quarta-feira, 11 de abril de 2007

CHELSEA EM GRANDE


VALÊNCIA - CHELSEA 1 - 2
Liga dos Campeões 2006-07 (1/4 Final)
10 de Abril de 2007
Estádio Mestalla (Valência)
Árbitro: Kyros Vassaras (Grécia)
Valência: Cañizares; Miguel, Ayala, Moretti, Del Horno; Albelda, Albiol (Hugo Viana 70'), Joaquín, David Silva; David Villa, Morientes (Angulo 64'). Tr: Quique Flores
Chelsea: Cech; Diarra (Joe Cole 46'), Terry, Ricardo Carvalho, Ashley Cole; Obi Mikel, Essien, Ballack, Lampard (Makelele 90'+2'); Drogba, Shevchenko (Kalou 90'+1'). Tr: José Mourinho
Ao intervalo: 1 - 0
Marcadores: 1 - 0 Morientes 32', 1 - 1 Shevchenko 51', 1 - 2 Essien 90'
CA: Essien 3', Ballack 20', Del Horno 44', Aldelda 50', Ayala 60', Moretti 61'


O Chelsea está nas meias-finais da Liga dos Campeões. Depois do desconfortável empate em Stamford Bridge há uma semana, os pupilos de José Mourinho foram a Espanha derrotar o Valência por 2 - 1, com o golo decisivo a ser obtido sobre o minuto 90. Goste-se ou não do estilo, o Chelsea continua a ser uma equipa temível e tremendamente pragmática, com uma capacidade acima da média para gerir as emoções dos grandes momentos e controlar todas as vertentes do jogo, mesmo em desvantagem. Apesar de todas as críticas de que tem sido alvo durante esta época, a turma londrina está entre as quatro melhores equipas da Europa, graças a uma exibição plena de calculismo e auto-confiança, em que aniquilou o adversário no momento certo e de forma quase cruel. É isto o Chelsea de Mourinho de 2006-07, longe de ser um regalo para a vista, mas o protótipo da equipa adulta, que sabe tudo o que tem de fazer no relvado para sair com a vitória. E Mourinho, paulatinamente, lá vai continuando a calar algumas bocas.

Com o ambiente a fervilhar nas bancadas, o jogo começou táctico, com as equipas a estudarem-se mutuamente e sem correr grandes riscos, embora os valencianistas se mostrassem mais subidos no terreno e com mais posse de bola. A partir dos 15 minutos, os 'blues' começaram a ter mais iniciativa de jogo e mais bola, mas dada a intensa pressão espanhola logo à saída do meio-campo, os médios ingleses nunca conseguiram 'agarrar' o jogo nem dar profundidade ao ataque. Só em alguns cantos apontados invariavelmente por Lampard e quase sempre ganhos nas alturas pelos homens do Chelsea, o perigo rondou a baliza de Cañizares, com Ricardo Carvalho, Ballack e Shevchenko a desperdiçarem boas oportunidades.

A partir da meia-hora, e sempre com o Chelsea a não encontrar soluções para, de bola corrida, causar embaraços à defesa da casa, o conjunto de Quique Flores começa a tornar-se mais atrevido e a lançar alguns ataques rápidos sempre que recuperava a bola, com Silva e Joaquín a serem as 'setas' de serviço. Depois de num desses ataques, Morientes já ter ameaçado com um explosivo remate ao poste, o ponta-de-lança espanhol chegou mesmo ao golo. Na sequência de uma investida pela direita seguida de cruzamento de Joaquín, Morientes bateu Cech de pé esquerdo, apontando o seu sexto golo na presente edição da Champions. O mesmo Morientes logo a seguir podia ter feito o segundo, sendo esta a melhor fase do Valência em todo o jogo, em que, à maior mas inconsequente posse de bola londrina, respondia com pressão sufocante e velocidade na transição atacante. Drogba ainda teve na cabeça a melhor oportunidade da sua equipa na primeira parte, mas Cañizares respondeu com uma fabulosa defesa. Apesar deste fogacho, o Valência chegou ao intervalo claramente na mó de cima e tornava-se evidente que José Mourinho tinha que fazer alguma coisa para mudar o curso do jogo e da eliminatória.

Para a segunda parte, não se estranhou portanto que Mourinho procedesse a uma alteração no sentido de dar mais velocidade e imaginação ao ataque: retirou o desastrado Diarra, fazendo entrar o criativo Joe Cole para médio ofensivo vagabundo, passando Essien para lateral direito. O efeito positivo foi imediato. Joe Cole trouxe as mudanças de ritmo necessárias para colocar os espanhóis em sentido. O golo de Shevchenko, resultante de um ressalto, logo nos primeiros minutos também ajudou, diga-se, o Chelsea a baixar os níveis de ansiedade e a jogar um futebol mais personalizado e seguro. Na altura em que aconteceu, este golo pode ter parecido injusto face ao que até aí sucedera, mas a verdade é que o Chelsea daí em diante fez por merecer a fortuna que lhe calhou. Visivelmente mais fresco e com um andamento muito superior, passou a dominar o encontro por completo, instalando-se no meio terreno caseiro e revelando-se sempre mais rápido sobre a bola. O défice físico do Valência era evidente e a sua incapacidade para pressionar e sair em contra-ataque quase total. Depois de Drogba já ter tentado o golo com um bom remate, Angulo teve nos pés a única situação de golo do Valência no segundo tempo, mas o seu pontapé saiu ligeiramente ao lado do poste. Um oásis no deserto, já que o Chelsea continuou a dominar todas as acções do jogo. Aos 84 minutos, após uma cabeçada de Ballack no seguimento de um livre de Lampard (pois claro!), Cañizares fez uma defesa monstruosa e adiou por mais alguns minutos a festa azul.

O espectro do prolongamento já pairava sobre o Mestalla, mas o Chelsea revelando uma competitividade e maturidade impressionantes, conseguiu fazer o golo que lhe deu o apuramento exactamente aos 90 minutos (remate cruzado de Essien, uma máquina adaptável a qualquer posição), matando desde logo qualquer esboço de reacção adversária, pois seriam precisos dois golos para o Valência seguir em frente. Qual 'serial killer', a formação de Mourinho demonstrou mais uma vez um espírito matador e um cinismo insuperáveis; os jogadores do Chelsea, esses, mostraram, para quem quiser ver, de que massa são feitos os verdadeiros campeões. De José Mourinho nem vale a pena dizer nada; contra todos os seus detractores, continua 'tranquilamente' a somar resultados e a espalhar classe e cultura de vitória. É isto o Chelsea de Mourinho! E Atenas já esteve mais longe.

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