasmo porque vêem o Benfica a render e a jogar em grande estilo (vitória em Alvalade, em Leiria, em casa com o Celtic, por exemplo), ora ficam deprimidos porque assistem a derrotas comprometedoras e/ou exibições paupérrimas (derrota em Glasgow, em Braga, estes dois empates recentes que citei, etc).

Todas as equipas atravessam ciclos ao longo de uma época, passando por fases positivas, outras negativas. Veja-se o caso do FC Porto: começou sem convencer mas ganhando, teve uma fase mã que coincidiu com as derrotas diante de Arsenal e Braga, catapultou-se para um período ascencional com vitórias atrás de vitórias até ao Natal, quebrou novamente em 2007 talvez devido à longa paragem natalícia e agora parece estar de novo em bom momento, quiçá para manter até ao fim da época. O Sporting também andou em altos e baixos: começou muito bem, teve o ponto negro nas duas derrotas caseiras consecutivas frente a Benfica e Spartak Moscovo, continuou durante algum tempo sem convencer e agora parece querer acabar a época em recuperação, tendo ainda a Taça de Portugal como meta. Já o Benfica é diferente, não é de ciclos. É capaz do pior num jogo, do melhor no jogo a seguir e de voltar ao fundo imediatamente. Até, por vezes, no mesmo jogo, tem alterações abismais de rendimento, ora muito bom, ora muito mau. Isto é típico de um conjunto com fraca atitude mental, onde não existe absoluto controlo sobre a parte psicológica, factor pelo qual o treinador tem de ser responsável.

Na hora da verdade, quando tudo se decide, o Benfica tem falhado em toda a linha, bem à semelhança do Sporting de José Peseiro em 2005. Peseiro não teve, por esse facto, oportunidade de continuar o seu trabalho; Fernando Santos talvez tenha essa hipótese e, quanto a mim, a continuidade é o caminho a seguir. Mas na próxima temporada ninguém vai admitir o seu discurso tão repetido, segundo o qual os jogadores se perdem no campo após sofrerem um golo, não têm ânimo suficiente para dar a volta a um resultado e coisas do género (é verdade que na Catalunha responderam bem aos 3 - 0, mas o facto é que não chegou). Se eles se perdem, a responsabilidade é do seu treinador, já que a vertente mental, onde se engloba motivação, personalidade, tranquilidade em momentos de pressão, capacidade de resposta às adversidades, depende da mensagem que lhes é passada pelo líder técnico todos os dias. Claro que isto falado é muito mais simples que executado, mas eu também não recebo dezenas de milhares de euros por mês!

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