O despedimento de Carlos Brito do Nacional fez-me reforçar uma ideia na qual já tinha pensado várias vezes. Existe projectos no futebol em Portugal? As direcções dos clubes têm ideias claras do que pretendem desportivamente para o futuro? Contratam-se treinadores como meros dependentes de resultados ou tem-se uma visão mais ampla, em que nunca se foge à responsabilidade da escolha técnica que foi feita?
Não percebo como, num clube como o Nacional, se despede um treinador que estava no oitavo lugar, numa situação perfeitamente tranquila e que, com um pouco de sorte, poderia até colar-se aos lugares europeus. Será que Rui Alves estava à espera de melhor, num clube que possui um estádio sem dignidade até para a Liga de Honra e que obviamente não deve nadar em dinheiro? Mesmo que a vontade fosse mudar de rumo, não seria mais honroso esperar pelo fim da época? Não percebo o que vai na cabeça destes dirigentes. Talvez a ideia seja dar ao novo líder Jokanovic a possibilidade de começar desde já a preparar 2007-08, mas convém ao sérvio não chegar a cinco jornadas do fim apenas em oitavo lugar! Se há ali projecto ou não, tenho dúvidas, mas que a ambição parece ser ilimitada e a responsabilidade de eventuais fracassos cai apenas em cima do treinador, isso é cem por cento seguro.
Foi o 14º capítulo da 'dança de treinadores' desta temporada. Adriaanse e Jesualdo foram casos excepcionais. O português rendeu o holandês no FC Porto, devido a sérias incompatibilidades deste com presidente e jogadores, entrando Petrovic no Boavista, também ele substituído pouco depois por Jaime Pacheco - aqui parece-me que o erro não foi despedir o sérvio, mas sim tê-lo contratado. Hélio Sousa foi chicoteado do Setúbal após derrota europeia caseira com o Heerenveen e apenas com duas jornadas disputadas na liga. Com um dos piores plantéis do campeonato, empatou na 1ª jornada e perdeu na 2ª, fora de casa, além da tal derrota para a UEFA com um adversário bem mais forte. Ora que justificação se encontra para uma situação destas? Que tempo foi dado a Hélio para desenvolver o seu trabalho? Para o seu lugar foi escolhido António Conceição, que resistiu até à 13ª jornada e foi, por sua vez, rendido por Carlos Cardoso, que dificilmente continuará na próxima temporada... Quando Carvalhal abandonou o Braga por motivos de índole pessoal, António Salvador fez recair a sua opção sobre Rogério Gonçalves, técnico arsenalista apenas durante nove jornadas e, de imediato, despedido em favor de Jorge Costa. Se o rumo era este, porque não se contratou logo o ex-capitão portista e se deixou Rogério Gonçalves continuar o trabalho até então magnífico na Naval? Domingos, que seguia com o seu U.Leiria em oitavo posto e era visto como uma revelação positiva enquanto técnico, foi 'corrido' à 22ª jornada, tendo o seu adjunto Paulo Duarte sido promovido a principal. Não me parece muito seguro que se mantenha na época próxima. Na jornada 23, foi Ulisses Morais a ser dispensado do Marítimo, quando seguia numa posição tranquila; a mais não era obrigado com os recursos humanos escassos que tinha à sua disposição. Para o cargo técnico madeirense foi encontrado Alberto Pazos, um espanhol de segunda ou terceira, à semelhança de Francisco Soler, o também espanhol sortudo que arranjou emprego no Beira Mar (se há coisa que os espanhóis não são superiores a nós é a nível de treinadores de futebol, bem pelo contrário, não sendo sequer necessário contar com José Mourinho).
Como se todos estes fenómenos já não bastassem para concluirmos que certos dirigentes andam no futebol sem rumo, sem objectivos concretos, sem projectos, tinha de vir agora também o presidente do Nacional despedir Carlos Brito, que estava a fazer talvez mais do que aquilo a que era, em rigor, obrigado. É triste...
3 comentários:
Caro Bruno, gostei muito do seu blog. Muito bom mesmo. Como apreciador de futebol, convido-o a ver o meu: www.rola-bola.blogspot.com
Espero que goste e continue o bom trabalho
Tens cara de PUTA !!!
Aprendi muito
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